M�dia
Serviço de Saúde de Campinas/SP divulga carta de indignação com o programa A Liga, da Bandeirantes
Campinas, 16 de maio de 2012.
À HELOÍSA PRODUTORA DO PROGRAMA A LIGA EXTENSIVO A TODOS OS JORNALISTAS, REDATORES, DIRETORES, APRESENTADORES DO PROGRAMA A LIGA, DA REDE BANDEIRANTES DE TELEVISÃO
Caros:
Com relação ao programa A LIGA, produzido pela EYEWORKS DO BRASIL – PRODUTORA DE PROGRAMAS TELEVISIVOS E FILMES PUBLICITÁRIOS LTDA, exibido no dia de ontem, dia 15/05/2012, pela Rede Bandeirantes de Televisão, intitulado QUEBRANDO PARADIGMAS PSIQUIÁTRICOS, nós do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, localizado em Campinas/SP, manifestamos algumas considerações relativas ao conteúdo do programa.
Em primeiro lugar queremos apresentar o incômodo quanto à identificação dos usuários da saúde mental que o programa utilizou. A exposição do diagnóstico psiquiátrico rotulou as pessoas desnecessariamente, reforçando os estigmas relativos à loucura. Mesmo quando não revelaram o diagnóstico dos nossos usuários, por impedimento nosso, os creditaram como pacientes ou ex-internos, sendo que o termo correto utilizado para identificação dos mesmos é usuário da saúde mental, desde 1995, em substituição aos termos “louco”, doente mental, paciente psiquiátrico, ou qualquer outra terminologia. Essa nova nomenclatura é uma exigência do Movimento da Luta Antimanicomial e dos demais participantes do II Encontro Nacional da Luta Antimanicomial, em Belo Horizonte/MG.
Em nossa visão, o programa ao invés de quebrar os paradigmas, acabou por reforçá-los. Quando a produtora Heloísa nos procurou, o combinado era mostrar as transformações da reforma psiquiátrica do serviço e a superação que as pessoas que aqui se tratam tiveram em suas vidas. Na gravação, passaram um dia inteiro no Cândido Ferreira filmando as oficinas de trabalho e de comunicação. Realizaram longas entrevistas sobre a história de superação de alguns usuários. A filmagem da camisa de força e do eletrochoque era pra fazer o contraponto do que foi um dia e no que se transformou a instituição, mas o programa, depois de editado, permaneceu no sofrimento das pessoas, naquilo que foi e não focou a superação e as transformações pautadas pela produtora. O apresentador Thaíde teve uma abordagem respeitosa, mas pouco do que foi gravado acabou indo ao ar, que privilegiou mostrar sofrimentos. O melhor do programa A LIGA foi a chamada publicitária gravada pelo Thaíde, em que ele fala sobre as transformações que encontrou no serviço de saúde, mas a chamada não correspondeu ao conteúdo do programa, que ao nosso ver teve uma edição tendenciosa e preconceituosa.
Acreditamos que faltaram informações sobre a Política Nacional de Saúde Mental do Brasil e todo o histórico da Reforma Psiquiátrica, norteados pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e outros serviços da rede de Saúde Mental como Centros de Convivência, Projetos de Geração de Renda, Equipes de Saúde Mental na Atenção Básica de Saúde, Serviços Residenciais Terapêuticos, entre outros. Esses equipamentos substitutivos não foram devidamente abordados. O conteúdo acabou sendo superficial e focado na medicamentalização e internação psiquiátrica.
O poder de transformação social que a comunicação poderia ter possuído nesse programa, acabou adotando uma linha editorial que perdeu a oportunidade de esclarecimentos relativos ao tema, no norte dos novos paradigmas propostos.
Atenciosamente,
RÉGIS MOREIRA Assessor de Comunicação Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|