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Por NPC
Projeto O Brasil de Aloysio Biondi recupera o trabalho do jornalista que é referência na denúncia das privatizações

Por Sheila Jacob - NPC

O sucesso recente do livro de Amaury Ribeiro Jr., A privataria tucana, lembrou ao Brasil os danos causados aos cofres públicos pelas privatizações ocorridas durante o Governo Fernando Henrique Cardoso. Naquele tempo, o discurso era de melhoria de serviços, mas na prática o que ocorreu foram prejuízos tanto aos trabalhadores quanto aos usuários. Infelizmente, esse fantasma ainda continua assombrando muitos brasileiros, pois as privatizações seguem ocorrendo no Governo do PT. Nesse momento, o alvo são os aeroportos brasileiros: no dia 6 de fevereiro, apesar de protestos em todo o país, foram a leilão os aeroportos de Guarulhos (Cumbica), Campinas (Viracopos) e Brasília (JK). Como vem repetindo Amaury nos debates de que participa em todo país, as privatizações "são um verdadeiro caos". 

Mas o que Amaury apresenta aos brasileiros agora não é novidade alguma: já no final da década de 1990 o jornalista econômico Aloysio Biondi lançou O Brasil privatizado, obra de fácil leitura que já apresentava um “balanço do desmonte do Estado”, enquanto em grande parte da imprensa da época era comum elogiar a medida. Seu filho Antonio Biondi, também jornalista e Bacharel em Direito, concedeu por e-mail uma entrevista ao Boletim NPC, na qual fala sobre a importância do trabalho do pai na denúncia das arbitrariedades da Era das Privatizações. “Esse processo todo ia sendo sentido e percebido pela população e pelos setores mais afetados, mas o livro O Brasil Privatizado, lançado em 1999, deu ao tema a devida importância. Explicou de forma simples e didática como tudo isso estava se dando e por que muitos prejuízos seriam causados ao país por todo o processo. Acredito que o livro mostra não só a importância de se discutir se uma privatização pode ou não ser feita, mas também a forma como ela é feita, com que recursos, com que objetivos, com que lisura e resultados”, diz o jornalista.

Ariovaldo Santos/AJB/“Brasil Digital" (Fonte: O Brasil de Aloysio Biondi)

Na redação do grupo DCI-Shopping News-Visão, na Mooca (SP) 

Para recuperar a memória do pai, que dedicou 44 anos de sua vida à atividade jornalística, amigos e familiares lançaram em 2007 o projeto O Brasil de Aloysio Biondi. O material por enquanto só está disponível na internet, no endereço http://www.aloysiobiondi.com.br. Em breve, no entanto, será disponibilizado para consulta pública no Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio, do Instituto de Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).  Ele é composto por todo o material que o Biondi guardou ao longo de seus 44 anos de carreira – e também, em parte, nos seus 64 anos de vida. Passa por fotos, livros, relatórios, estudos, pesquisas e periódicos dos mais variados. “É, de certa forma, um passeio pela história do Brasil e do nosso jornalismo ao longo do século 20”, conta Antonio. 

Confira a entrevista. 

BoletimNPC - Há quanto tempo existe o sonho do projeto de reunir as obras de Aloysio Biondi e quando ele se tornou realidade? 
O sonho do projeto iniciou-se logo após Biondi ter nos deixado, ainda em 2000. E, entre o projeto começar a se desenhar, reunirmos as pessoas, definirmos os objetivos e executá-los, foi uma longa caminhada. Em dezembro de 2007, colocamos no ar o site com os textos do Aloysio Biondi, reunindo então cerca de 1.000 artigos, reportagens e matérias.


BoletimNPC - Além da página, vocês divulgaram que em março do ano passado havia um projeto de consulta física do acervo. Já está pronto? De que é composto o material? 
O arquivo físico ficará no Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio – CEDAE, do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp). O material chegou a Campinas em outubro de 2009, encerrando o “capítulo de nove anos de organização caseira do arquivo de Aloysio Biondi”, como escreveu meu irmão, Pedro, no site do projeto.

O acervo é composto por todo o material que o Biondi guardou ao longo de seus 44 anos de carreira – e também, em parte, nos seus 64 anos de vida. Passa por fotos, livros, relatórios, estudos, pesquisas e periódicos dos mais variados. São centenas, diria até que milhares, de documentos. É, de certa forma, um passeio pela história do Brasil e do nosso jornalismo ao longo do século 20. E, o mais interessante, o material reunido traz diversos documentos relativos ao trabalho do Biondi, dos veículos pelos quais ele passou, etc., de modo que a partir deles é possível conhecer e refletir mais sobre o fazer jornalístico no Brasil.

O material ainda não foi disponibilizado ao público pois está sendo trabalhado para isso pela equipe do CEDAE. E é um longo percurso entre um acervo guardado em casa pela família e sua disponibilização ao público em geral por uma instituição de ensino e pesquisa. Em 2011, o material passou pelos cuidados (por exemplo de higienização) da Associação Brasileira de Encadernação e Restauro, e, no segundo semestre, retornou à Unicamp – que agora está dedicada a dar os próximos passos para tornar o acervo finalmente disponível a todo o público. O que desde sempre foi nosso objetivo, por isso a doação a uma instituição pública. 


BoletimNPC - E quem cuidou da organização do material?
A organização inicial do material foi feita por dezenas de amigos, familiares, jornalistas e alunos do Biondi (que deu aulas na Cásper Líbero, em São Paulo, até 200). São as mesmas pessoas que cuidaram da elaboração do site, e cujos nomes foram colocados, um a um, no “Expediente” do projeto. Entre os integrantes do projeto e os colaboradores do site, mais de 150 pessoas se envolveram na empreitada (http://aloysiobiondi.com.br/spip.php?rubrique15). 


BoletimNPC - Por que surgiu a ideia de se organizar e disponibilizar para consulta os textos do jornalista?
Acredito que esse era um desafio, uma obrigação, uma forma de lidar com a perda, uma forma de seguir aprendendo com ele... Foi praticamente natural para nós criarmos e executarmos o projeto. A importância que víamos no Biondi, para o Brasil, para o jornalismo do país – e também para a família, os amigos, colegas de profissão e alunos – trouxe essa convicção e essa naturalidade. E o fato de o projeto até hoje despertar interesse, e, especialmente a obra dele seguir atual, demonstra que fizemos o que devíamos fazer. E que valeu e muito a pena.


BoletimNPC - Atualmente, o “roubo das privatizações” tem sido assunto, principalmente nas redes sociais, a partir do livro A privataria tucana, recém-lançado por Amaury Ribeiro Jr. Qual foi a importância de Aloysio Biondi na denúncia do “desmonte do Estado” na década de 1990, época em que estava acontecendo? O que o livro pode trazer de lição para o Brasil hoje, tempo em que as privatizações ainda são uma realidade?
O Aloysio amava o Brasil, e traduzia isso num projeto de nação, que passava por todas as classes sociais, por todas as regiões do país, pelo campo e cidade, e pela atuação do Estado – e da iniciativa privada também, claro. Ao longo dos governos neoliberais, especialmente os capitaneados pelo PSDB e por FHC, Biondi foi acompanhando, denunciando, registrando – indignado – todo o desmonte do Estado que ia sendo feito no país. Por convicções ideológicas dos tucanos e aliados, mas não só. Muita conveniência, muitos interesses, muitos favorecimentos ali ocorriam também. “Negócios da China”, doações de empresas, criações de novos milionários e bilionários da noite pro dia...

Esse processo todo ia sendo sentido e percebido pela população e pelos setores mais afetados, mas o livro O Brasil Privatizado – Um Balanço do Desmonte do Estado, lançado em 1999 pelo Biondi pela Editora da Fundação Perseu Abramo, deu ao tema a devida importância. Organizou o raciocínio, explicou de forma simples e didática como tudo isso estava se dando e por que muitos prejuízos seriam causados ao país por todo o processo. Acredito que o livro mostra não só a importância de se discutir se uma privatização pode ou não ser feita, mas também a forma como ela é feita, com que recursos, com que objetivos, com que lisura e resultados...

A qualidade e acessibilidade do livro, conjugada a uma estratégia de vendas diretas a sindicatos e outras entidades levou o livro a explodir e passar dos 100 mil exemplares vendidos. Com isso, tornou-se uma referência essencial sobre as privatizações no Brasil, colaborando – de forma importante, sem dúvidas, para que essa questão hoje siga sendo debatida. E até influindo decisivamente no resultado das recentes eleições e de debates sobre as perspectivas para o país. 

O impacto e repercussão gerados pelo livro do Amaury Ribeiro Jr. demonstram a força que o tema passou a ter na agenda nacional. Certamente, o Biondi seguiria a tratar do assunto. E acredito até que estaria se divertindo e participando muito dos debates nas redes sociais... 

BoletimNPC - Como informa a apresentação disponível na página do projeto, apesar de abordar temas relacionados à economia, Aloysio procurava tratar desses assuntos em um texto “acessível, original sem os vícios da linguagem técnica dos especialistas”. Que lições ele pode deixar para os jornalistas de hoje, principalmente em relação ao cuidado com a linguagem e ao alcance dos textos?
Creio que o Aloysio só teve condições de fazer o que fez, da forma que fez, por dois grandes fatores: capacidade e vontade. Estudou muito, teve uma formação séria e dedicada (não cursou faculdade alguma, de jornalismo ou outra, é importante que se registre) e acreditava na importância e acerto em escrever um texto mais acessível, objetivo, direto, que explicasse realmente os temas para as mais variadas pessoas. Mas, para desenvolver esse texto, era necessário, mais uma vez, vontade e dedicação, pois certamente fazer as coisas com essa simplicidade não era algo simples (risos). 

Em termos de lições para os jornalistas de hoje, creio que essas características do Biondi afirmam a importância de investirmos em nossa formação, de pensarmos em nosso leitor ao escrever (e não somente em nós e em nossos colegas) e de termos, ao fundo do que estamos escrevendo, “uma ideia na cabeça”, um projeto para o país, um objetivo maior por trás do trabalho do dia-a-dia.


BoletimNPC - Na sua opinião, qual seria a atualidade do pensamento do jornalista? Como o material reunido pode servir para aprendermos sobre o Brasil dos dias de hoje?
O Brasil mudou bastante nas últimas décadas, mas estruturalmente há muitas questões que pouco se alteraram e que precisarão ainda ser muito bem trabalhadas e priorizadas pelos brasileiros, especialmente seus governantes, para que sejam efetivamente transformadas.

Se você visitar essas questões, verá que muitas delas eram abordadas nos textos do Biondi, e que os debates travados nas décadas de 1990, 80, 70 – até 50 e 60 eu diria – ainda seguem guardando grande atualidade. Assim, reler esses textos podem ajudar inclusive a ter uma perspectiva histórica e de maior amplitude e complexidade sobre o que está realmente em jogo.

Apenas a título de exemplo, o tema dos novos e gigantescos campos do petróleo brasileiro (e do papel e características da Petrobras nisso), os desafios da agricultura (e a importância da Reforma Agrária e dos pequenos agricultores), os altos juros em vigor no país, a qualidade de vida e a mobilidade nas grandes cidades, a necessidade de um desenvolvimento sustentável, a remessa de lucros das empresas estrangeiras... Todas essas questões foram abordadas pelo Aloysio em seus textos, e continuam a ter importância crucial para o Brasil.

E, claro, também as privatizações, que seguem a acontecer – de formas distintas, talvez menos absurdas do que ocorreram em décadas passadas – e que precisam ser discutidas de forma séria e bem estudada. Inclusive por terem se tornado mais sofisticadas, menos explícitas, e em determinadas situações serem ainda mais problemáticas e incorretas do que então. É por isso que o livro O Brasil Privatizado está disponível para download gratuito, por comum acordo entre a família e a editora (www.fpa.org.br/uploads/Brasil_Privatizado.pdf). Pela importância que o debate segue tendo, e pelo interesse de todos em que o livro possa colaborar nessas discussões. 

Uma dica sobre esse tema, aliás, é a produção de um especial sobre os bens reversíveis da Telebras, que, quase 15 anos após sua privatização, hoje ninguém sabe, ninguém viu, ninguém diz quantos são, quanto valem, onde estão. Um “roubo”, um “assalto”, um “absurdo” cometido pelos nossos “gerentes” – conforme o Biondi classificava essas ações e delimitava o papel de nossos governantes.


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