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Escrachos na frente da casa de torturadores ocorreram em várias cidades brasileiras
Publicado em 27.03.12 - Por Cristiano Navarro/ Brasil de Fato
Os vizinhos não sabiam, mas na avenida Vereador José
Diniz, 3.700, bairro do Campo Belo na cidade de São Paulo, trabalha um
criminoso que em nome da ditadura civil e militar perseguiu, torturou,
estuprou e matou militantes de esquerda. Neste
endereço funciona a empresa de segurança privada Dacala, e foi lá que
cerca de 150 manifestantes mobilizados pelo Levante Popular da Juventude
denunciaram o seu proprietário, David dos Santos Araujo, delegado
aposentado da policial civil que atuou no Destacamento de Operações de
Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOICodi) utilizando
codinome de “Capitão Lisboa”. Nos tempos do Doi Codi, Araujo se vestia
como capitão do exército para passar como tal.
Foto: Levante Popular da Juventude
Escracho denuncia a presença do ex-policial
Para
chamar a atenção para os crimes cometidos pelo “Capitão Lisboa”, o
Levante Popular da Juventude usou de um método bastante conhecido em
países vizinhos: o escracho. “Se não há justiça, há escrachos”, cobraram
dos governos os movimentos sociais no Chile, Argentina e Uruguai
durante a década de 2000 a punição contra militares que cometeram crimes
nas ditaduras. Com tambores, faixas, cartazes,
carro de som e bandeiras os jovens gritavam, faziam pichações e dançavam
para chamar a atenção das pessoas. “Pula, pula, pula quem é contra
ditadura. Pula, sai do chão, quem é contra repressão!”. As
balconistas de uma farmácia vizinha, que assistiam ao ato, comentaram
surpresas “nossa, você viu, o cara é um torturador”. No ponto de táxi da
rua Demóstenes, ao lado da Dacala, foi a primeira vez que o taxista
Nestor Pereira e seus companheiros ouviram falar do passado do
empresário. “Eu trabalho aqui há muitos anos e a gente não sabia que ele
era da ditadura. Mas tá certo, democracia é isso”. Lira
Alli, integrante do Levante explica que a ideia do protesto não é
debater ou confrontar o criminoso, mas denunciar os crimes dialogando
com a sociedade. “Nosso diálogo é com a sociedade, não com o torturador
que está sendo denunciado pelo Ministério Público Federal por crimes
contra a humanidade. Queremos que as pessoas saibam que este homem é um
torturador. O dono dessa empresa é um torturador. David dos Santos
Araújo é um torturador”. Durante a manifestação o torturador não
apareceu, e procurado pela imprensa ele não respondeu. Os funcionários
da empresa informaram que o dono da Dacala estava lá.
Escrachos como o que ocorreu em São Paulo foram
organizados pelo Levante Popular na frente da casa de torturadores em
Belo Horizonte, Belém, Fortaleza e Porto Alegre; manifestações em favor
da Comissão da Verdade também ocorreram em Curitiba e Rio de Janeiro. Para
o estudante de direito e membro do Levante Popular da Juventude Caio
Santiago, o debate sobre a memória do país vive um momento crucial.
“Mesmo com as limitações para punição dos crimes, o governo Dilma teve
uma boa postura de criar a Comissão da Verdade. Mas entendemos que a
partir do manifesto dos militares a comissão passou a ser ameaçada”,
afirma Santiago, que completa: “este é um tema que está em disputa na
nossa sociedade, por isso o escracho pode ser decisivo”. A
lista de agentes da ditadura em São Paulo e em todo Brasil sujeitos a
sofrer escracho é grande. Assim, outros grupos da capital paulista
preparam novos protestos. É o caso do “Cordão da Mentira”, que será no
dia primeiro de abril. Composto por coletivos políticos, grupos de
teatro e sambistas de diversos grupos e escolas da capital paulista, o
Cordão questionará quem e quais são os interesses que bloqueiam uma real
investigação sobre a história brasileira. O desfile ocorrerá no dia da
mentira e do golpe civil-militar de 1964. A concentração será às 11h30
em frente ao Cemitério da Consolação. O que é um “escrache”? Escrache,
traduzido como escracho, é uma denuncia popular contra acusados de
violações aos direitos humanos ou de corrupção, que se realiza mediante
atos tais como discursos, panfletagens, teatro, cantos e pichações, em
frente a um domicílio, um estabelecimento comercial ou em lugares
públicos. Os escraches se popularizaram na
Argentina, Uruguai e Chile, com a mobilização de movimentos sociais e
familiares que exigiam de seus governos a prisão para os crimes
cometidos durantes os períodos de ditadura.
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Piratininga
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