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Boletim do NPC Nº 20De 1 a 15/4/2003
Para jornalistas, dirigentes, militantes
e assessores sindicais e dos Movimentos Sociais



Notícias do NPC


Ciclo de debates sobre marxismo e história na UFRJ

O Centro Acadêmico Manuel Maurício de Albuquerque, o Grupo de Estudos Marxismo e Teoria da História e o Boletim Pé na Jaca promovem Ciclo de debates sobre Marxismo e História, durante todo o primeiro semestre de 2003. As palestras serão realizadas na sala 106 do Instituto de Filosofia da UFRJ, sempre às 18h. A primeira mesa na quinta, dia 3, reuniu os professores Eurelino Coelho (Univ. Estadual de Feira de Santana) e Virginia Fontes (UFF) em debate sobre Classes Sociais e Teoria da História. Na sexta, além de debate com o professor Daniel Aarão Reis foi feito o lançamento da revista “Crítica Social”, editada pelo jornalista Aquile Lolo.

Comunicação e disputa de hegemonia: o jornal Brasil de Fato

No dia 16 de abril, o ciclo traz engenheiro Sérgio Almeida e o coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), Vito Giannotti para falar sobre o Jornal Brasil de Fato dentro da perspectiva de Disputa de Hegemonia. Ambos são do Conselho Político da publicação.



Mídia Vigiada discute o poder da TV, filmes e imprensa

A rede está com uma nova página sobre comunicação. É Mídia Vigiada, que reúne artigos de Sérgio Domingues, membro do Conselho do Núcleo Piratininga de Comunicação. A maioria dos textos faz a crítica da TV, esse veículo monopolizado e, por isso mesmo, muito abusado quando se trata de defender os interesses dos poderosos. Há também artigos sobre filmes, a imprensa escrita, além daqueles que falam sobre política em geral. Como Sérgio é assessor do Sindicato dos Trabalhadores em Previdência de São Paulo, é possível encontrar material sobre a previdência social. Principalmente, sobre as propostas de reforma do setor. O visual da página é limpo e bem-feito. O responsável é o web-designer Edson Neves, também integrante do NPC e criador da página do Piratininga. endereço é www.midiavigiada.kit.net. Visitem!



Complexo da Maré está na página do Elos

O ELOS - Núcleo de Estudos Locais em Saúde, da ENSP-Fiocruz acaba de disponibilizar em sua página na internet, o acesso Obra Aberta, que, neste momento, traz uma importante conexão com a realidade do Complexo da Maré, símbolo da realidade social de nosso país. O endereço é www.ead.fiocruz.br/elos e o internauta deve seguir os passos: sistema Observatório de Saúde/ Obra Aberta/Grafite na Maré. “As imagens demoram um pouco para baixar, mas vale a pena esperar. Depois, cliquem para divulgar a opinião de vocês, porque é importante contar com a opinião de quem compartilha o ponto de vista da educação popular”, diz Eduardo Stoltz, membro do Elos.



Sindicato americano lança página em espanhol

Refletindo o crescimento substancial da população de origem hispânica nos |Estados Unidos, o UAW lançou a tradução para o espanhol de parte de seus materiais na internet, tornando-se o primeiro grande sindicato no país a oferecer uma segunda língua na internet.Esse setor de sua pagina foi lançado recentemente e é dirigido tanto para os trabalhadores associados ao UAW que falam espanhol quanto á futuros associados, proporcionando-lhe  ferramentas para uma melhor comunicação e os envolvendo no processo e nas atividades sindicais . A seção hispânica da pagina do UAW oferece informação sobre o sindicato, a quem ele representa _ não apenas da industria automotiva, mas também enfermeiras e outras categorias , como ele funciona, as vantagens de se associar, como são gastas as mensalidades, como o sindicato é dirigido, o trabalho de seus departamentos, etc.  Existe uma seção sobre questões de organização e a versão on-line, em espanhol, da revista "Solidariedade". O espanhol é  a segunda linguagem  nos Estados Unidos, com cerca de 28 milhões de falantes. Aos que quiserem conhecer a pagina ela está em :i] contra a guerra ao Iraque. Bienvenido a la UAW! http://www.uaw.org/es/index.cfm

(Boletim da CNM-CUT)



Campanha anti-baixaria altera programação da Rede TV

A campanha contra a baixaria na TV, promovida pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados, já começa a produzir resultados concretos. Por determinação do Ministério Público de São Paulo, o programa do apresentador João Kléber, da Rede TV, terá que mudar de horário. A alteração deverá ser exigida pela Secretaria Nacional de Justiça. A representação recebida pela CDH contra o programa tem como base denúncia de que o apresentador banaliza os valores éticos e inclui cenas de violência e de conteúdo sexual. "É uma verdadeira exploração da miséria humana", afirmou o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), coordenador da campanha, criada no ano passado durante sua gestão na CDH.

O deputado destacou que, de acordo com as denúncias, o programa foi considerado o pior da televisão brasileira, seguido pelos apresentados por Ratinho, Gugu Liberato, Sérgio Malandro e Faustão. Os promotores paulistas Vidal Serrano Júnior e Motari Ciocchetti de Souza argumentaram que o programa de João Kleber não pode ser exibido no atual horário porque seu conteúdo "estimula a população a resolver os seus problemas com violência, além de comercializar a dignidade da pessoa humana".

A campanha contra a baixaria foi lançada ano passado com o objetivo de melhorar a qualidade da programação da TV brasileira. A campanha acompanha a programação das emissoras para verificar quais programas desrespeitam as convenções internacionais assinadas pelo Brasil, os princípios constitucionais e a legislação em vigor que protegem os direitos humanos e da cidadania.

(Agência Informes PT)




A Comunicação que queremos


Cariocas foram ao João Caetano dar boas-vindas ao Brasil de Fato

Foto gentilmente cedida por Samuel Tosta

 

(Beth Carvalho, João Pedro Stédile e Noca da Portela)

 

Foi no dia 2 de abril, no Teatro João Caetano, na tradicionalíssima Praça de Tiradentes, no Centro do Rio. Não poderia diferente. Com uma roda de samba, repleta de bambas, animada por Noca da Portela e com a presença de Beth Carvalho, os cariocas saudaram o nascimento do Jornal Brasil de Fato. Estava lá gente de todas as idades, de diversos bairros, de várias tribos: movimento popular, estudantes, professores, sindicalistas, militantes de partidos políticos, intelectuais e jornalistas de vários matizes. Do PSTU ao PDT.

 

Naquele momento os unia a certeza da necessidade de se construir uma imprensa alternativa no Brasil. Além da boa música, o ato contou com a fala de quatro pessoas, amigas íntimas da nova publicação. O coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), Vito Giannotti; o professor da Faculdade de Educação da UFF, Gaudêncio Frigotto; o engenheiro e um dos coordenadores do Plebiscito da Dívida Externa, Sérgio Almeida; e o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile. Sérgio, Vito e Frigotto fazem parte do Conselho Político do Brasil de Fato.

 

Vito lembrou em sua fala das muitas publicações anarquistas do início do século. Os jornais diários do PCB, na década de 40. A imprensa alternativa dos anos 70 e a nossa gloriosa e numerosa imprensa sindical cutista. Foi buscar em Gramsci e seus Cadernos do Cárcere a inspiração para falar da importância da comunicação na disputa de hegemonia. E nos ensinou como se briga pelo nome de uma publicação. Segundo Giannotti, quando o  Partido Comunista Italiano (PCI) rachou, em 1992, o grupo majoritário que viria a criar o PDS (Partito Della Sinistra) abriu não de tudo. Não quis saber do nome e muito menos do símbolo, a foice e o martelo. Mas o nome jornal porém, L`Unitá, ah!, disso, eles não abriram mão. O nome do partido passou a ser PDS, com nova roupa e novíssima ideologia mas com um jornal que se chamava L`Unitá, o nome do jornal do velho partido comunista italiano. O Jornal Brasil e Fato se insere nesta longa trajetória das publicações de esquerda.

 

João Pedro Stédile estava particularmente inspirado neste dia. Fez um belo discurso. A defesa da arte como forma de comunicação direta e profunda com o povo, e da cultura brasileira como resistência contra a ideologia neoliberal e seu pólo difusor, o imperialismo americano, foram constantes. “Daqui a pouco vocês vão esquecer o que eu e Vito dissemos aqui, mas não esquecerão deste espetáculo proporcionado por Noca da Portela e seus convidados”.

 

Também não é assim, João Pedro. Eu perdi minhas anotações. Estava mais preocupada em vibrar com a cerimônia e em conversar com minha filha de 16 anos sobre o significado daquele ato do que em fazer matéria para o Boletim do NPC. Mas suas palavras, as de Vito, Sérgio e Frigotto continuam martelando na cabeça. Assim como o sorriso de Beth Carvalho quando abraçou o líder do MST, João Pedro Stédile, continua refletido na retina. Parecia que ela estava abraçando todos os sem-terra deste país. “Este é o nosso país, esta é nossa bandeira...’, cantou Beth.

 

(Por Claudia Santiago)

 

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Editor do Brasil de Fato é homenageado pelo Grupo Tortura Nunca Mais

O editor do jornal Brasil de Fato José Arbex Jr. foi um dos homenageados na 15º edição da medalha Chico Mendes de Resistência, na noite do dia 1º de abril, no teatro João Teotônio, no Centro do Rio. O jornalista dedicou o prêmio a todos os que o têm ajudado a fazer um jornalismo autêntico. Na sua opinião isso significa um jornalismo que denuncie “a vagabunda elite brasileira e o terrorista fraudador de urnas que ocupa a Casa Branca e mostre a alegria do nosso povo”.  Entre os citados por Arbex estão o MST, o MAB, a Cáritas, as Pastorais da Igreja Católica, o Movimento Sem-Teto e o Hip-hop. A medalha foi entregue pelo também jornalista Fritz Utzeri, que recebeu a premiação em 2001.

 

Quem é José Arbex

O brilhante jornalista José Arbex poderia ter feito carreira fácil e financeiramente compensatória na imprensa comercial. Foi repórter de vários jornais como a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo onde cobriu fatos definitivos para a história da humanidade, como a queda do Muro de Berlim. Não quis. Optou uma carreira independente e a serviço dos que sofrem as maldades de sistemas injustos. Provavelmente por isso tenha aceitado a árdua tarefa de dirigir o primeiro jornal de esquerda de massas publicados no Brasil nos últimos 20 anos, o Brasil de Fato. Ele é doutor em História Social Contemporânea pela Universidade de São Paulo e autor de 11 livros. O 11º “A Mídia e o Terrorista” está no prelo.  

 

O prêmio

A Medalha Chico Mendes de Resistência é ofertada anualmente pelo Grupo Tortura Nunca Mais a personalidades que se dedicaram ou se dedicam à luta pelos direitos humanos e pessoas que foram vítimas da violência. Graciliano Ramos, os presos do MST em Cárceres, a guerrilheira do Araguaia desaparecida aos 29 anos em 16 de maio de 1945, Dinalva Oliveira Teixeira; o militante comunista assassinado sob tortura em 29 de dezembro de 1972, no DOI/CODI do Rio de Janeiro; os mortos na Chacina de Vigário geral, Padre François Marie de I’Espinay, Movimento Italiano, I disobbedienti, os brigadistas brasileiros na Guerra Civil espanhola e as auditorias fiscais que coordenam o Grupo de Erradicação ao Trabalho Forçado são os outros homenageados de 2003.




De Olho Na Mídia


A guerra das TVs

Tão rápida foi a consagração da TV como instrumento de jornalismo, quanto está sendo o seu desgaste, na opinião dos observadores mais atentos da cobertura no Iraque. De fato, estão muito perceptíveis, de uma parte, as restrições à liberdade de informação, praticadas por repórteres e comentaristas; de outra, o uso da TV, por parte dos militares. Nos dois casos, o propósito comum de manipular a opinião pública.
O problema não é novo, mas está produzindo contaminações sobre o jornalismo impresso e, a propósito da guerra no Iraque, equívocos dos leitores/espectadores sobre as causas e práticas antijornalísticas. A integração dos repórteres às colunas do ataque anglo-americano e as fardas por eles usadas estão vistos como atestados do seu servilismo, na difusão de notícias moldadas pelo interesse militar. Estar integrado à tropa não é, por si só, comprometimento algum, é necessidade, para acompanhar as operações. Assim é desde que há reportagens em frente de guerra.
O uniforme para correspondentes de guerra também é antigo, com a finalidade de evitar fatos como a morte do repórter da TV inglês, confundido com iraquianos em fuga e baleado por "fogo amigo" logo no segundo dia da guerra no Iraque. Rubem Braga, Joel Silveira e os demais correspondentes brasileiros vestiram os seus uniformes da FEB, na qual foi adotada, inclusive, a patente de capitão para os jornalistas, como nas tropas de muitos outros países.
Na guerra, como na paz, as deformações jornalísticas são, sempre, decorrentes de predisposição à subserviência, pelo jornalista, ou de posição impositiva definida pela direção (não esqueçamos que a posição, por mais condenável que seja, é executada por jornalistas).
Antes da guerra no Iraque, a operação para derrubar Hugo Chávez, na Venezuela, deveria servir como alerta sobre os problemas de contaminação da TV sobre os jornais. Até as imagens se tornaram operadas com má-fé e, assim foram distribuídas mundo afora. Nas manifestações anti-Chávez, as câmeras abriam-se para dar impressões extensivas. As manifestações pró-Chávez nunca foram tomadas com o que o leigo chamaria de panorâmicas. Grandes teleobjetivas eram usadas para enfocar apenas um pedaço de manifestação, de preferência onde fosse já rarefeita. As fotos para imprensa adotaram os mesmos recursos.
O que foi feito na Venezuela está em aplicação, agora com o refinamento da experiência às manifestações antiguerra. Muitos raras e rápidas foram as chamadas panorâmicas. Tornou-se norma o truque de enfoques individualizados e sucessivos - uma criança, uma carta, ou outra pessoa - em vez de mostrar a manifestação extensamente. A CNN, para citar um exemplo, dedicou razoável tempo à imensa manifestação em Nova York - mas só enfocando e entrevistando três hispanos-americanos. Da manifestação mesmo, nada.
Como o material é quase todo o mesmo para todas as televisões, distribuído pelas agências ou vendido pela estação que o realizou, o espectador é vitimado sem diferenciação de fronteiras. Mas não só por infidelidade direta da TV.
Em um encontro da Associação de Jornalistas Europeus, ao qual compareci como palestrante, José Comas, jornalista de primeiro time do melhor jornal da atualidade, o espanhol "El País", abordou com irritação incontível um problema novo, particularmente inquietante para quem ostenta a sua admirável carreira de correspondente internacional.
Repórteres de jornal deslocados para eventos maiores estão indo aos fatos cada vez menos. É mais fácil ficar diante da televisão no hotel, passando de canal a canal. Quem veja a TV internacional encontrará no dia seguinte, como trabalho do correspondente, uma entrevista com um professor em Jerusalém, ou lá o que seja, que na véspera foi vista na BBC, ou na CNN ou F5.
Desse comodismo que se alastra resulta, primeiro, a uniformização mediocrizante do noticiário. O que faz um pouco de diferença é a maneira, pior ou melhor, como cada jornal expõe o material idêntico. O outro resultado, ainda mais grave, é que os jornais se tornam difusores das manipulações que o noticiário da TV tenha sofrido. No caso da Venezuela, tal contaminação foi escandalosa.
Por tudo isso, é indispensável ressaltar o mérito da RTPi, a TV portuguesa de transmissão internacional, que está dando a todas as concorrentes, com sua cobertura da guerra no Iraque, lições admiráveis de reportagem e de ética. Isso, em um país cujo governo apóia Bush, Blair e a guerra.

(por Jânio de Freitas)



A dor dos outros não sai no jornal?

No noticiário sobre a invasão norte-americana no Iraque, os telejornais brasileiros trouxeram à cena um drama peculiar. Entrevistaram um "brasileiro" que se alistara no exército ianque e estava lá, um pouco ao sul de Bagdá. O garoto repetia as sandices dos seus chefes: "viemos libertar o Iraque...". Do outro lado do mundo, a mãe do rapaz, justificadamente aflita, pedia aos anjos que protegessem seu menino. Um drama, de fato. Mas, além disso, uma triste comédia de erros.

O garoto, que era brasileiro,  alistou-se em um exército estrangeiro, obedece às ordens de um chefe de estado estrangeiro e atravessou milhares de quilômetros, armado até os dentes, para combater em uma guerra condenada pelo governo eleito de seu país  (eleito sem fraude, aliás). Eis o primeiro elemento: o rapaz, confiante nas ordens de seus chefes e orgulhoso de sua farda, não é mais brasileiro - com aquilo que fez, disse claramente que optava por outra cidadania. Escolha legítima. Mas, escolha.

Quanto aos anjos, se protegerem esse menino, ele poderá, com toda a segurança, metralhar outros meninos e suas mães numa eventual velha caminhonete de iraquis miseráveis. Os jovens iraquis talvez gostassem de dizer a frase conhecida no Brasil: se a mãe de alguém tem que chorar, melhor que não seja a minha. O que seria do mundo se os anjos tivessem protegido os meninos de Hitler? Se amanhã os chefes do menino "decidirem" que devem "libertar" o povo brasileiro de um governo "do mal", talvez o menino precise invadir Brasiília, matar seus antigos compatriotas, para colocar na direção da Petrobrás um executivo de uma das "sete irmãs" e, no comando da Amazônia, um coronel ianque.

De um lado, o drama humano e compreensível de uma mão que não consegue fazer caber, na sua dor, os despautérios dos "civilizadores" a que se subordina seu filho, obedecendo ordens de um governo que escolheu obedecer. De outro, o drama, igualmente humano (ou não?) daqueles que ele irá matar, do alto de seu B-52 ou na artilharia de um Patriot, na direção de um tanque U.S. Abrams.

Apesar do festival de luzes de ribalta, em que parecem estar sendo transformadas as guerras recentes, isto não é um filme -- aqui, os atores não sobrevivem à morte dos personagens.  Há muito tempo atrás, um poeta que habitava a sede de outro império estúpido, escreveu uns versos que, talvez, pudessem ser dirigidos às mães de tantos outros garotos que atravessam oceanos, enfiados em fardas enganosamente elegantes, para uma aventura que se revela pesadelo. Acho que é atual e quem sabe sirva de consolo, já que não resta alternativa: 

(Por Reginaldo Moraes)



Ditadura americana

O jornalista norte-americano Philip Smucker, que cobria a guerra contra o Iraque para os jornais "Christian Science Monitor" e "Daily Telegraph" foi expulso do Iraque pelo Exército do seu país por ter dado informações que desagradaram o Comando Central do Exército norte-americano. O jornalista foi escoltado por fuzileiros navais e foi levado para o Kuait. O Pentágono não gostou do relato feito por Philip porque ele estaria fornecendo "em tempo real posições, localizações e atividades de unidades engajadas em combate". O jornal "Christian Sciense Monitor" contesta a acusação: "Não nos parece que ele tenha revelado qualquer coisa que não estivesse amplamente disponíveis em mapas e reportagens de rádio, jornais e televisões americanos e britânicos".



Jornalista demitido por conceder entrevista à TV iraquiana já tem novo emprego

O jornalista norte-americano Peter Arnett, 68 anos, famoso por sua cobertura da primeira Guerra do Golfo em 1991 para a rede de TV norte-americana CNN, foi contratado pelo Daily Mirror, único jornal popular britânico contrário à invasão do Iraque.  "Demitido pelos Estados Unidos por dizer a verdade, contratado pelo Mirror para continuar a dizê-la", diz a manchete do jornal desta terça, dia 1º de abril. Arnett foi afastado da rede NBC e da revista National Geographic por ter dito em entrevista à televisão iraquiana que os planos de guerra dos Estados Unidos estavam fracassando. "Agora a América está reavaliando o campo de batalha, adiando a guerra, pode ser por uma semana, e reescrevendo o plano de guerra. O primeiro plano fracassou por causa da resistência iraquiana. Agora eles estão tentando escrever outro plano", disse Arnett em trechos mostrados por alguns canais via cabo nos Estados Unidos. 

                                                                                                    (www.vermelho.org.br)



Repressão também na Fox News

O também jornalista de televisão Geraldo Rivera foi declarado por autoridades militares dos Estados Unidos "persona non grata" na ofensiva contra o Iraque, porque ele teria divulgado no ar a posição de unidades norte-americanas. "Posso confirmar que (...) foi pedido para que ele abandone a unidade em qual se encontrava", declarou o comandante Charles Owens, porta-voz militar, contatado no Comando Central americano no Catar.

Segundo informações da imprensa, a punição teria sido imposta depois de o jornalista traçar um mapa na areia e revelar deslocamentos de tropas norte-americanas no momento em que fazia uma reportagem ao vivo para a rede de televisão Fox News. Rivera, de origem porto-riquenha, é famoso na televisão norte-americana há décadas. Ele já apresentou o programa "Show de Geraldo" e durante a guerra no Afeganistão foi correspondente da rede Fox.

(www.vermelho.org.br)

 



Al Jazeera diz que usou liberdade de expressão

 (Entrevista concedida ao repórter Fernando Canzian (FSP) por Emad Musa, chefe de produção da Al Jazeera em Washington)

A TV árabe Al Jazeera, baseada no Qatar, foi posta contra a parede nos EUA por ter veiculado imagens de soldados norte-americanos mantidos como prisioneiros e sob interrogatório de militares iraquianos, logo no início da guerra. As imagens originais eram da TV iraquiana e foram retransmitidas pela Al Jazeera em todo o mundo, inclusive para os assinantes da emissora nos EUA. Depois de terem atendido pedido do secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, para que não reproduzissem as imagens, as principais redes de TV dos EUA entrevistaram dirigentes da Al Jazeera. Na CNN, especialmente, o tom das perguntas foi fortemente crítico e agressivo.

Folha - Como o sr. analisa a reação da mídia americana contra a sua emissora?
Emad Musa - Infelizmente, é mais um sintoma de como eles trabalham, na dependência de informações oficiais. Logo depois de terem ouvido o secretário Rumsfeld condenar as imagens dos prisioneiros da TV iraquiana, que nós retransmitimos, eles imediatamente pularam sobre nós sem pensar um minuto em não adotar a linha oficial ou em considerar que tratava-se somente de liberdade de expressão.
Nós não somos um canal de TV aberta. As pessoas que nos assistem pagam US$ 22,00 ao mês para poder ver o material que produzimos. Logo, eles querem ver tudo o que temos para mostrar.

Folha - Vocês foram pressionados por alguma autoridade?
Musa- Fomos indiretamente pressionados, como todos os outros canais. Mas mostramos as imagens nos Estados Unidos também, onde temos 140 mil assinantes. Não temos transmissões diferenciadas para o mundo árabe e para os EUA. Mesmo que tivéssemos, mostraríamos as imagens dos prisioneiros aqui. Não acho que as coisas possam ser resolvidas com pressões deste tipo.

Folha - E a suposta violação da Convenção de Genebra?
Musa - Nossa rede tem seis anos e meio e crescemos quebrando tabus. Se as informações forem importantes, vamos transmitir. Não nos envolvemos em política. Não podemos escolher a quem a notícia vai beneficiar. Temos 45 milhões de pessoas que nos assistem e que dependem de nós. Se não apresentássemos essas imagens, iriam buscá-las em outro lugar.  
 

 

Al Jazeera pede garantia de segurança para repórteres no Iraque
A emissora de televisão Al Jazeera, com sede no Qatar, pediu hoje aos Estados Unidos que garantam a segurança de seus correspondentes no Iraque depois que a artilharia norte-americana atingiu um hotel onde uma das redações do canal está localizada.

Em uma nota divulgada pela rede de TV, a Al Jazeera disse que pelo menos quatro balas atingiram o Hotel Sheraton, em Basra. A TV é a única rede internacional com repórteres na cidade do sul do Iraque, que está cercada por tropas britânicas e norte-americanas.

"Devido a este incidente, o canal via satélite Al Jazeera enviará outra carta ao Pentágono frisando a sua apreensão pela segurança dos seus repórteres no Iraque. [...] A rede de notícias notificou oficialmente o Pentágono em Washington de todos os detalhes relevantes relativos a seus repórteres cobrindo a guerra do Iraque", disse a nota.

A Al Jazeera transmitiu imagens do Sheraton bombardeado, com um buraco em um dos lados do prédio. A piscina do hotel, que não está sendo usada, também foi atingida.

A emissora está sendo criticada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido por levar ao ar imagens explícitas da invasão, especialmente de soldados britânicos e norte-americanos mortos.

A maior parte dos espectadores árabes considera a cobertura de guerra da rede como mais abrangente e imparcial do que a mídia ocidental.

(Reuters)



Campanha pede boicote a artistas "amantes de Saddam"

O jornal americano New York Post publicou uma lista de astros do cinema, música e TV contrários à guerra, pedindo o boicote a seus filmes, shows e programas. 

Washington - Um jornal americano lançou uma campanha de patrulhamento a atores e músicos americanos contrários à guerra no Iraque. O tablóide nova-iorquino New York Post publicou na sua edição de hoje um texto em que pede o boicote a uma lista de estrelas do cinema e da música. O jornal chama os artistas, entre os quais estão Martin Sheen, Danny Glover e Susan Sarandon, de "amantes de Saddam".

 

O texto informa quais são as atrações em que se pode ver os atores pacifistas e pede explicitamente o boicote aos programas e filmes "das estrelas que se opõem à libertação do Iraque do assassino de massas Saddam Hussein e seus comparsas violadores". Outras vítimas do pedido de boicote
são Tim Robbins, Laurence Fishburne, Sean Penn, Samuel L. Jackson, Alfred Woodward, a roqueira Sheryl Crow, a banda Limp Bizkit e Jackson Browne.

 

"Todos os pontos de ônibus da cidade têm cartazes de Good Fences, com Danny  Glover, mas seguramente há melhores maneiras de gastar dez dólares", diz jornal. Sobre Susan Sarandon, o NY Post afirma que "atualmente, pode ser boicotada deixando-se de ver a minissérie Children of the Dune, que começou domingo no canal Sci-Fi". Agressivo, o texto tem frases como "não ajude estes amantes de Saddam". E pede boicote também a shows dos músicos anti-guerra.

 

As datas e locais das próximas apresentações de Sheryl Crow, Limp Bizkit e Jackson Brown foram divulgadas pelo jornal, também para pedir o boicote. Um parágrafo inteiro é dedicado ao trio de country music texano Dixie Chicks. Na semana passada, a cantora Natalie Maines se disse envergonhada de que George W. Bush também é do Texas. O resultado foi uma onda de boicote em rádios e destruição de seus CDs em praça pública. Martin Sheen, que interpreta o presidente dos Estados Unidos no seriado The West Wing e participou de manifestações contra a  guerra, viu ser cancelada a campanha do cartão de crédito Visa em que ele é o garoto propaganda. A Visa negou qualquer relação com a posição de Sheen.

 

São tão fortes os temores de que uma reedição do macarthismo, a  famigerada caça às bruxas pós-guerra, esteja surgindo nos EUA que o Screen Actors Guild, sindicato dos atores americanos, denunciou há dias a existência de uma lista negra de atores. A lista teria a função de impedir os atores contra a guerra de trabalhar.

(Por Humberto Miranda do Nascimento, texto enviado para o Boletim do NPC por Marcia Kiuh)



Trabalhos escolares antiguerra causam suspensão nos EUA

Dois professores em Albuquerque, no Estado norte-americano do Novo México, foram suspensos no início da semana por exibirem trabalhos de seus alunos que tinham relação com a guerra. A informação foi dada por funcionários da escola. Os trabalhos eram parte de um projeto com o objetivo de retratar as visões dos estudantes a respeito da guerra, e incluíam tanto trabalhos favoráveis ao ataque quanto contrários, segundo informações de funcionários da escola de ensino médio Highland. O porta-voz das escolas públicas de Albuquerque, Rigo Chavez, disse que a suspensão foi baseada na "política de questões controversas em sala de aula." "Questões controversas podem ser discutidas no contexto das discussões em classe, mas se a discussão for completada com trabalhos artísticos ou peças, esse material deve ser removido," disse Chavez.

Em um acontecimento parecido, dois professores de uma escola próxima foram suspensos sem receber pagamento em março por recusarem-se a tirar da classe seus próprios símbolos antiguerra.



Cadê as armas?

Em 2002, a CIA, o serviço secreto de espionagem e imprensa dos Estados Unidos, teve US$ 30 bilhões no Orçamento (fora as verbas secretas) para "inteligência e imprensa". Em 2000, a Usis, serviço norte-americano de propaganda externa, teve também no Orçamento, US$ 2,5 bilhões. 

Com a guerra, essa grana dobrou, triplicou. Isso explica muita coisa. Explica, por exemplo, por que a mídia norte-americana (a escrita e impressa lá e a escrita, traduzida e impressa aqui e quase no mundo todo) passou meses e meses dizendo que Bush ia invadir o Iraque "para destruir as armas químicas e bacteriológicas e todas as armas de destruição de massa" do Iraque. 

Dias depois que a invasão começou, O Iraque não usou nenhuma arma de destruição em massa. E, pelo contrário, quem está usando todo tipo de armas de destruição em massa, destruindo em massa um país inteiro, são os Estados Unidos e a Inglaterra. A Igreja tem razão. Não existe hoje no mundo instituição mais venal, corruptora, sórdida e despudorada do que certa TV e certa imprensa internacional.

                                                               (Sebastião Nery - Tribuna da Imprensa - 24/3/03)



Khan Mujar e Ezzuhur

A "imprensa bushada" disse que os mísseis haviam destruído, em Bagdá, "duas residências presidenciais de Saddam, uma delas com a forma de castelo". Ao menos aí tenho certeza absoluta de que estão mentindo mesmo. O Khan Mujar, o "palácio dos hóspedes", era um hotelão onde o governo hospedava seus convidados. E o Ezzuhur, antigo palácio real, um belo museu milenar.



Canais de TV dos EUA difundem patriotismo e parcialiadade

Com jornalistas que dizem "nós" em referência ao avanço das tropas americanas no Iraque, as redes de televisão dos Estados Unidos tomam partido abertamente, mesmo sob o risco de tornar sua cobertura parcial, e apregoam seu patriotismo.

O canal a cabo especializado em notícia MSNBC, filial da NBC e Microsoft, difunde regularmente uma cena com soldados americanos ao entardecer, com helicópteros em vôo e bandeiras estreladas tremulando ao vento sob a frase "Nossos corações estão com vocês".

O canal CNBC prefere a frase "Desejamos que nossas tropas retornem sãs e salvas para casa".

Apresentadores e repórteres da conservadora rede de TV a cabo Fox News manifestam abertamente seu apoio às tropas e à causa americana. Nas quatro grandes redes de TV, que concentram a maior parte dos telespectadores dos Estados Unidos, as imagens de civis ou feridos iraquianos são raríssimas.

Pelo contrário, as reportagens mostram profusamente imagens das tropas americanas em treinamento e nelas os jornalistas aparecem usando uniformes de combate.

"Temos de considerar que somos meios de comunicação americanos cobrindo uma guerra em que os Estados Unidos estão envolvidos", afirmou Alex Jones, diretor do Centro de Imprensa Shorestein da Universidade de Harvard.

"Querem demonstrar seu apoio aos objetivos dos Estados Unidos e estão prontos para pagar por isso o preço jornalístico da perda de credibilidade", afirmou.

Para Geneva Overholser, professora da escola de jornalismo da Universidade de Missouri, os meios de comunicação americanos, principalmente a televisão, ultrapassaram a "linha vermelha" e atacaram "diretamente o coração da credibilidade". Ela afirma que "não estão fazendo jornalismo, estão fazendo propaganda, sem se importar que seja verdadeira ou mentirosa".

A professora também não concorda com os que argumentam que a parcialidade da imprensa deve ser interrompida no caso de uma guerra. "Eles acreditam sem dúvida que vão ganhar com isto a simpatia do público, mas estão é violando um princípio jornalístico primordial", afirmou.

Overholser diz que "não se deve confundir patriotismo exaltado com dever jornalístico. E esse tipo de jornalismo que está sendo feito aqui, sinceramente me dá asco".

A jornalista Sheryl McCarthy, do jornal nova-iorquino "Newsday", escreveu em um recente editorial: "Os programas de informação das grandes redes de televisão não se ocupam em cobrir a guerra, se dedicam a fazer promoção. Sua mensagem é que os Estados Unidos têm a força e o poder e nos preparamos para aplicar em Saddam Hussein uma tremenda surra. E quem se opuser a nossos propósitos é suspeito".

(France Presse, em Nova York)

 




Memória


31 de março de 1964. Golpe Militar no Brasil

O dano maior que nos fez a ditadura militar, perseguindo, torturando e assassinando os jovens mais ardentemente combativos da última geração, foi difundir o medo, promover a indiferença e a apatia.  Aquilo de que o Brasil mais necessita, hoje, é de uma juventude que se encha de indignação contra tanta dor e tanta miséria.  Uma juventude que não abdique de sua missão política de cidadãos responsáveis pelo destino do Brasil, porque sua ausência é imediatamente ocupada pela canalha.

(Darcy Ribeiro)



31 de março de 1987 - Assassinato de Roseli Nunes da Silva, agricultora sem-terra

"Eu vou continuar aqui, até o fim. Espero que quando meu filho esteja grande, tudo isso não seja em vão, que ele tenha um futuro melhor."
Rose em "O Sonho de Rose".

Roseli Celeste Nunes da Silva, a Rose, participou da ocupação da Fazenda Annoni, Rio Grande do Sul, em 1985, junto com o marido e os filhos. Na época, ela estava grávida de seu terceiro filho, Marcos, que acabou sendo o primeiro bebê a nascer no acampamento da fazenda, em 28 de outubro de 1985. Em 31 de março de 1987 Rose foi morta, atropelada por um caminhão de uma empresa agrícola que jogou-se contra uma manifestação de agricultores sem terra na beira de uma estrada, perto do acampamento da Fazenda Annoni.  Atualmente seu filho Marcos Tiarajú (nascido na Fazenda Annoni, e que aparece no documentário sempre nos braços de Rose) e seu pai José Corrêa da Silva estão no Assentamento Filhos de Sepé, no município gaúcho de Viamão.

Para saber mais sobre a luta de Rose você deve assistir o vídeo "Terra para Rose" (de Tetê Moraes, 1986).
(Por André Bender)




Entrevista


Lógica unilateral do ataque do Iraque é semelhante à lógica comercial da Alca

Desde o dia 19 de março, o mundo presencia mais uma cena canhestra patrocinada pelo imperialismo. George W. Bush, o presidente por fraude dos EUA, ataca com armas altamente sofisticadas e de grande poderio tecnológico o Iraque, país que desde 1991 sofre embargo econômico da ONU (Organização das Nações Unidas). ONU que virou "suco" nas mãos dos interesses das megacorporações estadunidenses. 

O sociólogo Luis Fernando Novoa Garzon, membro da ATTAC de Campinas, em entrevista especial ao boletim eletrônico NPC, fala da nova (des)ordem mundial que se inicia com os ataques americanos e também da Alca, como um processo de discussão amplo e qualificado entre o povo brasileiro e o governo Lula. 

Luis Fernando Novoa Garzon foi entrevistado na noite do dia 31 de março, em Santos, por ocasião do lançamento do abaixo-assinado que reivindica do governo Lula a realização de plebiscito oficial sobre a Alca.

 

NPC - Qual o risco da militarização do mundo comandada pelos EUA?

Luis Fernando Novoa Garzon - O risco é que quando você estabelece uma militarização, toda noção de direito e de interação social continuada desaparece em função de uma relação de força bruta. O poder de influência dos povos passa a ser determinado pelo poderio bélico. Isso significa uma situação de guerra permanente. Se é o poderio bélico que define as relações humanas, então a forma de comunicação num mundo como esse é a violência permanente.

 

NPC - Uma verdade e uma mentira sobre o ataque militar dos EUA contra o Iraque.

Luis Fernando - A verdade é que eles (os EUA) mostraram que têm o maior arsenal bélico do planeta em condições altamente avançadas tecnologicamente. Eles desmontaram o regime Saddam Hussein, isso é verdade. Agora é também verdade que eles levantaram a população do Iraque. Uma coisa é o regime Saddam, outra coisa é o povo do Iraque, que heroicamente está resistindo através de milícias. Os EUA sabem desmontar aquilo que eles mesmo construíram, que é o regime de Saddam Hussein. Agora eles não sabem desmontar um povo. É muito mais difícil a alma e o orgulho de um povo do que destruir infra-estruturas. Essas são duas verdades.  Agora a mentira é a de que os EUA têm controle da situação, que todos os passos estão previstos. Eles querem esconder com isso que, na verdade, eles se encontram num impasse, porque não conseguem ter legimitidade para continuar fazendo as suas operações.

 

NPC - Como ficam os organismos internacionais, como a ONU e a própria OMC (Organização Mundial do Comércio), com a atitude do governo fraudulento Bush daqui para frente?

Luis Fernando - Essas instituições perdem o sentido, porque a partir de agora elas se tornam meros, aliás nem meros referendadores, elas deixam até de cumprir o papel de referendadores. Elas se tornam instituições que apenas ao final dão legitimidade à decisões de força. Aliás, a ONU sempre fez isso no jogo das superpotências na guerra fria, ou fez isso a partir de 1991 quando os EUA se tornam já a única potência militar naquele momento. Os EUA hoje nem mesma se preocuparam em chamar a ONU para cumprir esse papel. Ela (a ONU) perdeu inclusive o papel de referendadora. Ou seja, não se faz nem mesmo concessão ao discurso do multilateralismo. Então tanto a prática como o discurso são de regimes autoritários. Poderíamos dizer que é uma espécie de regime autoritário sobre o mundo. Por isso que a palavra império não é uma metáfora, ela é uma realidade.

 

NPC - Além do povo iraquiano, quem mais está sob a mira das armas dos EUA?

Luis Fernando - Todos aqueles que atrapalharem os seus negócios, os seus projetos de dominação universal. Isso quer dizer aqueles que queiram controlar recursos naturais que são importantes, por exemplo: petróleo, poder ser a água, a biodiversidade. Então, países que são muito importantes por possuírem esses recursos e que insistam em ser donos deles. Então esses países estariam certamente na mira. Por isso que o Oriente Médio todo está na mira e também regiões estratégicas como a Amazônia. Além disso países que tenham potencial bélico rivalizador, como a China e a Coréia do Norte.

 

NPC - Qual a relação que se pode fazer entre o "agir" americano hoje no Iraque e a Alca -- Área de Livre Comércio das Américas?

Luis Fernando -  A mesma lógica unilateral que preside os ataques contra o Iraque, ou seja, a falta de reconhecimento do povo iraquiano e a imposição sobre ele de todos os planos militares, sem que haja qualquer discussão além das bombas, é muito semelhante com a lógica comercial que os EUA estão aplicando na América Latina.

A Alca é uma espécie de oficialização de toda a tradição de imposição unilateral que os EUA adotaram com relação a América Latina, só que de uma forma racional, planejada e sintetizada. É mais do que o velho imperialismo. A Alca se transforma numa espécie de planejamento antecipado da monopolização da periferia. Não há nenhum tipo de pedido ou de convocação, é uma espécie de anúncio. Você anuncia aquilo que você vai fazer e, de certa forma, já está fazendo. É o reconhecimento de sua prática imperial num estágio avançado. A Alca tem um tom muito violento. Os Estados Unidos entraram na Alca para ganhar em todos os mercados, em todos os setores. É a lógica da guerra. É a lógica de ganhar ou perder. Vida ou morte. A guerra é política por outros meios. E a Alca é apenas uma guerra por outros meios. 

NPC - Então a luta contra a Alca é ainda mais atual para o povo brasileiro e para os povos da América Latina?

Luis Fernando - O Brasil tem um papel insubstituível nessa luta. Se não for o Brasil não será ninguém. Somos a última esperança. Pode não ser agradável ter "missões messiânicas", mas não há no quadro internacional e na América Latina outro país com condições de liderar um bloco alternativo.

 

NPC - Qual é o equilíbrio que deve ser alcançado entre o povo brasileiro e o governo Lula na discussão da Alca?

Luis Fernando - O povo brasileiro precisa aprofundar a discussão sobre a Alca e o governo precisa fazer parte e aceitar essa discussão como legítima, porque se trata de um projeto que se relaciona com o futuro do País: Que tipo de desenvolvimento nós vamos ter e quais são as articulações desse desenvolvimento com o território nacional?; Qual é o projeto de identidade nacional que se quer construir para o Brasil? Isso significa que a discussão da Alca precisa ser ampliada e qualificada. E é essa proposta que estamos fazendo do plebiscito oficial sobre a Alca. Nós estamos fazendo um abaixo-assinado, onde a população brasileira vai fazer esse desafio ao governo. Se é o novo Brasil que estamos construindo, se foi para isso que houve essa eleição, a gente quer aproveitar esse momento decisivo, que é o da discussão da Alca, para fazer essa discussão de uma forma competente, sem cronograma imposto de fora, mas a partir das necessidades do povo brasileiro. Um chamado para que o governo cumpra e execute a missão que lhe foi confiada. Ou seja, de conduzir um processo de discussão sobre o novo Brasil que nós precisamos.

 

(por Rosângela Gil, de Santos)




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Quando começou a ser comemorado o Dia Internacional da Mulher? Quando começou a luta das mulheres por sua libertação? Qual a influência do movimento socialista na luta das mulheres? E o 8 de março como nasceu? A data teve origem do quê? Onde?

Estas e outras questões merecem uma atenção especial neste 2003, quando nos jornais e na internet apareceram repetidamente versões diferentes, da  tradicional, sobre a origem do Dia da Mulher e seu significado. Todas estas versões, no entanto, esqueceram a palavra chave, que está na história da luta da mulher por sua libertação: mulher “socialista”.



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O sangue seco de Veja. Por Gilson Caroni Filho


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Boletim NPC

Coordenação: Vito Giannotti

Edição e redação: Claudia Santiago e Sérgio Domingues

Diagramação:Edson Dias                                                                                                                                                                   

Colaboradores:  Aepet, Gustavo Gindre, Kátia Marko, Leon Diniz e Rosângela Gil

 

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De Olho Na Mídia
A guerra das TVs
A dor dos outros não sai no jornal?
Ditadura americana
Jornalista demitido por conceder entrevista à TV iraquiana já tem novo emprego
Repressão também na Fox News
Al Jazeera diz que usou liberdade de expressão
Campanha pede boicote a artistas "amantes de Saddam"
Trabalhos escolares antiguerra causam suspensão nos EUA
Cadê as armas?
Khan Mujar e Ezzuhur
Canais de TV dos EUA difundem patriotismo e parcialiadade

Memória
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