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Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos esclarece o que está em jogo na Rio+20
Publicado em 23.05.12
Pela unidade e a mobilização do
povos, em defesa da vida e dos bens comuns, justiça social e
ambiental, contra a mercantilização da natureza e a “economia verde”
A um mês da conferência das Nações Unidas
Rio+20, os povos do mundo não veem resultados positivos no processo de
negociação que está ocorrendo na conferência oficial. Ali não se está
discutindo um balanço do cumprimento dos acordos alcançados na Rio 92,
ou como mudar as causas da crise. O foco da discussão é um pacote de
propostas enganosamente chamado de “economia verde” e a instauração de
um novo sistema de governo ambiental internacional que o facilite.
A verdadeira causa estrutural das múltiplas crises é o capitalismo,
com suas formas clássicas e renovadas de dominação, que concentra a
riqueza e produz desigualdades sociais, desemprego, violência contra o
povo e a criminalização de quem os denuncia. O sistema de produção e o
consumo atual – representados por grandes corporações, mercados
financeiros e os governos que garantem sua manutenção – produzem e
aprofundam o aquecimento global e a crise climática, a fome e a
desnutrição, a perda de florestas e da diversidade biológica e
sócio-cultural, a contaminação química, a escassez de água potável, a
desertificação crescente dos solos, a acidificação dos mares, a grilagem
de terras e a mercantilização de todos os aspectos da vida nas cidades e
no campo .
A “economia verde”, ao contrário do que o seu nome sugere, é outra
fase da acumulação capitalista. Nada na “economia verde” questiona ou
substitui a economia baseada no extrativismo de combustíveis fósseis,
nem os seus padrões de consumo e produção industrial. Essa economia
estende a economia exploradora das pessoas e do ambiente para novas
áreas, alimentando assim o mito de que é possível o crescimento
econômico infinito.
O falido modelo econômico, agora disfarçado de verde, pretende
submeter todos os ciclos vitais da natureza às regras do mercado e ao
domínio da tecnologia, da privatização e da mercantilização da natureza e
suas funções. Assim como dos conhecimentos tradicionais, aumentando os
mercados financeiros especulativos através dos mercados de carbono, de
serviços ambientais, de compensações por biodiversidade e o mecanismo
REDD+ (Redução de emissões por desmatamento evitado e degradação
florestal).
Os transgênicos, os agrotóxicos, a tecnologia Terminator, os
agrocombustíveis, a nanotecnologia, a biologia sintética, a vida
artificial, a geo-engenharia e a energia nuclear, entre outros, são
apresentados como “soluções tecnológicas” para os limites naturais do
planeta e para as múltiplas crises, sem abordar as causas verdadeiras
que as provocam.
Além disso, se promove a expansão do sistema alimentício
agroindustrial, um dos maiores fatores causadores das crises climáticas,
ambientais, econômicas e sociais, aprofundando a especulação com os
alimentos. Com isso se favorece os interesses das corporações do
agronegócio em detrimento da produção local, campesina, familiar, dos
povos indígenas e das populações tradicionais, afetando a saúde de
todos.
Como uma estratégia de negociação na conferência Rio+20, alguns
governos de países ricos estão propondo um retrocesso dos princípios da
Rio 92, como o princípio de responsabilidades comuns e diferenciadas, o
princípio da precaução, o direito à informação e participação. Estão
ameaçados direitos já consolidados, como os dos povos indígenas e
populações tradicionais, dos camponeses, o direito humano à água, os
direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, dos imigrantes, o direito à
alimentação, à habitação, à cidade, os direitos da juventude e das
mulheres, o direito à saúde sexual e reprodutiva, à educação e também os
direitos culturais.
Está se tentando instalar os chamados Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) que serão utilizados para promover a “economia verde”,
enfraquecendo ainda mais os já insuficientes Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM).
O processo oficial propõe estabelecer formas de governança ambiental
mundial que sirvam como administradores e facilitadores desta “economia
verde”, com o protagonismo do Banco Mundial e outras instituições
financeiras públicas ou privadas, nacionais e internacionais, que irão
incentivar um novo ciclo de endividamento e ajustes estruturais
disfarçados de verde. Não pode existir governança global democrática sem
terminar com a atual captura corporativa das Nações Unidas.
Repudiamos este processo e conclamamos todos para que venham
fortalecer as manifestações e construções de alternativas em todo o
mundo.
Lutamos por uma mudança radical no atual modelo de produção e
consumo, consolidando o nosso direito para nos desenvolvermos com
modelos alternativos com base nas múltiplas realidades e vivências dos
povos, genuinamente democráticas, respeitando os direitos humanos e
coletivos, em harmonia com a natureza e com a justiça social e
ambiental.
Afirmamos a construção coletiva de novos paradigmas baseados na
soberania alimentar, na agroecologia e na economia solidária, na defesa
da vida e dos bens comuns, na afirmação de todos os direitos ameaçados, o
direito à terra e ao território, o direito à cidade, os direitos da
natureza e das futuras gerações e a eliminação de toda forma de
colonialismo e imperialismo.
Conclamamos todos os povos do mundo a apoiarem a luta do povo
brasileiro contra a destruição de um dos mais importantes quadros legais
de proteção às florestas (Código Florestal), o que abre caminhos para
mais desmatamentos em favor dos interesses do agronegócio e da
ampliação da monocultura; e contra a implementação do mega projeto
hidráulico de Belo Monte, que afeta a sobrevivência e as formas de vida
dos povos da selva e a biodiversidade amazônica.
Reiteramos o convite para participação na Cúpula dos Povos que se
realizará de 15 a 23 de junho no Rio de Janeiro. Será um ponto
importante na trajetória das lutas globais por justiça social e
ambiental que estamos construindo desde a Rio-92, particularmente a
partir de Seattle, FSM, Cochabamba, onde se têm catapultado as lutas
contra a OMC e a ALCA, pela justiça climática e contra o G-20. Incluímos
também as mobilizações de massa como Occupy, indignados, a luta dos
estudantes do Chile e de outros países e a primavera árabe.
Convocamos todos para que participem da mobilização global de 5 de
junho (Dia Mundial do Ambiente); da mobilização do dia 18 de
junho, contra o G20 (que desta vez se concentrará no
“crescimento verde”) e na marcha da Cúpula dos Povos, no dia 20 junho,
no Rio de Janeiro e no mundo, por justiça social e ambiental, contra a
“economia verde”, a mercantilização da vida e da natureza e em
defesa dos bens comuns e dos direitos dos povos.
Rio de Janeiro, 12 de maio de 2012
Grupo de Articulação Nacional e Internacional da Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental*.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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