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Integrar as lutas pela comunicação é essencial, segundo o FML
Publicado em 03.02.12 - Por Márcia Schuler, do FNDC
O III Fórum de Mídia Livre, realizado nos dias 27 e 28 de janeiro em Porto Alegre, paralelamente ao Fórum Social Temático 2012, não é um evento fácil de definir. Para começar, não existem palestrantes ou painelistas, mas desconferencistas. A palavra é aberta para quem achar que pode contribuir com os debates, e as pautas surgem naturalmente, a partir das manifestações de cada um. E é assim, com naturalidade, que fica claro o quanto os movimentos sociais têm em comum na luta pela democratização da comunicação. Dessa gama de ideias e opiniões, surge o ponto de convergência, originando uma das principais propostas formuladas no evento: unificar os movimentos em torno de suas reivindicações comuns. Feito isso, surge a segunda grande proposta, a de levar essa luta para as ruas. Ao final do encontro, foi divulgada a Carta de Porto Alegre e um calendário de lutas.
Envolver as pessoas na luta pela democratização da comunicação também foi um objetivo recorrente, citado pelos desconferencistas. Renata Mielli, integrante do Centro de Estudos Barão de Itararé e da Executiva Nacional do FNDC, lembrou que para os movimentos envolvidos com a causa, falar nisso é parte do cotidiano, e compreender a comunicação como direito universal é algo natural.
O desafio, contudo, é fazer esse debate chegar a todos os setores sociais. “A mídia é, muitas vezes, compreendida como instrumento, não como espaço de luta política e estratégica. É essa percepção que temos que modificar”, afirmou. Ela lembrou, ainda, que a mídia livre exerce um papel importante na democratização, uma vez que é um espaço de produção de comunicação e cultura à margem dos grandes monopólios midiáticos.
A jornalista britânica Sally Burch, da Agência Latinoamericana de Informação – Alai, que dividiu a mesa com Renata, levou a discussão a uma esfera maior, uma vez que a agência está em contato com diversos países da região, tendo sede no Equador. Para ela, a mobilização dos movimentos sociais dentro de cada país é importante, mas a articulação em nível regional também deve ser pensada. “Em poucos países da América Latina a discussão em relação à democratização da comunicação é ampla. Precisamos, ao menos, nos igualar à Argentina, que já deu um passo à frente”, constatou, referindo-se à Ley de Medios. A jornalista lembrou, ainda, que ao contrário do imaginário construído em torno da América Latina – com grande influência dos meios de comunicação – os governos não são a maior ameaça à liberdade de expressão, mas sim os conglomerados midiáticos. “A comunicação é um direito, o que precisamos é converter esse direito em leis concretas”, complementou.
Integração
Das diversas manifestações proferidas pelos desconferencistas, destacaram-se as referentes à unificação dos movimentos sociais e o objetivo comum de democratizar a comunicação. Eles argumentaram que, para fortalecer a luta, as semelhanças devem falar mais alto do que as divergências.
O blogueiro Altamiro Borges, presidente do Barão de Itararé, propôs um “encontro dos encontros” para debater as pautas em comum, ideia que surgiu por diversas vezes ao longo do evento. Levar o debate para as ruas e envolver a população também foi apontado como prioridade.
O Fórum ainda tratou de diversos outros temas, tais como a capacitação da população para lidar com as novas ferramentas comunicacionais, a importância das rádios comunitárias e o Movimento 15 de Maio, da Espanha, entre outros.
A jornalista Rita Freire, da Ciranda, uma das entidades que participa da articulação do evento, destaca que o diferencial do Fórum é a capacidade de congregar os mais diferentes temas e promover discussões em diversas áreas. O próximo desafio da mídia livre, segundo ela, é preparar-se par a Rio + 20, onde o debate se voltará para o desenvolvimento sustentável.
Resistência à crise, novos meios e alternativas de comunicação
A compreensão de que a democratização dos meios de comunicação é essencial para a construção da real democracia social foi a tônica do debate Resistência à crise, novos meios e alternativas de comunicação, que ocorreu durante o Fórum Social Temático 2012, em Porto Alegre-RS.
Realizado a partir da parceria entre Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Agência Latinoamericana de Informação – Alai e Associação Latinoamericana de Educação Radiofônica – Aler, o encontro discutiu o papel da comunicação no atual cenário de crise capitalista. Participaram do debate a coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, Rosane Bertotti, Osvaldo León, representando a Alai, e Judith Gerbaldo, da Aler, com a mediação de Renata Mielli, do Barão de Itararé.
Rosane destacou a importância do FNDC como articulador na democratização dos meios de comunicação e assinalou como essencial a discussão do tema em sua dimensão pública. No contexto das revoluções articuladas por meio das redes sociais, a coordenadora ressaltou a importância das mídias e, mais do que isso, a necessidade de que haja democracia em sua distribuição. “Não adianta falarmos do papel das novas mídias, se quem está lá na ponta – na periferia, no campo – não tem acesso a elas”, ponderou.
O empoderamento dos agentes sociais por meio da comunicação também está no centro das discussões da Aler. “Percebemos que tínhamos que tratar a informação como um direito humano internacional”, explicou Judith. Para ela, tornar a palavra pública é uma forma de legitimar os setores invisibilizados da sociedade, em grande parte ignorados pela grande mídia. A Aler encara a comunicação como um espaço que atravessa e constitui os momentos sociais, e que pode – e deve – partir de dentro deles, em vez de ser visto como algo externo.
A integração entre os países da América Latina – um dos objetivos do evento – marcou a fala de Osvaldo. Ele afirma que há iniciativas para democratizar os meios na região, mas que falta intercâmbio entre elas. “Temos que tomar coragem para abrir espaço e pressionar os governos nessa direção”, declara. O encontro foi, por si só, um passo a mais rumo a essa integração, no qual prevaleceu a troca de experiências entre representantes de diversos países, mirando um objetivo comum: um outro mundo possível.
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