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Sindicalismo
28 de abril: Dia Mundial de luta contra os acidentes de trabalho

Por Claudia Santiago 

"Meu marido sofria uma pressão enorme, levava os assuntos para casa e se levantava à noite para trabalhar; ultimamente já não conseguia dormir". 

A frase é da viúva de Raymond D, o terceiro trabalhador que se suicidou, num período de quatro meses, no Technocentre da Renault, na cidade francesa de Guyancourt. Raymond, 37 anos, que trabalhava no projeto do novo Laguna, se enforcou. Deixou várias cartas. Nelas, confessava-se incapaz de assumir seu trabalho e culpava pela situação os responsáveis máximos da empresa. 

O fato acima narrado aconteceu entre outubro de 2006 e fevereiro de 2007. Este e tantos outros nos levam a perguntar. Por que essas coisas acontecem? Por que os trabalhadores adoecem em consequência de suas atividades profissionais? Por que acontecem acidentes de trabalho?  

O lucro que mata

A resposta para estas questões não é única. Ela vem na forma de excesso de trabalho, pressão para que este seja realizado no menor tempo possível, pressão pelo aumento de produção e de metas de produção e de  vendas, ameaças de demissão, telefonemas gravados, no caso dos telefônicos.  

Mas, embora a resposta não seja uma só, tudo isso tem um único motivo, quando falamos dos trabalhadores de empresas privadas: o lucro.  

Na busca desesperada pelo aumento da produtividade, corte de custos e o consequente aumento dos lucros, os patrões, hoje, submetem os trabalhadores a situações tão vexatórias e cruéis quanto aquelas vividas pela classe operária no início da revolução industrial.   

O resultado são mãos decepadas, colunas imprestáveis, morte por cansaço, depressão, suicídio e o aumento do número de todo tipo de acidentes de trabalho. 

Os números que escondem

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, em 2002, morreram, em média,no Brasil,  dez pessoas todos os dias no exercício de sua atividade profissional, ou seja, uma a cada duas horas e meia.  

O Brasil registrou 2.708 mil casos de morte decorrentes de acidentes de trabalho no ano de 2005. Em 2003 foram 2.756. Os dados são dos ministérios da Previdência e do Trabalho e abrangem apenas o conjunto de trabalhadores contratados pela CLT. Portanto, o número de vítimas é muito maior. Estes números escondem a real situação vividas pelos trabalhadores brasileiros porque  deixam de fora o trabalho informal. 

Segundo o coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Marco Perez, em entrevista à Agência Brasil, “o número total de acidentes de trabalho pode ser três vezes superior ao dos trabalhadores registrados.”   

No Rio de Janeiro, em 2005, ocorreram 37 mil acidentes de trabalho com 159 mortes. 

Crianças mutiladas

Na entrevista, Perez relata que, no agreste nordestino, o cultivo do sisal há muitos anos gera acidentes de trabalho que causam, inclusive, a amputação das mãos, de adultos e até crianças. 

Recente Relatório de Direitos Humanos no Campo Latino-americano, divulgado pelo MST e Comissão Pastoral da Terra (CPT) traz uma triste notícia: Entre os anos de 2005 e 2006 aproximadamente 17 trabalhadores que viviam em condições semelhantes à escravidão morreram em canaviais de todo o Brasil.  

O trabalho que adoece

Quando dizemos que o lucro não é a única causa do adoecimento da classe trabalhadora é porque sabemos que os servidores públicos também sofrem de males decorrentes do trabalho embora seu patrão não vise o lucro. Muitas vezes, a organização do trabalho no serviço público repetem os mesmos padrões e as mesmas condições da empresa privada. 

Um recente estudo da UERJ, realizado pela pesquisadora Gisele Levy, revela que cerca de 70% dos professores de cinco escolas da Rede Municipal de Educação sofrem da Síndrome de Burnout, ou seja, de exaustão emocional, despersonalização e falta de realização.

De acordo com o estudo, a Síndrome de Burnout é causada pelas condições precárias em que se encontra o ensino público, baixos salários, jornada de trabalho excessiva, prédios mal conservados, falta de equipamentos, violência dentro e fora das escolas. A doença atinge com mais facilidade os profissionais mais jovens.  

Casos para pensar

Em 21 de abril de 2007, mais uma vítima engrossa as estatísticas de vítimas de acidente de trabalho. Após 10 horas e 59 minutos de trabalho, o jovem Rogério José Cabral, de 28 anos, morreu. Estava sozinho no local de trabalho. Desta vez, na unidade da Basf de Guaratinguetá, no estado de São Paulo. 

O secretário de Formação do Sindicato dos Químicos do ABC e membro da coordenação da Rede de Trabalhadores na BASF América do Sul, Fábio Augusto Lins, denúncia o acidente em nota à imprensa. Fala em “costumeiros acidentes na BASF”. No texto, lembra do acidente que causou a morte do trabalhador Lourival Ferreira Sobral, vítima de explosão da Basf Sistema Gráficos, que deixou, em fevereiro de 2000, quase 30 trabalhadores gravemente feridos.  

O dirigente sindical faz alguns questionamentos que apontam para a relação entre a preservação da saúde física e psíquica do trabalhador e os acidentes de trabalho. “Estou muito curioso em saber o histórico da jornada de trabalho do companheiro Rogério. Quantas horas ele trabalhava por dia? Doze? Sem contar com o Banco de horas? Creio que as respostas sejam relevantes para a investigação, uma vez que, geralmente, as empresas dizem que "foi falha operacional", quando é sabido que existem outros fatores que obrigatoriamente devem ser considerados”, afirma.  

Crescimento e saúde: um debate necessário

Vai no mesmo sentido, o debate realizado, no dia 26 de abril, com a participação do economista da Unicamp, Márcio Pochmann, na Assembléia Legislativa de São Paulo sobre “Crescimento Econômico e Saúde e Segurança do Trabalhador”. O objetivo dos organizadores ao propor tal tema era debater como o crescimento que abre perspectivas para um estímulo à produção e ao consumo pode, também, levar a uma maior intensificação do trabalho, negligência por parte das empresas e acentuação dos riscos, dos acidentes, das doenças e das mortes.  

Terceirização e acidentes de trabalho

O dirigente da CUT-RJ e do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro, Abílio Tozini, associa os acidentes de trabalhos com as terceirizações. Em artigo, no jornal da CUT-RJ, primeiramente, aborda o sofrimento psicológico do trabalhador terceirizado devido à insegurança em não saber se vai continuar no emprego após o término da empreitada. Em seguida, afirma: “os empregados terceirizados não recebem treinamento. O resultado é que nos últimos anos a maioria de trabalhadores mortos em acidentes é de terceirizados”.  

A afirmação de Abílio é exemplificada no mesmo jornal com matéria produzida pela Assessoria de Imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos do Espírito Santo. Diz o texto: “o operador de máquinas Efigênio Pereira dos Anjos, 39 anos, empregado da Pelicano Construções Ltda., morreu imprensado pela lança da escavadeira que operava, às 16h50m, do dia 05/04. Segundo dados do Sindicato as obras de expansão da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) registram de 2004 para cá seis mortes em decorrência de desabamentos, queda de andaime e outros. Todas as vítimas eram trabalhadores de empreiteiras.”

 

Claudia Santiago é jornalista. Editora do BoletimNPC e assessora da CUT-no Rio de Janeiro


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