Por Gizele Martins
“A história da mulher não é contada na história”, palavras de Vito Giannotti, coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação, que desenvolveu a mais nova a agenda do NPC. Desta vez, ela carrega em suas páginas a história de diversas mulheres que fizeram e ainda fazem história no mundo. Muitas delas são mulheres pobres, negras e faveladas como Jane Nascimento, que luta, hoje, com diversos outros movimentos, contra as remoções de favelas; como Márcia Jacinto, mãe que perdeu o seu filho por causa da violência policial; como Lourdinha, que também luta por moradia digna na cidade, dentre diversas outras em suas diferentes lutas.
A AgendaNPC recupera a vida e a luta de milhares de mulheres no Brasil e no mundo. São jornalistas, professoras, artistas, sufragistas, guerrilheiras, poetas, sindicalistas, frentenegrinas, enfermeiras, defensoras de direitos humanos, da moradia. Na abertura de cada mês há um texto sobre uma mulher com história de vida marcante. Em cada dia do ano, há notas informativas e fotos sobre a atuação destas centenas de mulheres em várias áreas: Lélia Gonzalez, Lélia Abramo, Luiza Mahin, Clara Nunes, Alice Tibiricá Miranda, Iara Iavelberg, Marina dos Santos, Rosa Luxemburgo, Alexandra Kolontai, Louise Michel, Rosa Parks, Dimitila Chungara, Cesária Évora.
1. Por que uma agenda sobre mulheres?
Vito Giannotti. Porque há milênios as mulheres estão em situação de inferioridade, de dominação, de opressão. Opressão pela sociedade como um todo, mas, especialmente, por parte dos homens. As mulheres fizeram e continuam fazendo muitas lutas para se libertar, só que elas ainda aparecem muito pouco na história. Então é importante que elas apareçam na história, é importante relembrar e mostrar a história das mulheres.
Quem morre assassinada, quem é espancada é a mulher. São elas que são apedrejadas e não o homem, por isso, precisa avançar na luta das mulheres e a agenda serve nesse sentido, na ideia de contribuir na luta para que as mulheres sejam respeitadas.
2. Existe iniciativa similar?
Vito. Eu vi, eu li muitos livros sobre mulheres, mas nunca vi algo que pudesse estar nas mãos dos trabalhadores, que é algo fácil de ler, que é barato e que pode estar nas mãos deles. Em muitos dos livros, das enciclopédias que eu comprei, muito pouco se falava sobre as mulheres. Não vi ainda nada igual, por isso, esta agenda tem tanta valor. É fácil de ler, e todos podem ter acesso a ela, o trabalhador vai ter acesso fácil a ela.
3. Qual o critério de seleção das mulheres homenageadas?
Vito. O critério era ajudar a melhorar a situação da mulher, não entrou nenhuma mulher porque é filha, ou porque é esposa de alguém, elas entraram pelo seu exemplo de luta, pela importância que elas fizeram e fazem no mundo. É mostrar o valor, o que ela fez, procurar mulheres da classe trabalhadora, da classe operária, mulheres comuns, as mulheres do povo, heroínas do povo. Não existem histórias das heroínas do povo contadas na nossa história, a preocupação foi mostrar as mais diversas mulheres e conseguimos isso com muito esforço.
4. Como foi feita a pesquisa?
Vito. A pesquisa foi feita da experiência própria de 50 anos da luta dos trabalhadores e das trabalhadoras. O objetivo é o de dar ênfase á luta das mulheres. Foi conhecendo a luta nas fábricas, nos piquetes, nos protestos, outras foi também pesquisado em enciclopédias, em livros etc. Comprei uma enciclopédia em que tinham mais de mil personalidades, mas não tinham dez mulheres heroínas naquele livro. Porque elas não aparecem. Foi muito difícil cavar, cavar essas minas, essas histórias. Por muitos, a mulher ainda é vista como alguém que fica em casa, tomando conta dos filhos.
5. Quais as principais descobertas durante a pesquisa?
Vito. Foi uma alegria descobrir que existem muitas mulheres importantes com uma mensagem riquíssima, com uma prática muito significativa na luta do dia a dia. Até hoje não vi uma agenda sobre isso, já vi sobre revolução, sobre América Latina, sobre as mulheres, não. E a gente precisa divulgar isso, essas histórias.
6. Por que a agenda termina com um texto sobre a senhora Jane que desponta como uma das lideranças da luta contra as remoções na cidade do Rio de Janeiro
Vito. Porque a Jane é negra, é favela e não podia terminar com Simone de Beauvoir, que respeito profundamente, mas entre ela e a Jane, prefiro falar da Jane, é uma questão de militância. Eu só podia terminar com ela porque eu precisava valorizar essas mulheres que não são filhas e nem esposas de ninguém, mas que são elas mesmas, lutadores do povo!