Leituras
O que o Vaticano, o fim do socialismo soviético e a privataria tucana tem em comum?
Por Sérgio Luís Bertoni, TIE-Brasil
À
primeira vista, o Vaticano, o fim do socialismo soviético e a
privataria tucana nada tem em comum e são considerados, por alguns,
fenômenos “isolados” no tempo e no espaço.
Porém, 3 livros publicados nos últimos 18 meses, Vaticano S.A (Gianluigi Nuzzi, Larousse, 2010), Economia Bandida (Loretta Napoleoni, Difel, 2010) e A Privataria Tucana (Amaury Ribeiro Jr., Geração Editorial, 2011) mostram que os 3 “fenômenos” tem em comum o modus operandis neoliberal de desvio criminoso de dinheiro público,
sempre lavados por empresas ou bancos off-shores, e seu investimento em
negócios legais ou espúrios, fazendo com que de uma forma ou de outra a
grana desviada volte aos corrputos e corruptores na qualidade de
dinheiro limpo, legalizado no sistema bancário-financeiro internacional.
A
lavanderia do Vaticano, através de seu IOR – Instituto para Obras
Religiosas, também conhecido como Banco do Vaticano, pode ser
considerada a mais antiga encravada na Europa continental, bem no centro
de Roma.
Os
esquemas relatados no livro de Gianluigi Nuzzi remontam ao papado de
Paulo VI e conta como a grana ilegal de políticos, empresários e bispos
de vários países eram legalizados pela off-shore IOR, ou seja, Banco do
Vaticano.
Baseado no arquivo secreto do Monsenhor Renato Dodozzi, morto em 2003), Vaticano S.A. revela escândalos políticos e financeiros da maior Instituição Religiosa do Mundo: a Igreja Católica Apostólica Romana.
O imenso arquivo do Monsenhor Dodozzi, que trabalhou no IOR, guardado na
Suíça até a sua morte e hoje acessível a todos, revela uma verdadeira e
própria “lavanderia de dinheiro” no centro de Roma, utilizada também
pela máfia e por inescrupulosos aventureiros políticos. Um paraíso
fiscal que não se submete a nenhuma legislação, a não ser às sacras leis
do Estado do Vaticano.
O livro mostra também como fundos “pessoais” do papa João Paulo II foram
usados para financiar o sindicato polonês Solidariedade contra o regime
socialista soviético.
Economia Bandida chegou
ao Brasil após lançamentos de sucesso na América do Norte e Central,
Europa e Ásia. Nele, Loretta Napoleoni disseca a extensa rede de
ilegalidade existente no planeta – da indústria do sexo na Europa
Oriental à rede chinesa de pornografia online, passando pela
comercialização do Viagra e pelo tráfico de diamantes na África.
Não é um livro sobre as origens obscuras dos produtos que consumimos nem
sobre as mentiras das campanhas publicitárias dos propagandistas da
eterna juventude. Tampouco se trata de um manual antiglobalização ou de
um manifesto pela revolução do consumidor.
Mostra o que há de comum entre o próspero comércio sexual do Leste
Europeu, o escândalo dos empréstimos hipotecários podres nos Estados
Unidos, a indústria chinesa de produtos falsificados e a filantropia das
celebridades na África. Descreve como biopiratas exploram a indústria
do sangue, como os bandidos da pesca devastam os altos-mares, como a
pornografia se desenvolve virtualmente no Second Life e como jogos como o
World of Warcraft geram “suadouros” on-line, levando-nos a concluir que
as indústrias bandidas estão se transformando em impérios globais e
tornando-se regra descarada do sistema capitalista que antigamente
procurava disfarçar-se sob negócios tidos como legais.
Mostra, enfim, como o mundo vem sendo remodelado por forças econômicas
obscuras que vitimam milhares de pessoas comuns cujas vidas foram
aprisionadas na fantasia do consumismo mundial. Napoleoni revela a
arquitetura de nosso mundo.
Por sua vez, A privataria tucana
nos traz a arquitetura de nosso Brasil “moderno” e, de maneira chocante e até
decepcionante, relata a dura realidade dos bastidores da política e do
empresariado brasileiro, em conluio para roubar dinheiro público.
Faz uma denúncia vigorosa do que foi a chamada
Era das Privatizações, instaurada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e
por seu então Ministro do Planejamento, José Serra. Nomes, até agora blindados
pela aura da honestidade e pela imprensa nacional, surgirão manchados pela
descoberta de seus malfeitos.
O livro traz os documentos secretos e a verdade
sobre o maior assalto ao patrimônio público brasileiro e o trânsito de fortunas
tucanas até os paraísos fiscais.
O leitor perceberá que nas 3 publicações citadas
tudo é SAGRADO, desde que garanta aos neoliberais e a seus operadores os
maiores, mais fáceis e rápidos lucros possíveis, pouco importando a origem ou
legalidade das operações em que eles se envolvam.
Interesses e direitos HUMANOS, nacionais,
religiosos, políticos, econômicos, sociais ou populares são descaradamente
atropelados em nome do rápida e absurda concentração de renda e riquezas do
vale-tudo do TUDO PELO CAPITAL.
Post Scriptum
Recentemente, acrescentei mais um livro a esta lista. Trata-se de Máfia Export
do italiano Francesco Forgione, ex-presidente da Comissão Parlamentar
Antimáfia, publicado pela Bertrand Brasil, que demonstra como
organizações mafiosas como a Cosa Nostra, ‘Ndrangueta e Camorra se
globalizaram, aproveitando-se da onda de desregulamentação neoliberal, e
estabeleceram suas redes de atuação ao redor do mundo.
Os
tentáculos das máfias italianas ultrapassam o seu país de origem e hoje
movimentam somas no valor de 130 bilhões de euros anualmente.
Negociando de armas e drogas a pizzas e vacinas de laboratórios
farmacêuticos norte-americanos.
Forgione
traça o mapa da ação mafiosa e mostra que no Brasil, tem-se a
‘ndranguetta no Rio de Janeiro, em Brasília e em Fortaleza. Já a camorra
e a Cosa Nostra estão estabelecidas somente na cidade fluminense.
Mais
uma vez, o modus operandis neoliberal está presente: usa-se empresas
de fachada (restaurantes, pizzarias, lojas de roupa, etc) para lavar
dinheiro junto ao sistema bancário-financeiro internacional sem deixar
de usar as off-shore, espalhadas pelos paraísos fiscais de todo o mundo.
Núcleo
Piratininga
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