�ltimas Not�cias
Dados novos de uma prática antiga: a violência contra as mulheres
Publicado em 9.05.12 - por Lígia Martins de Almeida/ Obs. da Imprensa
Na mesma semana em que os anúncios mostram presentes e mais presentes que os
filhos podem escolher para Dia das Mães, os jornais divulgam o Mapa da
Violência – Homicídio de Mulheres de 2012 e mostram que, entre 87 países, o
Brasil ocupa o desonroso sétimo lugar entre os que mais matam. Ou, conforme
apurou a repórter Adriana Ferraz, do Estado de S.Paulo (8/5/2012), “a
cada duas horas, uma mulher é assassinada no país” (ver
aqui).
Como se não bastasse, o mesmo relatório diz também que a cada 12 minutos uma
mulher é agredida no Brasil. O agressor ou assassino são pai, namorado, marido,
ex-marido e, na velhice, os filhos. Anotou a Folha de S.Paulo:
“Em 30 anos, a taxa de homicídios de mulheres no
Brasil oscilou em torno de 4,4 vítimas a cada 100 mil mulheres. Foram
assassinadas, entre 1980 e 2010, 91.932 mulheres. Quase a metade dos casos,
43.486 mortes, ocorreu na última década. Segundo o estudo, até aos 14 anos de
idade os pais são os principais responsáveis pela violência. O papel de
agressor, porém, vai sendo substituído progressivamente pelo parceiro ou
ex-parceiro, a partir dos 20 anos de idade, situação que se mantém até a idade
de 60 anos. Depois dos 60 anos, os filhos preponderam na geração de violência
contra a mulher.” (Folha de S.Paulo, 8/5/2012)
Enquanto os homens vítimas de violência podem ser mortos no bar, no local de
trabalho ou na rua, a agressão contra as mulheres ocorre em casa e, segundo o
estudo, em 53,9% dos casos, com armas de fogo.
“Rede de acolhida”
Para quem acreditava que a Lei Maria da Penha fosse mudar as estatísticas, o
“Mapa da Violência” foi um balde de água fria:
“Nos últimos 14 anos, o índice nacional de
homicídios de mulheres se manteve estável. A menor taxa registrada no período é
de 2007, ano em que entrou em vigor a Lei Maria da Penha, que pune o agressor
com mais rigor e assegura à mulher proteção policial e da Justiça em caso de
denúncia. Foram 3.772 casos – taxa de 3,9. No ano seguinte, porém, a curva
voltou a crescer, atingindo 4,2.” (O Estado de S.Paulo, 8/5/2012)
Como se explica o fato de apesar de haver uma lei específica para tratar da
violência contra mulheres, os índices continuam tão altos?
O sociólogo Júlio Jacobo, autor do “Mapa da Violência”, explica:
“Os indicadores de violência estagnaram desde a
mudança da legislação. Não está aumentando, mas ainda estamos na UTI, mesmo sem
o agravamento do quadro. A Lei Maria da Penha atua na contramão de um processo
histórico de violência, mas nenhuma lei altera a realidade. A mobilização da
sociedade civil e o funcionamento do poder público contribuem também para a
eficácia da lei.” (Folha, 8/5)
Para Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão –
especializado em violência contra mulheres – a redução dos conflitos domésticos
está na construção de uma rede protetora que dê suporte psicológico à vítima.
Disse ela, ao Estadão:
“Não basta abrir mais delegacias especializadas
pelo País. A mulher dificilmente faz a denúncia imediatamente. Muitas vezes, ela
até se sente culpada ou na obrigação de salvar o casamento. É nessa hora que
precisa encontrar uma rede de acolhida para desabafar e receber orientação,
antes de procurar a polícia”.
Um desafio
A verdade é que o tema está merecendo mais atenção do governo, mas deve
merecer também mais destaque na mídia. É claro que as matérias que mostram
mulheres vitoriosas – como a capa de Veja sobre as presidentas de
empresa – são mais agradáveis e podem até servir de estímulo para a minoria que
tem acesso à universidade e bons empregos. Mas essas mulheres, liberadas
econômica e socialmente, sabem o que fazer para conquistar seu lugar no
mundo.
Quem realmente precisa de atenção são aquelas outras – a maioria – que se
sujeitam a apanhar dos companheiros porque, apesar de conhecer seus direitos,
não têm coragem – ou condições – de recomeçar a vida sozinhas. Se elas não têm
acesso à informação, é preciso que a imprensa dê mais apoio às pessoas que podem
ajudá-las, para evitar as tristes notícias que surgem quando uma delas é
assassinada.
É mais um desafio para os nossos jornais e revistas.
***
[Ligia Martins de Almeida é jornalista]
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
—
Voltar —
Topo
—
Imprimir
|