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Promotor decide arquivar caso de jovem torturado e morto dentro de carceragem em São Gonçalo/RJ
Publicado em 2.05.12 - Por Rede Contra a Violência
No dia 6/3/2009, Vinícius Moreira Ribeiro, de 20 anos, morreu
dentro da carceragem da Polinter (Polícia Interestadual) em Neves,
município de São Gonçalo/RJ. Ele e um menor haviam sido presos em
flagrante no dia 14 de fevereiro do mesmo ano por tentativa de assalto a
um taxista no Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio. Desde que tomou
conhecimento de que o menino havia sido torturado e morto dentro das
dependências do presídio, Indaiá Ribeiro, a mãe do jovem, luta para
combater a versão da polícia de que o filho caiu, bateu com a cabeça e
morreu. Após três anos de luta incansável por justiça e apuração do
fato, ela ficou sabendo, no dia 26/4/12, do arquivamento do inquérito
pelo promotor Rubens Viana, responsável pelo caso. Segundo ele, é
impossível saber quem matou Vinícius.
Conheça o caso
De acordo com os funcionários do Pronto Socorro de São Gonçalo, para
onde ele foi levado no dia 6 de março daquele ano de 2009, Vinícius
chegou da Polinter de Neves com marcas e hematomas espalhados pelo
corpo, além do sangue nos ouvidos e um furo no lado direito de seu
peitoral. Esse quadro deixa claro que ele “foi torturado e morto”,
conforme avalia o advogado de Indaiá, Jorge Aluisio Nogueira. Segundo o
médico responsável, o menino foi levado diretamente ao IML,
pois já estava morto quando chegou ao hospital. O pai da vítima e o
advogado conseguiram fotografar o corpo antes do sepultamento no
cemitério de Inhaúma, e registraram várias marcas de contusão e
ferimentos na cabeça e em outras partes do corpo. O laudo do IML,
lavrado em 06/03, embora reconheça que a causa mortis foi hemorragia
intracraniana provocada por “ação contundente”, não faz menção às marcas
nas outras partes do corpo.
Diante das evidências de que o filho foi espancado, torturado e morto
dentro da carceragem, Indaiá iniciou imediatamente sua luta por
justiça, procurando o apoio de movimentos e organizações que buscam
combater a violência promovida pelo Estado. Em 2010, uma mobilização
dela e de outros familiares de vítimas diante da carceragem lembrou não
apenas a tortura e o assassinato de Vinícius, mas também exigiu o
fechamento de todas as carceragens da Polinter e o fim dos maus tratos,
superlotação e outras violações de direitos em todo o sistema carcerário
brasileiro. Após a mobilização, no ano passado o governo estadual
anunciou que pretendia desativar “gradativamente” todas as carceragens
da Polinter.
Caso de Vinícius continua impune
Entretanto, a investigação da morte de Vinícius em particular não
avançou. Sua morte foi registrada na 73ª DP de São Gonçalo, somente com a
versão de um policial civil da Polinter. No dia 18/3/11, foi feita uma
manifestação na porta da Chefia de Polícia para cobrar o andamento do
caso, que estava parado até então. Meses depois, foi informado que o
caso ficaria sob a responsabilidade do promotor Rubens Viana, da 7ª
Promotoria de Investigação Penal (PIP).
No ano passado, Indaiá, acompanhada por militantes da Rede Contra a
Violência, se reuniu com Viana para saber sobre a decisão da
Corregedoria da Polícia Civil. Neste dia ficou sabendo que o delegado
Glaudiston Galiano Lessa já havia decidido pelo arquivamento do
inquérito. O promotor prometeu, então, abrir vista do inquérito e
convocar novas testemunhas para prestar depoimento, mas nada foi feito.
Após várias tentativas frustradas de falar com Viana, Indaiá conseguiu
finalmente (26/4/12) um contato com ele, mas a notícia que recebeu não
foi nada animadora. Após reler todo o laudo e mesmo com todas as
evidências de tortura e assassinato, o promotor disse que optou pelo
arquivamento, pois, segundo ele, será impossível provar quem matou
Vinícius.
A conclusão do promotor é baseada no relatório de conclusão do
inquérito do delegado Glaudiston, que rejeitou sumariamente a tese de
agressão dos agentes carcerários e policiais contra Vinicius, baseado
nas próprias declarações destes e dos internos ouvidos como testemunhas.
É claro que, no clima de terror e intimidação que domina as unidades
carcerárias no Brasil, presos convocados a depor como testemunhas
dificilmente irão acusar carcereiros e policiais com os quais convivem
diariamente, estando, portanto, sujeito a represálias. Entretanto, o
inquérito não aprofundou a investigação das evidências de que Vinicius
já chegara morto ao hospital, e com várias marcas indicando
espancamento. Dar entrada em cadáveres nos hospitais é uma conhecida
prática de agentes do Estado envolvidos em graves violações de direitos,
visando encobrir seus crimes.
Para complicar, o recente fechamento da carceragem de Neves, apesar
de uma vitória contra violações de direitos dos presos, pode significar o
fim das investigações da morte do jovem.
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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