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“Se não garantirmos a neutralidade da rede agora, ela será quebrada”, diz Sérgio Amadeu em audiência sobre marco civil
Por Felipe Bianchi - Centro de Estudos Barão de Itararé
A audiência pública em torno do Marco Civil da Internet reuniu
parlamentares, acadêmicos e representantes da sociedade civil para
debater o tema neste sábado (26), durante o 3º Encontro Nacional de
Blogueiros, em Salvador. Considerada pelos debatedores “uma das
legislações mais avançadas do mundo”, os participantes do encontro puderam dar suas contribuições no debate.
Audiência pública sobre marco civil da internet
Para Sérgio Amadeu, representante do terceiro setor no Comitê Gestor
da Internet no Brasil (CGI.br), o desafio do Marco Civil é “garantir a
privacidade em uma sociedade de rastros digitais”. A questão da guarda
de logs e a neutralidade da rede foram os pontos que geraram mais
discussão. “Além de ferir a liberdade de expressão e de navegação, a
quebra da neutralidade da rede vai mudar a inovatividade e a lógica de
criação da Internet”, diz. Apesar de o documento definir o conceito de
neutralidade da rede, a queixa de Sérgio Amadeu, de Renata Mielli, do
Barão de Itararé e da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) é que o texto
prevê uma regulamentação posterior específica para o ponto. “A Internet
não pode ser que nem os Correios, onde quem paga mais tem o serviço mais
rápido”, afirma Mielli.
De acordo com a jornalista, um setor da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) propõe a privatização de todo o serviço de
telecomunicações. “Se o Marco Civil não garantir a neutralidade da rede,
a regulamentação ficará a cargo de quem? Da Anatel?”, questiona. Na
avaliação de Amadeu, ou aprovamos a neutralidade da rede agora ou
quebramos a neutralidade da rede. “Para atender à criatividade e à
liberdade de navegação, não é razoável que a operadora filtre ou
bloqueie o tráfego de conteúdos”, justifica o pesquisador. Renata Mielli
também provocu a discussão acerca da guarda de logs, outra questão que
gera polêmica na regulação da Internet. “Guardar registros é garantir a
segurança do usuário? Inverter o princípio constitucional da presunção
da inocência não é a resposta”, afirma.
Amadeu endossou o coro: determinar que todos os prestadores de
serviçoes guardem todos os logs de acesso – afirmou – não é razoável.
“Os internautas são inocentes até que se prove o contrário”, diz.
Jandira Feghali também se manifestou a favor da regulamentação da
neutralidade da rede no Marco Civil da Internet. Quanto à questão da
segurança e da privacidade, a deputada acredita que “é preciso encontrar
uma saída para as contradições expostas na audiência”. Segundo ela, há
contradições tanto no texto quanto em conceitos. “Ao invés de
‘incentivar o uso da Internet’, devemos fortalecer o conceito da
universalização”, opina.
Contribuições acadêmicas
Além de Sérgio Amadeu, os professores André Lemos e Wilson Gomes, da
Universidade Federal da Bahia, também participaram do seminário. Lemos
ressaltou a natureza “colaborativa e aberta” para defender o princípio
de neutralidade da rede. “Não podemos cercear as formas de comunicação,
produção e compartilhamento próprias da Internet. A Internet não pode se
transformar em um serviço como o da TV a cabo”, afirma. Para Lemos, o
Marco Civil estabelece princípios adequados para garantir a liberdade na
Internet.
Wilson Gomes destacou a finalidade do documento: “A Internet muda
muito rápido, o que torna a regulamentação complicada. O Marco Civil
estabelece diretrizes gerais”. Como contribuição, Gomes propôs legisção
contra discursos de ódio, que firam grupos minoritários, como
manifestações racistas e homofóbicas”.
Processo democrático
O deputado João Arruda (PDMB-PR), presidente da Comissão Especial
formada pela Câmara para debater o Marco Civil da Internet, destacou as
ferramentas de participação popular na construção do documento. “A
Internet influencia a vida pública e estimula a participação política. É
uma ferramenta pública”, diz. O Portal e-Democracia, da Câmara,
transmitiu o debate ao vivo e os participantes puderam enviar suas
contribuições pelo chat.
O deputado Alessandro Molon, (PT-RJ), relator do Marco Civil da
Internet, também ressaltou o processo democrático de elaboração do
projeto. “Além de recebermos contribuições pelo e-Democracia e pelo
Twitter, estamos realizando diversos seminários pelo Brasil, para
ouvirmos as sugestões presencialmente”. O III Encontro de Blogueiros ocorreu até domingo (27) e discutiu questões relacionadas à blogosfera,
liberdade na Internet e liberdade de expressão.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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