Mdia
Informar ou editorializar?
Uma pena que a falta de prioridade ou a disposição de vetar aos brasileiros a possibilidade de assistir, diretamente, fazendo seus próprios juízos políticos, sem depender das versões que os órgãos da mídia dariam do importante evento, fez com que os brasileiros - em sua grande maioria - não pudessem assistir em direto aos debates da reunião da Unasul, realizados em Bariloche na semana passada. Talvez essa atitude dos canais de televisão tenha se devido a que as intervenções diretas e integrais dos mandatários latino-americanos teriam sido, por si mesmas, denúncias das versões que grande parte da mídia insiste em passar aos leitores, ouvintes e telespectadores, com a forte dose de ideologização e de preconceito que carregam.
Em primeiro lugar, teriam se dado conta, a partir da intervenção de Hugo Chávez, que expôs um resumo detalhado de documento do governo norte-americano - atualizado este ano, já no governo Obama - da função bélica das bases militares dos EUA no mundo, incluindo na América do Sul. Havia menção explícita a uma das bases que a Colômbia menciona na lista de bases militares do convênio que têm com os EUA. Os brasileiros teriam sabido, por exemplo, que Carmona, o efêmero presidente colocado no cargo pelo golpe militar venezuelano de 2002, rapidamente expulso pela reação popular de apoio a Hugo Chávez, está asilado na Colômbia, confirmando os vínculos entre a direita golpista daquele país com o presidente colombiano Uribe.
Um detalhe significativo.
Teriam todos podido saber, pelas exposições, mapas e gráficos exibidos pelo presidente do Equador, Rafael Correa, que a produção de coca na região tem na Colômbia seu inquestionável líder, com mais de metade, uma produção que segue em aumento, seguida do Peru e da Bolívia, tendo a Venezuela e o Equador erradicado completamente sua produção.
Os EUA seguem sendo, de longe, a principal destinação do tráfico.
Os mapas demonstram como a Colômbia não tem capacidade de controle das fronteiras com o Equador, dominada por grupos paramilitares e guerrilheiros. Revelam que, pela concentração na produção de cocaína e pela falta de controle de seu território, o problema da região é Colômbia, de que os outros países são vítimas.
Lula assinalou para Uribe, depois que este tivesse mencionado um sem-número de convênios assinados pelo seu país, que, se os acordos com os EUA - que incluem tropas norte-americanas, na Operação Colômbia - não resolveram o problema do tráfico de drogas, não vale a pena estender os acordos com esse país, convidando-o a integrar um plano dos governos da região para renovar os métodos de luta contra o narcotráfico.
Teriam podido ver que quem saiu melhor da reunião foi Lula, que tinha o objetivo de impedir que a Unasul fosse rompida, pelas evidentes contradições entre a grande maioria dos governos e o colombiano. Quem pôde assistir a toda a reunião se deu conta do imenso isolamento em que está a Colômbia, ao mesmo tempo que Uribe chegou à reunião com acordos já assinados com os EUA e afirmando que nada o faria voltar atrás. Os riscos de ruptura eram enormes portanto, e o logro foi conseguir uma resolução comum de todos os governos.
À imprensa opositora só interessava saber se Lula saiu ainda mais fortalecido ou não. Errou ao dizer que não, mas também errou ao não se dar conta da importância da reunião e do isolamento do governo colombiano. Triste papel da imprensa que se faz não instrumento de informação mas de filtro pelo qual só passa o que lhe interessa, da maneira que lhe interessa.
Pobres leitores, ouvintes e telespectadores, vítimas dessa imprensa mercantil e ideologizada, que confunde editorial com informação, editorializa tudo e se transforma em panfletos ideologizados no lugar de instrumentos para uma cidadania informada e capaz de construir democraticamente a opinião pública que o Brasil requer. Os Estados Unidos continuam sendo a principal destinação do tráfico da Colômbia
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