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Boletim do
NPC —
Nº 205
— De 15 a 30/11/2011
Para
jornalistas, dirigentes, militantes
e
assessores sindicais e dos Movimentos Sociais
Notícias do NPC
17º Curso Anual do NPC discutiu mídia e hegemonia num mundo em ebulição
O 17º Curso Anual do NPC foi realizado entre os dias 16 e 20 de novembro, no Centro do Rio. Sindicalistas, jornalistas, militantes sociais e professores participaram do evento, que neste ano teve como tema geral Comunicação e hegemonia num mundo em ebulição. Durante esses cinco dias foram realizadas mesas e oficinas sobre o papel central da mídia na disputa de hegemonia e a importância de os movimentos e sindicatos se apropriarem dessa ferramenta. Na abertura do encontro, a coordenadora do NPC, Claudia Santiago, esclareceu que a ideia do curso é construir um mundo diferente, onde as injustiças sejam combatidas e desnaturalizadas. “Esse curso vem ocorrendo há 17 anos porque acreditamos que, sem comunicação, não vamos conseguir melhorar a sociedade. Por isso vamos falar de mídia, poder, arte, política, machismo, racismo, favela, megaeventos, e muitos outros assuntos importantes para refletir sobre o mundo em que vivemos e como transformá-lo”, disse. Antes da primeira mesa do Curso, Cícero de Crato, um metalúrgico do Cariri/Ceará radicado em São Paulo e hoje formador político, cantou o belo Hino da Greve, canção de luta da Oposição Metalúrgica de São Paulo, criada no calor das greves em 1979. Neste boletim, você irá conferir alguns trechos das palestras oferecidas, além de dicas de livros e os artigos que compõem a apostila do Curso. A cobertura completa do evento está em nossa página (www.piratininga.org.br) e em nosso blog (http://blogdonpc.wordpress.com/)
Veja algumas imagens dos participantes do 17º Curso do NPC!
Os 140 anos da Comuna de Paris são tema da mesa de abertura do Curso
Foto por: Osíris Duarte
Vito Giannotti, Virgínia Fontes, Mauro Iasi e Adelaide Gonçalves na mesa sobre Comuna de Paris [Por Sheila Jacob - NPC] “Se a mídia da burguesia não fala sobre a Comuna, nós precisamos falar. Em 2011 completam-se 140 anos deste grande marco para a história das lutas mundiais”, esclareceu o coordenador do NPC, Vito Giannotti, sobre o tema de abertura do Curso do NPC: os 140 anos (1871-2011) da Comuna de Paris. Para a professora Adelaide Gonçalves (UFCE), a Comuna conseguiu cumprir seu objetivo: tornar a revolução uma festa permanente. “Foi a mais bela festa que a modernidade assistiu: foram 72 intensos e febris dias, quando a canção, o teatro e os espetáculos se tornaram protagonistas de um inesquecível movimento em direção ao sonho e à liberdade”, iniciou. Ela reforçou, ainda, que é necessário comemorar os 140 anos da Comuna de Paris. “Mas lembrar sem acomodação, enxergando o passado como o combustível da nossa luta de hoje”, disse. O professor Mauro Iasi (UFRJ) esclareceu que a imprensa francesa da época, como ocorre ainda hoje, não saudou essa experiência. “Os comunardos eram chamados pela imprensa burguesa de ‘gentalha’, ‘mal feitores’, ‘bandidos’, ‘monstros’ etc”. Ele lembrou ainda que “a Comuna é atual porque seus carrascos estão vivos, preparados para manter a ordem atual”. Virgínia Fontes (EPSJVF – Fiocruz) reforçou a importância de se lembrarem as lutas sociais, pois além da truculência física, os movimentos sofrem a violência da tentativa de apagamento de suas manifestações. Para ela, uma das principais responsabilidades da comunicação de esquerda é o registro das lutas de todo mundo. “Celebrar a vitória da Comuna é reafirmar nosso compromisso com a memória da luta popular, evidenciando a existência da luta de classes”, concluiu. Confira a cobertura completa.
De Olho No Mundo
Ignacio Ramonet, Dênis de Moraes e Pascual Serrano discutem mídia e ebulição no mundo latino, árabe e europeu
Foto por: Osíris Duarte
Pascoal Serrano, Denis de Moraes e Ignacio Ramonet [Por Marina Schneider – NPC] As transformações políticas no mundo árabe, as manifestações na Europa e o papel das redes sociais na convocação desses protestos foram alguns dos temas tratados na mesa que encerrou o primeiro dia de curso. O jornalista Ignacio Ramonet ressaltou que não foram os meios de comunicação e as redes sociais que produziram as revoltas recentes nos países árabes. Para ele, o primeiro ponto impulsionador das revoluções foi o acesso a revelações do Wikileaks, que revelaram como funcionava a corrupção nos diferentes países. A rede de televisão Al Jazeera foi o segundo elemento apontado. “Desde que foi criada, a emissora mudou a comunicação do mundo árabe e a visão que os árabes têm deles mesmos”, disse. Ramonet apontou a relevância das redes sociais na convocação das manifestações. “O Twitter não serve para criar um sentimento revolucionário. Esse sentimento de protesto já existia devido às condições materiais de existência”, ressaltou. Pascual Serrano concorda que as redes sociais não são centrais para explicar esta onda de revoltas e manifestações no mundo. O jornalista destacou a falta de um posicionamento político contundente, nas manifestações europeias. “É necessário criar algo, um partido, um movimento organizado, um sujeito político organizado. Se isso não acontecer vamos ficar em uma rede muito frágil”, afirmou. O professor da UFF, Dênis de Moraes, falou sobre as mudanças nas políticas públicas de comunicação introduzidas por governos progressistas na América Latina nos últimos anos – como Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador. Segundo ele, a área é um laboratório em andamento de experiências de combate ao neoliberalismo. O professor ressaltou que, para garantir e levar adiante mudanças, é necessário que haja pressão social organizada em torno de projetos, que não podem ser são só os dos governos. Confira a cobertura completa.
Radiografia da Comunicação Sindical
Curso do NPC discutiu, nesta quinta, os desafios da comunicação sindical
Foto por: Osíris Duarte
Everton Gimenis, do SindBancarios de Porto Alegre, fala sobre a comunicação da entidade [Por Sheila Jacob – NPC] Dezenas de jornais, revistas e materiais sindicais foram distribuídos e divulgados na manhã desta quinta-feira, quando representantes de sindicatos de todo o país apresentaram as muitas iniciativas de mídia produzidas por suas entidades. Segundo os participantes, a comunicação de qualidade deve ser vista como uma arma poderosa na formação de trabalhadores e na construção de sua luta. Todos comentaram o papel estratégico das novas redes sociais, como facebook e twitter, e ressaltaram a importância de se investir no boletim eletrônico e em um portal próprio. Mas um dos principais veículos, como mostraram, ainda é o jornal impresso, pois é o que possui o maior número de leitores. Programas de rádio e TV também foram citados como estratégicos para a divulgação e sensibilização das bandeiras sindicais. A pergunta inicial, que estava na cabeça de todos os participantes sobre qual o meio mais eficaz para os trabalhadores disputar a hegemonia na sociedade, continuou pairando no ar até o fim dos cinco dias de curso. A cada mesa novos elementos se acrescentavam às informações e impressões que cada qual carregava na sua experiência. O propósito geral do curso era que cada um, ao final, saísse com muitos elementos a mais para fazer esta disputa no dia a dia. As entidades que apresentaram suas iniciativas de comunicação foram Sindbancarios de Porto Alegre (www.sindbancarios.org.br); o Sindprevs, de Santa Catarina (www.sindprevs-sc.org.br); o Sinpro de Minas Gerais (www.sinprominas.org.br); o SINDSEP de Pernambuco (www.sindsep-pe.com.br) e o SENGE, do Rio de Janeiro (www.sengerj.org.br). Todos mostraram seus jornais, revistas, endereços nas redes sociais e produção de vídeos e suas mais variadas iniciativas de comunicação. Confira a cobertura completa.
A Comunicação que queremos
Comunicação alternativa em debate no 17º Curso Anual do NPC
Foto por Hudson Soares
. [Por Marina Schneider-NPC] A urgência de uma imprensa alternativa diária e de qualidade e os desafios para sustentar esta e todas as outras iniciativas alternativas de publicações foram alguns dos principais temas abordados pelos participantes da mesa sobre comunicação alternativa, realizada no dia 17 de novembro durante o 17º Curso Anual do NPC. O debate contou com a participação de Raimundo Pereira, da Editora Manifesto; Nilton Viana, editor do jornal Brasil de Fato; Mirian Santini, repórter da revista Pobres e Nojentas. Houve também a apresentação de um novo veículo por parte de Haroldo Cereza, editor do Operamundi e diretor de redação da recém-criada revista Samuel.
O jornalista Raimundo Pereira, que foi a alma e atuou em famosos jornais alternativos como Opinião, e Movimento, Retrato do Brasil, e Reportagem frisou que é preciso reconstruir no país uma imprensa do tipo do jornal Movimento, que mostre o país. “Precisamos de uma imprensa popular no dia a dia, mas para isso é necessário ter grandes recursos. Nós temos experiência, pessoal e tradição para fazer isso”, disse. Segundo ele, para construir uma imprensa democrática popular é preciso ir para a rua e apurar bem os fatos. Ele também ressaltou que são necessários muitos investimentos em profissionais, em editores, jornalistas e até em bons vendedores dos jornais. “A imprensa burguesa é muito forte e temos que competir com ela”, disse. Nilton Viana apresentou a experiência do semanário Brasil de Fato, que está no oitavo ano de vida e se orgulha de ser um jornal de frente de várias visões da esquerda. Um instrumento plural que cobre os movimentos sociais da cidade e do campo e que tem olhos para o Brasil, para a América Latina e para o mundo. A África, quase sempre esquecida na imprensa alternativa tem uma atenção especial no Brasil de Fato, não só neste ano de 2011, mas há tempos. Miriam Santini trouxe uma lufada de vitalidade nova vinda de Santa Catarina onde estão florescendo experiências de rádios comunitária, de revistas como a Pobres e Nojentas da qual é uma das animadoras e da vontade, por enquanto difícil de ser concretizada da criação de um veículo unificado de comunicação sindical e popular.
Confira a cobertura completa.Raimundo Pereira, da Editora Manifesto
Arte como ferramenta de disputa de hegemonia
Claudia Santiago, Marcelo Yuka e Repper Fiell em debate sobre arte e cultura . [Por Marina Schneider – NPC] A importância de se pensar a forma das manifestações artísticas e priorizar a construção conjunta da arte para fugir de estereótipos e das amarras impostas pelo capitalismo foi um ponto de convergência entre os debatedores da tarde do dia 17 durante o Curso do NPC. Participaram da mesa Arte e Política na Batalha de Hegemonia o professor da Unicamp, Edmundo Dias; o diretor de teatro da Companhia do Latão, Sérgio de Carvalho; o comunicador e músico Repper Fiell; e o músico Marcelo Yuka. O professor Edmundo Dias destacou a relevância da crítica à forma das manifestações artísticas. “Temos a tarefa fantástica de construir coletivamente uma identidade. E construir isso junto com a classe trabalhadora”, disse. O Repper Fiell, morador do Morro Santa Marta, que atua no hip hop há 15 anos, falou da importância da comunicação para que haja uma revolução e do uso da arte para informar. E o músico, poeta e ativista Marcelo Yuka disse que em sua arte quer falar de conquistas plurais, coletivas. “Minha grande ingenuidade é acreditar que felicidade pode ser plural, mas é isso que me faz sair da cama” afirmou.
Apresentação da peça Os Filhos da Comuna Após a mesa sobre a importância da cultura na batalha de hegemonia, a experiência da Comuna de Paris voltou à cena com a apresentação da peça Os Filhos da Comuna, que teve como destaque o julgamento da grande figura feminina, a revolucionária Louise Michel. A encenação foi feita pelo Grupo Artes da Ilha do Governador (GATIG – Núcleo Contra-Hegemônico), com direção e autoria de Rodrigo Malvar.
Confira a cobertura completa em nosso blog.
Do jornal à internet: a mídia na construção de uma nova sociedade
Foto por: Fernanda Soares
Renato Rovai, Beto Almeida e Altamiro Borges falam sobre jornal e internet [Por Sheila Jacob – NPC] O jornalista Beto Almeida deu início à primeira mesa de sexta-feira do 17º Curso com a defesa do jornal impresso: “Precisamos nos sensibilizar para o papel fundamental de um jornal impresso público, de massas, complementar às novas tecnologias”. Lembrou que essa iniciativa já existiu no Brasil. Durante o governo de Getúlio Vargas foi criado o Última Hora, jornal que, segundo o jornalista, cumpriu o papel de ser um veículo de massas que refletia a agenda da classe trabalhadora (a sindical urbana e a rural que começava a se organizar), em oposição à mídia hegemônica que criminalizava as lutas sociais. Para Beto é necessário seguir exemplos que estão ocorrendo em países vizinhos ao nosso. Ele citou os casos do Correo del Orinoco e do Ciudad Caracas, ambos da Venezuela; o jornal público Câmbio, da Bolívia; o El Argentino e Tiempo argentino, da Argentina; o El Telégrafo, do Equador; e o La Jornada, do México. “Precisamos nos mobilizar para enfrentar a má distribuição de recursos pelo Governo Federal. Rapidamente poderíamos ter um jornal de massas, para efetuarmos uma verdadeira disputa estética, ética e ideológica com a mídia conservadora. Tudo isso depende da nossa organização”, concluiu. Altamiro Borges, do Centro Barão de Itararé, lembrou que Lênin dizia que a luta de classes se dá em três terrenos: o econômico, o político e o das ideias. “Acho que essas três esferas estão dadas hoje. Estamos bem atrasados na terceira, temos que fazer mais”, disse. Ele também considera que o Estado brasileiro tem que ser mais pró-ativo como nos outros países latino-americanos. “Se a esquerda sabe que está lutando “contra um titã”, tem que se utilizar de todos os instrumentos de comunicação: jornal, revista, rádio, TV e principalmente a internet”, reforçou. Para o editor da Revista Fórum, Renato Rovai, a prioridade de investimento hoje deve ser a comunicação online, já que há dados recentes que mostram um aumento do acesso à internet. Rovai afirma que, apesar de boa parte das categorias representadas pelos sindicatos estar conectada à internet, como jornalistas, engenheiros e professores, isso não se reflete na política de comunicação das entidades. “Os sindicatos e os movimentos sociais precisam investir nessas novas mídias, que estão ficando cada vez mais fortes. Temos que prestar atenção a essa urgência, pois as grandes empresas de comunicação já estão fazendo isso”, concluiu.
Confira a cobertura completa.
Jornalistas falam de práticas possíveis na TV e no rádio para disputar hegemonia
Antonio Jordão (TVT), Laurindo Leal (USP) e Arthur William (TV Brasil)
[Por Marina Schneider – NPC] Para discutir práticas e passos possíveis na televisão e no rádio, o NPC reuniu, no dia 18 de novembro, Antonio Jordão (diretor de programação da TVT), Laurindo Leal (jornalista e sociólogo), Claudio Salles (músico e comunicador), Arthur William (jornalista e representante da Amarc Brasil) e Vito Giannotti (coordenador do NPC). Comentando a mesa anterior, Laurindo Leal opinou que estas disputas não podem existir. Para fortalecer o lado dos trabalhadores e da sociedade civil nesta disputa, Laurindo sugeriu a criação de uma associação de rádios e TVs sindicais. “O trabalho de uma organização nacional dessas seria um primeiro passo para que esses instrumentos deixassem de ser apenas de uma categoria para ser da sociedade”, concluiu. Concordando com Laurindo,O jornalista multimídia Arthur William explicou que antes se pensava a comunicação com base em um transmissor e que hoje o conteúdo é o “rei”. “Hoje pensamos no conteúdo sendo distribuído por diversos meios”, disse, contando a sua experiência na TV Brasil de distribuição dos conteúdos da emissora pelas mídias sociais, o chamado socialcast. Antonio Jordão lembrou o nascimento da TVT, que começou a ser gestada ainda em 1982, quando os metalúrgicos perceberam a necessidade de documentar sua história. “Nos baseamos no princípio da convergência e disponibilizamos espaço em nosso site para todos os interessados”, disse, explicando que o projeto da TVT é colaborativo, compartilhado e aberto. O exemplo da TVT pode ajudar outros sindicatos, cada um na sua situação peculiar, a dar passos decisivos na luta pela democratização da mídia e seu uso pelos movimentos sociais. Para Vito Giannotti, a TVT é um dos poucos passos tímidos que o país dá em direção a uma democratização dos meios de comunicação. “No Brasil rádio e televisão estão nas mãos da direita. São sesmarias dadas de mão beijadas a famílias e grupos econômicos que formam o verdadeiro Partido do Capital. Temos que entender a importância de lutar para ter o direito de ter rádio e TV em nossas mãos”, frisou. O coordenador do NPC destacou, ainda, a importância da televisão no Brasil lembrando que as novelas da Globo são exportadas para mais de 130 países. Claudio Salles, Presidente da Rádio Comunitária Pop Goiaba, de Niterói, com anos de atuação na defesa das rádios comunitárias, criticou a postura repressiva do governo com relação a este importante instrumento de comunicação. “Estamos em uma situação que a Anatel e o Ministério das Comunicações vigiam apenas a rádios comunitárias. O governo não está interessado em viabilizar produção de conteúdo para rádios comunitárias, está interessado apenas em limitar essa voz”, criticou. Arthur William deu uma aula sobre as possibilidades concretas da disputa de hegemonia a partir da poderosíssima ferramenta rádio e deixou o estímulo para cada participante do curso a aprofundar o tema e ver quais os passos podem ser dados rumo á democratização desta ferramenta. Confira a cobertura completa.
De Olho Na Vida
Megaventos, mídia e cidade em pauta no 17º Curso Anual do NPC
Arley, da TV Tagarela, da Rocinha, fala sobre impacto dos megaeventos nas favelas [Por Najla Passos] A expectativa da realização de megaeventos esportivos no Brasil – como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 - tem justificado intervenções nas cidades que vão muito além do campo esportivo. Com a participação fundamental da mídia, o capital internacional vem mercantilizando os espaços urbanos das cidades-sede dos eventos, à revelia dos interesses das populações locais. Nelma Oliveira, professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) acrescenta que a realização dos megaeventos se torna um espaço propício para a criação de estados de exceção extremamente autoritários e que privilegiam o capital. E, neste contexto, a mídia exerce papel fundamental para garantir o apoio popular às medidas autoritárias e anti-democráticas. A jornalista e coordenadora do NPC, Claudia Santiago, falou da violência das remoções forçadas de favelas e comunidades inteiras, sob os mais variados pretextos. Estas são tratadas como questões normais pela mídia empresarial para que a resistência a elas seja minimizada. “As ideias hegemônicas, na sociedade, são as ideias da classe dominante. E essas ideias são injustas. É a imprensa comercial que naturaliza estas injustiças na nossa vida”. Morador da Rocinha, o jornalista Arley Macedo, da TV Tagarela, disse que a escolha do Brasil e do Rio de Janeiro para os megaeventos é estratégica para os grupos de especulação urbana. O jornalista acrescenta que, entretanto, no Rio, há uma particularidade que “atrapalha” o evento e que estes grupos querem afastar. “São 1094 problemas que ninguém sabe como resolver: as favelas”, afirmou Arley.
Confira a cobertura completa.
De Olho Na Mídia
Como a mídia trata “Temas tabus”, como aborto, racismo, homofobia, machismo, mulher e favela
[Por Marina Schneider-NPC] A maneira como os meios de comunicação empresariais lidam com temas como homofobia, racismo, favela e mulher foi um dos assuntos tratados durante o 17º Curso do NPC. A mesa aconteceu no dia 18. Após lembrar sua aproximação com o funk, ritmo que fez Mano Teko, morador do asfalto, subir o morro, ele ressaltou que quando se retrata a favela na mídia do sistema o que é mostrado é só violência. “O Tropa de Elite fala de violência, no JN, a Fátima Bernardes fala de violência, o Wagner Montes fala e violência”, disse. Para o cineasta Joel Zito Araújo, autor do livro e do filme A Negação do Brasil, o negro ainda é tabu na mídia. Ele também lembrou vários casos de omissão da mídia com relação a crimes de racismo, como o do jovem dentista Flávio Ferreira Santana, morto por policiais militares por engano, em São Paulo no ano de 2004. “A mídia nunca pegou um caso desses para fazer uma campanha educativa”, ressaltou. Seu último livro, a venda na Livraria Gramsci, reafirma sua batalha contra o racismo e qualquer forma de preconceito racial. O título é a continuação do anterior: O Negro na TV Pública Brasileira. Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia, antropólogo e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia, disse que o preconceito contra homossexuais geralmente já começa em casa. Ele lembrou que a nossa Constituição proíbe qualquer tipo de discriminação, mas que não foi incluída explicitamente a questão da orientação sexual. “Queremos a equiparação com o racismo, homofobia como crime”, ressaltou. Rachel Moreno, coordenadora do Observatório da Mulher, afirma que a mídia trabalha com uma espécie de invisibilidade seletiva quando o assunto é mulher. “As mulheres não são especialistas consultadas pelos meios de comunicação, apesar de terem, em geral, quatro anos a mais de escolaridade”, criticou. “Queremos diversidade e controle social da imagem das mulheres”, reivindicou. Giovana Xavier, professora de Ensino de História e doutoranda pela Unicamp, apresentou aos participantes do Curso um pouco da imprensa negra produzida desde o final do século 19 até os anos 1960 no Brasil. Em sua pesquisa Giovana encontrou aproximadamente 38 jornais publicados entre 1889 e 1963, feitos exclusivamente por pessoas negras. “Não acho que o negro é silenciado na mídia, acho que ele é escrachado nessa mídia. E por causa desse escracho as crianças negras se sentam no final da sala de aula ou às vezes nem vão à aula quando o tema é escravidão. Eu fui uma dessas crianças”, frisou. “Temos que pensar de outra forma e incorporar isso no cotidiano”, concluiu. Confira a cobertura completa. Samba em homenagem ao Dia da Consciência Negra
Foto por Fernanda Soares
Ao final da mesa, o trio Marina Iris, Tomaz Miranda e Manuela Trindade fizeram uma apresentação musical em homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado no domingo, 20 de novembro. No repertório, clássicos do samba como Valeu Zumbi! e Um sorriso negro, que acabou sendo aplaudido e cantado pela plateia.
Democratização da Comunicação
Última mesa do Curso do NPC debate o III Plano Nacional dos Direitos Humanos e a reação da direita capitaneada pela mídia patronal
[Por Sheila Jacob - NPC] O Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH- 3), enviado para o Congresso em 2009 e aprovado com enormes alterações em 2010, foi o tema da última mesa do Curso do NPC na manhã de sábado, 19 de novembro. Para o professor aposentado Venício Lima (UNB), apesar dos avanços tecnológicos e de sua possibilidade interativa, a velha mídia tradicional continua dominando o debate público em relação a políticas de comunicação e, especificamente, do marco regulatório, que, ao contrário do que a mídia tradicional diz, poderia universalizar a liberdade de expressão e garantir mais vozes no espaço público. Marcello Miranda, do Instituto Telecom, destacou a importância de se promover debates e reflexões acerca das telecomunicações. Em relação ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), Miranda esclareceu que a proposta deve ser universalizar os serviços de banda larga, e não massificar. Ou seja, dar igualdade de condições de acesso e qualidade, e não deixar que o mercado favoreça uns poucos em prejuízo de uma maioria que, devido ao preço, só poderá ter acesso à internet com velocidade baixíssima. O professor Gilberto Maringoni (Cásper Líbero) defendeu uma campanha ampla e maciça de conscientização do direito à comunicação. “Quando falamos em comunicação, estamos falando para nós mesmos”. Segundo ele, é necessário que os setores que enxerguem essa urgência se unam para criar expressões fortes e positivas, como aconteceu com a Campanha pelas “Diretas Já”. Na opinião do jornalista, é necessário atacar principalmente a questão da propriedade dos meios. “Democracia da comunicação não é decidir qual canal assistir, mas é poder falar também. O problema é o pensamento único”, concluiu. Paulo Vannuchi, ex-ministro de Direitos Humanos do Governo Lula, esclareceu que o PNDH-3, tão criticado por jornalistas da mídia comercial/patronal, foi formulado após a realização de conferências municipais e estaduais, nas quais foram sendo recolhidos os anseios dos presentes. “O PNDH-3 evidencia a realidade concreta da luta institucional no Brasil, pois os ataques ao Plano foram desencadeados de dentro do próprio Governo”, analisou. Vannuchi disse considerar que essa batalha ainda não foi vencida. “Eles não ganharam, e não ganharão. Nós ainda não vencemos”, destacou, defendendo que cabe apostar na onda de mudança. “É necessário ampliar o diálogo em torno da comunicação, o governo Dilma precisa ser mais ousado nisso. Os movimentos sociais precisam estar organizados na defesa e na cobrança de mecanismos que possibilitem a democratização da comunicação”, concluiu. Confira a cobertura completa.
MEMÓRIA da ditadura civil-militar de 1964
Filme Cidadão Boilesen e debate sobre o papel das empresas no apoio à Ditadura encerram 17º Curso
No domingo (20.11), encerramento do Curso do NPC, foi exibido o documentário Cidadão Boilesen, um rico trabalho de reportagem dirigido por Chaim Litewski. O filme mostra a participação da sociedade civil na preparação do Golpe de 1964 e o papel de empresários no financiamento das torturas e execuções dos chamados “subversivos” realizadas durante a ditadura civil-militar. O palco do filme é São Paulo, com seu DOPS e sua Operação Bandeirantes (OBAN). O filme foca na vida do dinamarquês Henning Boilesen, presidente do grupo Ultra, da Ultragaz, que foi assassinado em 1971 por militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), e chegou a virar nome de rua em São Paulo. Além de contribuir financeiramente, ele participava pessoalmente das torturas e trazia dos Estados Unidos, equipamentos para serem usados nas sessões de violência contra os presos políticos. O dinamarquês foi o inventor de uma ferramenta de tortura que emitia choques elétricos, que viria a ser conhecida como Pianola Boilesen.. Após a exibição do filme, foi realizado um debate com os jornalistas Alípio Freire (Brasil de Fato) e Chico Otavio (O Globo), além dos professores Esther Kuperman (UERJ) e Reginaldo Moraes (Unicamp). Eles destacaram a importância de o filme abordar principalmente a participação da sociedade civil na ditadura, o que muitas vezes é deixado à margem da história. Eles também lembraram que Boilesen foi um exemplo, mas muitos empresários que, como ele, apoiaram e mantiveram a ditadura, continuam por aí, tão intocáveis quanto todos os torturadores e assassinos de Estado, dos quais ninguém foi punido até hoje. Confira o trailer do filme
Dicas: livros de palestrantes do 17º Curso
Artigos
Apostila completa do 17º Curso Anual do NPC
Confira em nossa página, a apostila do 17º Curso Anual do NPC. A publicação reúne artigos sobre o hino “A Internacional” (Victor Neves); a Comuna de Paris (Mauro Iasi); a batalha pela democratização da comunicação na América Latina (Dênis de Moraes); a mídia e as ditaduras amigas (Ignacio Ramonet); a comunicação do SINDSEP-PE (Fabíola Mendonça); a revista Pobres e Nojentas (Mirian Santini); a comunicação que queremos (Nilton Viana); a blogosfera e a luta pela democracia (Altamiro Borges); a urgência de um jornal impresso público no Brasil (Beto Almeida); o atraso brasileiro na lei de radiodifusão (Laruindo Leal); mídia e megaeventos (Nelma de Oliveira); direito à comunicação no PNDH-3 (Venício Lima); relações ambíguas do governo com a mídia (Gilberto Maringoni); linguagem e contra-hegemonia (Vito Giannotti); radiojornalismo comunitário (Dioclecio Luz), dentre outros temas. Confira.
Do jornal à internet: hegemonia e luta de classes
[Por Silvio Mieli/ PUC-SP] (...) A mídia impressa corporativa passou a abdicar daquele exercício de aprofundamento mínimo diante de uma realidade cada vez mais complexa. Os jornais e as revistas, com poucas exceções, viraram espécies de catálogos de lojas de departamentos, deixando de darem sentido e significado para o que acontece. Ou, se quisermos, deixando de manifestarem aquela paixão pelo presente da qual nos falava Foucault. Leia o texto completo.
Expediente
Núcleo Piratininga de Comunicação
Rua Alcindo Guanabara, 17, sala 912 - CEP 20031-130 Tel. (21) 2220-5618 www.piratininga.org.br / npiratininga@uol.com.br Coordenação: Vito Giannotti Redação: Sheila Jacob, Marina Schneider e Najla Passos Fotos: Claudia Santiago, Fernanda Soares, Hudson Soares, Kátia Marko, Marcelo Souza, Osíris Duarte Edição: Claudia Santiago Web: Luisa Vieira Souto
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Notícias do NPC
17º Curso Anual do NPC discutiu mídia e hegemonia num mundo em ebulição
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Os 140 anos da Comuna de Paris são tema da mesa de abertura do Curso
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Radiografia da Comunicação Sindical
Curso do NPC discutiu, nesta quinta, os desafios da comunicação sindical
A Comunicação que queremos
Comunicação alternativa em debate no 17º Curso Anual do NPC
Arte como ferramenta de disputa de hegemonia
Do jornal à internet: a mídia na construção de uma nova sociedade
Jornalistas falam de práticas possíveis na TV e no rádio para disputar hegemonia
De Olho Na Vida
Megaventos, mídia e cidade em pauta no 17º Curso Anual do NPC
De Olho Na Mídia
Como a mídia trata “Temas tabus”, como aborto, racismo, homofobia, machismo, mulher e favela
Democratização da Comunicação
Última mesa do Curso do NPC debate o III Plano Nacional dos Direitos Humanos e a reação da direita capitaneada pela mídia patronal
MEMÓRIA da ditadura civil-militar de 1964
Filme Cidadão Boilesen e debate sobre o papel das empresas no apoio à Ditadura encerram 17º Curso
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