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Descompasso na comunicação: texto de Beto Almeida sobre mídia na América Latina
Publicado em 10.05.12 - Por Beto Almeida Há
um processo de mudanças envolvendo vários países na América Latina, nos
quais, com apoio popular, governos progressistas vão recuperando a
capacidade dos estados de agir com protagonismo em defesa de
interesses coletivos, afastando-se do raquitismo minimalista
neoliberal que havia causado amplas perdas de patrimônio e de direitos
pelos povos da região. Tal protagonismo estatal não se verifica apenas
em áreas como educação, energia, saúde, infra-estrutura. Avançam também
pela área da cultura e da comunicação.
O
contraste desta tendência de regulamentação democrática e de afirmação
de direitos sociais em curso na América Latina com a tragédia da
desconstrução e perda de direitos que se verifica hoje na Europa, por
exemplo, é notório e sugere muitas reflexões. Enquanto na Espanha,
aprova-se uma lei punindo a pessoas por recolher comida nas lixeiras de
ruas - sem se perguntar o porquê das pessoas terem que recorrer a tal
extremo - em sentido diametralmente oposto, registra-se a aprovação
da nova lei do trabalho na Venezuela, acompanhada do anúncio do novo
valor para o salário mínimo lá, o equivalente a 1310 reais, ao passo
que trabalhadores europeus estão sofrendo corte de salários, quando não
de perda do próprio emprego. Tanto simbolismo, ex-metrópole, e
ex-colônia. Na
área da comunicação também há contrastes e simbolismos importantes. Lá
no Velho Mundo, o sistema de comunicação inglês é questionado de alto a
baixo com o escândalo das empresas do magnata Ruppert Murdoch, quando
se revelou o jornalismo delinquente nelas praticado, entre outras coisas
com o recurso de grampos e espionagem sobre os cidadãos. Isto não é
jornalismo, é crime. Tal escândalo é o desdobramento da crise do
jornalismo inglês, já que seu próprio sistema público de comunicação,
também se revelou colhido em práticas de conivência com tais
ilegalidades e irregularidades, como, por exemplo, no caso da Guerra do
Iraque, quando a BBC também fez parte do coro mentiroso midiático
universal que defendeu a invasão daquele país sob a alegação, falsa,
de que havia armas de destruição em massa em mãos do governo iraquiano. Londres fechou a Press TV: silêncio. Tal
comportamento deixou claro que mesmo o sistema público de comunicação
britânico está vinculado estrategicamente aos desígnios imperiais do
estado inglês, condição que prevalece sobre o direito do povo inglês de
ser informado de forma adequada e veraz. A BBC mentiu descaradamente ao
povo inglês, para justificar a ação militar contra o Iraque.Já o havia
feito durante a Guerra das Malvinas. Também quando da cobertura sobre a
execução sumária do trabalhador brasileiro Jean Charles no metrô de
Londres, quando o jornalismo protegeu a execução da Scotland Yard,
garantindo sua impunidade. Tal prática se repetiu , uma ez mais, quando
houve a agressão militar de 28 países contra a Líbia, quando a mídia
atuou como clarin de guerra, criando o clima propício para que a ONU
aprovasse Resolução que o Assessor Presidencial de Dilma apelidou de
"autorização para a matança". Agora,
mais recentemente, questionando uma vez os que nutrem ilusões
democráticas sobre a comunicação inglesa, o governo de Cameron
determinou o fechamento da unidade da PressTV em Londres, unidade da TV
iraniana internacional. Reparem que não houve a campanha furiosa que se
lançou contra Hugo Chávez quando findou a concessão da RCTV e ele, no
uso das prerrogativas presidenciais, com toda legalidade e legitimidade,
não renovou a concessão, muito embora a emissora continue atuar
livremente no sistema de cabo. Mudanças
importantes em alguns países da América Latina parecem seguir outra
direção. E isto é importante, pois os sistemas chamados públicos de
países que atuam de modo imperialista, seja nos EUA, Inglaterra, França,
Espanha, Alemanha, não devem ser utilizados como parâmetro para
construção de sistemas públicos de comunicação na América Latina. O golpe midiático na Venezuela A
Venezuela, depois de ter sofrido um golpe estado organizado com a
participação decisiva dos meios de comunicação do capital, vai
promovendo mudanças que apontam para um fortalecimento do estado no
setor comunicação como forma de assegurar os direitos da sociedade a uma
informação cidadã e veraz. O primeiro passo foi a recuperação da
Venezuelana de Televisão, antes sucateada e carente de uma programação
mais á altura dos desafios da Revolução Bolivariana. Hoje a VTV exibe
uma programação que registra as fortes transformações sócio-econômicas
ocorridas na Venezuela, país que erradicou o analfabetismo, tem o mais
elevado padrão de abastecimento de água potável da América Latina,
multiplicou por quatro vezes o número de estudantes universitários,
investe pesadamente em infra-estrutura, ferrovias, teleféricos,
hidrelétricas, moradias , sem que nada disso tenha sido divulgado
minimamente pela mídia privada daquele país. Mídia que chegou a
comemorar a enfermidade que acomete o presidente Chávez, o que atesta a
estatura moral das classes ricas venezuelanas, diariamente derrotadas
pela RevoluçãoBolivariana. Depois
de fortalecer a TV e a rádio públicas, criar a Telesur, a ViveTV,
expandir significativamente a comunicação comunitária, a Venezuela
avança agora pela expansão do jornalismo impresso. Jornais foram criados
para dar acompanhamento, registro e informação consciente sobre as
transformações revolucionárias bolivarianas. São jornais públicos, das
prefeituras ou do estado, alguns distribuídos gratuitamente ou vendidos a
preços módicos; ou mesmo o jornal do Partido Socialista Unificado
Venezuelano, uma grande dica para o PT que a cada congresso aprova a
criação de um jornal de massas, mas, não assegura o cumprimento da
decisão do congresso. O partido tem apanhado da mídia e , ainda assim,
tendo ido 3 vezes à Presidência da República, ainda não dispõe de um
veículo próprio. O
fortalecimento do jornalismo impresso bolivariano forma parte de um
conjunto de medidas de estímulo à informação do povo venezuelano, o que
levou a Venezuela a transformar-se no terceiro país com mais elevado
índice de leitura na América Latina. Em comemoração aos 4 séculos da
obra Don Quixote, de Cervantes, a Venezuela produziu uma tiragem de 1
milhão de exemplares, distribuídos gratuitamente. "Contos", de Machado
de Assis, também recebeu tiragem de 300 mil exemplares, com distribuição
gratuita. A tiragem padrão no Brasil é de 3 mil exemplares. Mais
preocupante, , pesquisa recém divulgada aqui no Brasil aponta que 50 por
cento dos brasileiros jamais tiveram um contato com um livro.
Sustentando o direito social do povo venezuelano à leitura está o
estado, o estado em transformação. Na Europa, há uma retirada do estado,
abrindo espaço para a demolição de direitos. O Minc está tentando
reagir, com programas estatais de estímulo à leitura em massa. Salve!
Comunicação democrática na Argentina A
Argentina que acaba de re-estatizar a empresa petroleira YPF, que
havia sido regalada a capitalistas espanhóis, também procedeu uma
mudança importantíssima em sua lei de comunicação, também com a presença
do estado. Foram criados um canal para a cultura, o Encuentro, e outro para as crianças, o Paka-Paka,
ali tratadas com respeito, na sua dimensão humana, não como imbecis ou
consumidores. A nova lei aprovada após ampla consulta e debate com as
organizações sociais de todo o país, estipula que ao estado será
reservado 33 por cento do espectro da radiodifusão. Outros 33 por cento
estão destinados a organizações da sociedade, como universidades,
sindicatos etc. E, os 33 por cento restantes, serão para a atuação de
empresários. Há também jornais que acompanham editorialmente o leque de
idéias políticas que levaram Nestor e Cristina Kirchner ao governo. De
certo modo, Cristina recupera conquistas que haviam sido alcançadas
durante o governo de Peron, quando nasceu a TV e a rádio públicos na
Argentina, floresceu o cinema, multiplicaram-se bibliotecas. Em 1952, a
Argentina já havia reduzido o analfabetismo a praticamente zero. Todas
estas conquistas estavam alavancadas na presença construtora do estado. A
ditadura, em aliança com o imperialismo e a oligarquia, reduziu o
estado a quase nada, encharcando o país em sanguinária repressão. Menem
terminou de fazer o triste papel de destruidor do peronismo e de
entrega do patrimônio do povo argentino, A recuperação soberaa do
petróleo, via estado, tem seu paralelismo na comunicação e no cinema,
como pode ser comprovado quando temos escassas oportunidades de
desfrutar do inteligente cine argentino dos últimos anos.A Telesur pode
ser captada facilmente na Argentina em qualquer rede de tv por
assinatura, muito barata e massificada no país vizinho. Pluralismo informativo na Bolívia A
Bolívia também está realizando sua tarefa de construir um sistema
comunicativo em sintonia com o curso das mudanças que estão ocorrendo
por lá. Um TV pública foi construída. Um sistema de rádios indígenas foi
estruturado. E, cansado de ser apresentado pela imprensa empresarial
bolivana como um narcopresidente , EvoMorales decidiu-se pela fundação
de um jornal público. Montado o jornal Cambio, há cerca de 2 anos, hoje
ele já desponta como o periódico de maior tiragem no país, rivalizando
com o jornal mais tradicional da burguesia boliviana, há 73 anos na
liderança do mercado de jornais naquele país. Uma diferença
fundamental> Bolívia não tem mais analfabetos, como assegura a
Unesco. E a Telesur já é sintonizada em sinal aberto por lá. Uma vez
mais, a presença do estado é decisiva. Fim do oligopólio informativo no Equador O
Equador já está votando sua nova lei de comunicação, por meio
democrático. Quebra a presença de oligopólios que sempre dominaram a
comunicação. E há a presença de um jornal público-estatal, El Telégrafo.
Além disso, há também , como na Venezuela e na Bolívia, ausência de
analfabetismo. A lamentável crítica que Barack Obama fez recentemente à
votação da nova lei de comunicação equatoriana, além de intervencionismo
prepotente, traduz o objetivo do apoio dado pela Casa Branca, por meio
da Usaid e de certas fundações estadunidenses, a projetos comunicativos
cujo objetivo claro é o de impedir que seja estruturada uma presença
protagonista do estado em matéria de políticas de comunicação. Não por
acaso, fundações norte-americanas apoiaram e até criaram instituições na
Venezuela que atuaram em favor do golpe de estado de abril de 2002.
Entre elas, o Sindicato dos Jornalistas da Venezuela, que recebeu
recursos financeiros da Usaid para operar cursos em favor da derrubada
do governo de Hugo Chávez. Aliás, todo o sindicalismo venezuelano estava
profundamente corrompido com a sanha golpista. Um novo sindicalismo
está sendo construído lá., Entretanto, Ongs que recebem apoio
financeiro dos EUA também atuam em ações desestabilizadoras do governo
de Rafael Correa, no Equador, e de Evo Morales, na Bolívia. Entre estas
ações, impedir a estruturação de um modelo comunicativo com presença do
estado.A presentam como modelo ideal de comunicação o dos países que
mais intervêem e demolem os direitos democráticos dos países que lutam
por construir seu baminho próprio, soberano e independente na História.
Esta contradiçao evidente precisa ser debatida com mais profundidade no
movimento de democratizaçao da comunicação aqui. O Brasil em descompasso No
Brasil, há um descompasso em relação aos processos de construção de uma
comunicação de natureza pública que se está forjando nos países
citados. E o Brasil foi vítima de dois golpes midiáticos. Um contra
Vargas, levando-o ao suicídio, com apoio da mídia colonizada, que não
admitia a nacionalização do petróleo, com a Petrobrás, nem dos minérios,
com a Vale do Rio Doces, ambas, criações da Era Vargas. Depois veio o
golpe midiático cívico-militar contra Jango.A imprensa pediu o golpe,
defendeu o golpe, ajudou a formatar o golpe. Depois, seguiu dando apoio à
ditadura. Alguns jornais, como a Folha, participaram até das operações
diretas de repressão.. Hoje, a presidenta Dilma Rousseff está
processando este jornal por falsificação de sua ficha de prisioneira
política do Dops. O único jornal que se opôs corajosamente ao golpe de
1964 foi o Última Hora, criado com o apoio decidido de Getúlio Vargas.
Experiência histórica da qual não temos o direito de esquecer, sobretudo
quando está aceso novamente o debate sobre a criação de um jornal
popular no Brasil. Mas,
além do descompasso em relação aos avanços democráticos na comunicação
de nossos países hermanos, notamos que há também um retrocesso em
algumas áreas. E estes retrocessos precisam ser discutidos pelas forças
progressistas, mas, até agora, têm sido praticamente ignorados por elas.
Trata-se da Voz do Brasil e do Projeto Minerva. Duas iniciativas de
natureza regulamentatórias que não foram ainda assim encaradas pelo
conjunto das forças de esquerda que atuam no movimento de democratização
da comunicação. O
Projeto Minerva, um espaço diário em cadeia nacional de rádio, de 20
minutos, era destinado exclusivamente à alfabetização de adultos. Quem
dúvida que temos , no Brasil, uma dolorosa dívida social para como o
nosso povo em matéria de educação?. Em 2003, sendo Ministro da Educação
Cristovam Buarque, por meio de uma portaria aquele horário regulamentar
deixou de ser usado como espaço educativo e foi transformado em espaços
que a Abert cederia ao estado para veiculação de mensagens atomizadas ao
longo da programação. No entanto, enquanto o Projeto Minerva era um
espaço de utilização gratuita e para a alfabetização, depois da portaria
ministerial, as eventuais mensagens de utilidade pública do ministério
passaram a ser veiculadas mediante pagamento em espécie. Um retrocesso.
Quanto de um informação relevante e civilizatória não se poderia
veicular naquele antigo horário do Projeto Minerva?. Basta informar que
Cuba tem programas radiofônicos emitidos diretamente para o Haiti,
visando a alfabetização , até mesmo em dialeto creole, por meio de um
método totalmente desenvolvido por pedagogos cubanos, uma generosa
doação de um povo que não conhece mais a tragédia do analfabetismo. Um
bom tema para debater quando se ataca Cuba em torno da esfarrapada e
hipócrita bandeira dos direitos humanos, não? Voz do Brasil: Regulamentação informativa em risco A
Voz do Brasil está prestes a sofrer sua pá de cal. Um projeto de lei
apresentado por parlamentar de partido de esquerda, logo transformado e
apadrinhado pela Abert, que conduziu sua tramitação nas duas Casas, cria
as condições para que o mais antigo programa radiofônico do mundo
torne-se praticamente invisível e, com isto, facilitando a sua extinção.
A Voz do Brasil é uma experiência de regulamentação comunicativa bem
sucedida. Mesmo na Confecom, a flexibilização da veiculação da Voz do
Brasil, tornando inviável a fiscalização e tornando o programa
inaudível, foi tese defendida por grupos que atuam no movimento da
democratização da comunicação , e que se sintonizam com aquele
pensamento sustentado por ONGs e instituições apoiadas do exterior para
que a presença protagonista do estado em matéria de comunicação, seja
impedida ou a mais diluída possível. São correntes que enxergam nos
sistemas comunicativos dos países imperiais o modelo ideal para ser
aplicado por aqui. Paradoxalmente, enxergam nos sistemas comunicativos
que hostilizam os povos latino-americanos quando exercem sua soberania,
um caminho a seguir, como se aqueles sistemas não estivessem
umbilicalmente vinculados à natureza imperial daqueles estados
opressores e que financiam o trabalho de muitas organizações nesta
região, sempre com o intuito de impedir uma presença protagonista do
estado em matéria de comunicação. Os
países que ousam transformar seus modelos conservadores de mídia, antes
dominados por oligarquias nativas ou diretamente pelas metrópoles, são
logo alvo de ruidosas campanhas internacionais que os taxam de ditaduras
e de desrespeitar a liberdade de expressão, especialmente por meio de
entidades como a Sociedade Interamericana de Prensa, criada pela Cia, ou
pelas fundações susteentadas financeira e ideológicamente pelo
Departamento de Estado dos EUA. Sobre isto, recomenda-se a leitura do
livro "La agresión permanente", do canadense Jean Guy Allard e da
advogada estadunidense Eva Golinger, relatando as tramas da Usaid, da
NED e da Cia para interferir e desestabilizar os governos progressistas
da América Latina em matéria midiática. Para
estimular o debate que ainda não se fez a contento sobre a Voz do
Brasil, vale perguntar se não seria mais produtivo pensar, ao invés da
extinção do programa, no seu aperfeiçoamento, para que este
extraordinário espa;co de uma hora em cadeia radiofônica fosse mais bem
utilizado, já que preenchido por programação produzida por núcleos de
jornalismo com boa dose de compromisso com a missão pública da
informação? Se o Brasil perder esta uma hora de programação
regulamentada, ela será preenchida por mais do mesmo daquilo que é
feito, predominantemente, pelo péssimo rádio comercial brasileiro. E,
para os brasileiros que vivem nos grotões , seja do campo ou da cidade,
desaparecerá a unida fonte de informação que não está intoxicada e
distorcida pela natureza panfletária direitista da mídia comercial
brasileira, em pleno exercício, como se verifica cada dia com mais
clareza, da sua malignidade intrínseca pró-mercado e anti-pública. Era Vargas Estamos
diante da possibilidade de perder uma hora de programação em cadeia
nacional de rádio que pode ser muito mais bem utilizada, e sequer
estamos discutindo sobre sobre este recua na regulamentação. Falamos em
regulamentação, regulamentação, mas não levamos em conta que a Voz do
Brasil já é regulamentação informativa, e que estamos prestes a
perdê-la???? Por que esta regulamentação não serve a uma parte do
movimento de democratização da comunicação? Por que é uma criação da
Era Vargas? Ué, mas a Vale do Rio Doce, criada como empresa estatal na
Era Vargas, não tem a sua re-estatização defendida pelo MST e por amplos
espectros da esquerda, o que sintoniza, na história, o MST com a Era
Vargas? Não defendemos a CLT diante da voracidade do capital para
flexibilizar a legislação trabalhista??? Mas, diante da Voz do Brasil,
que oferece uma hora de informação regulamentada à sociedade, fora do
controle e dos valores da ditadura mercantil e que pode ser aperfeiçoada
em forma e conteúdo, até um setor do movimento de democratização
coincide com os anseios da Abert pela extinção do programa! Ao
entrevistar Marcio Pochmann, recentemente, ele não apenas defendeu a Voz
do Brasil no rádio, como disse que algo similar deveria haver também na
TV, tal como na época da Constituinte, quando havia o Diário da
Constituinte na TV, com 10 minutos de duração a cada dia. Mas,
estranhamente, defendemos a regulamentação da comunicação, menos esta
que já existe, a da Voz do Brasil!. Mais estranho ainda: uma campanha
feita pela Cut, CGTB, Contag, CBJP-CNBB, ABCCOM, Fenaj, Fittert, TV
Cidade Livre de Brasília, Em Defesa da Voz do Brasil, foi praticamente
ignorada pelo conjunto do movimento de democratização da comunicação no
Brasil. Depois
de defender centenas de teses na Confecom, pulverizadas e sem unidade e
força suficiente para serem levadas às ruas, houve a justa percepção e
correção, pelo Fórum Nacional de Democratização da Comunicação, buscando
uma unificação e centralização das bandeiras principais. Ainda com esta
correta modificação, a Voz do Brasil permanece esquecida pelo
movimento. Portanto, juntamente com a defesa da EBC, concomitantemente
trabalhando pela superação de sua atual linha editorial, que
eventualmente ainda repede padrões viciados do jornalismo comercial; e
da defesa da regulamentação da comunicação, a começar pelo o que já está
inscrito na Constituiçao, mas nunca regulamentado, deve-se incorporar
,na pauta do FNDC, a defesa da Voz do Brasil. Ainda é tempo? Ainda
existe uma saída: há um projeto de lei que transforma o programa Voz do
Brasil, que é o mais antigo programa de rádio no mundo hoje, em
Patrimônio Imaterial do Povo Brasileiro. Este projeto de lei encontra-se
na Comissão de Educação do Senado Federal. Depende bastante das forças
progressistas brasileiras atuarem de forma criativa para sensibilizar o
governo, os partidos, os sindicatos, os movimentos sociais, em torno
desta proposta. E não deixar perder este espaço de regulamentação
informativa já existente e que pode ser aperfeiçoado. Além disso,
registramos que, por meio de medidas administrativas, pode-se encontrar
horário mais adequado de veiculação para as regiões com fuso horário,
sem a necessidade de fazer o que a Abert quer, extinguir a Voz do
Brasil. Acima de tudo, a Abert visa extinguir um exemplo de
regulamentação informativa que ainda resiste e que pesquisas mostram ser
possuidora de respeito e adesão do grande público, que, como sabemos,
no Brasil é praticamente impedido da leitura de jornais. Derradeira
esperança: a varguista Dilma Rousseff ainda pode usar sua prerrogativa
presidencial e, por meio de veto, salvar o mais antigo programa de rádio
do mundo. O único que noticiava regularmente sobre prisão,
desaparecimentos e torturas de presos políticos no Brasil durante da
ditadura, inclusive da própria presidenta. Beto Almeida, jornalista 7 de maio de 2012
Núcleo
Piratininga
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