Hist�ria
Haiti: o preço pela sua ousadia
Por Claudia Santiago - Brasil de Fato
DE ACORDO COM o escritor uruguaio Eduardo Galeano, os negros escravos do
Haiti nunca foram perdoados pelo atrevimento de terem humilhado o
poderoso exército de Napoleão Bonaparte, em 1804.Os haitianos sempre
sofreram muito. Na última década não foi diferente. Em 2004, um golpe da
direita contra o presidente Jean- Bertrand Aristide jogou o destino do
país nas mãos de exércitos estrangeiros. Aristides já havia sido
presidente do país. Eleito em 1990, foi deposto, um ano depois, também
por um golpe de Estado liderado pelo Exército com o apoio da CIA.
Como
se não bastasse a ação de homens e mulheres, a natureza também
contribui para a completa desestabilização do país. Em janeiro de 2010,
um terremoto matou mais
de 200 mil pessoas. A infraestrutura da capital Porto Príncipe foi
praticamente destruída. Três milhões de pessoas, quase um terço da
população, foram atingidas. Depois veio o surto de cólera que matou milhares de pessoas.
Recentemente,
o Brasil começou a receber imigrantes haitianos que fogem da pobreza e
da fome. Novamente fogem da sua terra, como fizeram antes, durante as
ditaduras Duvalier, nas décadas de 60 e 70. Deslocam-se para o Brasil,
como seguem para as Bahamas, Guadalupe, Martinica, Guiana Francesa,
Estados Unidos e República Dominicana.
O primeiro sem escravidão
Houve
um tempo em que o Haiti foi exemplo. Foi o primeiro país do mundo a
acabar com a escravidão. Escravos se rebelaram e colocaram fim ao antigo
regime, em 1794. Nos EUA, a escravidão só terminou 70 anos depois, em
1863. O Brasil é lanterninha. Aqui, a vergonha só acabaria oficialmente
em 1888.
Militante do MST dando aula no Haiti
O
país pode voltar a ser exemplo. Garra esse povo já mostrou
historicamente que tem. Para isso, precisa de ajuda e soberania para
defi nir seu destino. Desde janeiro de
2009, uns trinta integrantes da Via Campesina, em sua maioria
brasileiros, estão no Haiti com a Brigada Internacionalista Jean-Jacques
Dessaline. Seu objetivo é compartilhar com os camponeses haitianos as
experiências brasileiras com a produção de sementes, técnicas
agroecológicas, reflorestamento e captação de água.
Após
o terremoto, os custos para a reconstrução do país foram estimados em
11,5 bilhões de dólares. Entretanto, apenas 352 milhões foram enviados
ao Fundo para a Reconstrução do Haiti, segundo informe da ONU divulgado
em julho do ano passado. O uso que está sendo feito do dinheiro liberado
para o Haiti é assunto para outro artigo.
Por que os bancos recebem?
Enquanto
isso, na primeira semana de março, o Banco Central Europeu anunciou a
liberação adicional de 530 bilhões de euros para os bancos europeus a
juros de 1% ao ano. Em dezembro, outros 489 bilhões de euros já haviam sido oferecidos aos bancos.
Os
capitalistas, aliás, ganham sempre. Empresários estadunidenses, e
brasileiros também, pagam salários baixíssimos a trabalhadores haitianos
em zonas francas instaladas no país. Ganham na exploração do trabalho e
na sonegação de impostos ao miserável Haiti. Em 15/08/2008, o jornal Valor Econômico
já dizia: “Apesar da confusão institucional, o Haiti tem vantagens
importantes para oferecer a uma empresa têxtil: proximidade e acesso
diferenciado ao maior mercado do mundo, os EUA, e mão-de-obra barata.
Uma
costureira na capital Porto Príncipe recebe US$ 0,50 por hora. É uma
remuneração inferior aos 3,27 dólares pagos no Brasil e muito abaixo dos
16,92 dos EUA, conforme a consultoria Werner”. O Haiti sempre foi visto
pelas grandes potências como fornecedor de mão de obra barata. A
burguesia francesa fez a festa a custo do trabalho dos haitianos na produção de grandes quantidades dos valorizadíssimos café e açúcar.
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