Globo:
40 anos de ditadura ideológica
A TV Globo completou 40 anos, em 2005. Provavelmente, muitos latino-americanos já ouviram falar da maior rede de televisão do Brasil. Devem ter assistido algumas de suas novelas, programas e os filmes que ajudou produzir. Mas, talvez, não façam idéia do poder que a empresa tem no país. Por Sergio Domingues, junho de 2005. A Rede Globo é a quarta maior rede de TV do mundo. Alguns de seus programas são superiores em qualidade de imagem e edição a muitos de seus semelhantes em países ricos. Mas, para entender como a empresa chegou a ser tão poderosa, é preciso lembrar que a empresa nasceu praticamente junto com a ditadura militar imposta ao povo brasileiro, nos anos 1960. A Globo foi criada em 1965, um ano depois do golpe militar que mergulharia o País nas trevas por 20 anos. Um dos instrumentos que utilizou para apoiar a ditadura foi o jornalismo. Enquanto milhares eram torturados e morriam nos porões da Ditadura, os jornais televisivos da Globo mostravam um País tranqüilo e ordeiro. Por outro lado, as novelas da emissora mostravam um povo alegre, feliz, preocupado apenas com desilusões amorosas e dramas familiares. Os programas de auditório e as transmissões de futebol também ajudavam a criar esse clima. Mas além de poderosa, a Globo também é esperta. Sempre preparada para ficar ao lado do poder, a empresa muda suas táticas à medida que mudam as condições políticas do País. Em 1984, por exemplo, cometeu o erro de ignorar as grandes manifestações de rua, exigindo eleições diretas para presidente da República. Não voltaria a cometer um erro tão grosseiro. O movimento foi derrotado e as eleições continuariam a ser indiretas. Mas, a Globo mostrou ter jogo de cintura. Vendo que a ditadura militar estava se esgotando, adotou a candidatura da oposição burguesa nas eleições indiretas disputadas no Colégio Eleitoral. Sabia que esta seria uma saída segura frente ao crescimento do movimento popular, cujas maiores expressões eram o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em 1989, finalmente, aconteceram as primeiras eleições diretas para presidente. A candidatura de Fernando Collor surgiu como alternativa para a burguesia. A Globo vendeu a imagem de Collor como um campeão do combate à corrupção. Mesmo assim, Lula, candidato do PT e apoiado pela CUT, foi para o 2º turno das eleições. Nesse momento, a Globo entrou com tudo. Fez uma enorme campanha de terrorismo e calúnias contra o candidato popular. Collor é eleito e inicia o projeto neoliberal no País. Quando as denúncias de corrupção do governo Collor começaram a estourar, a Globo não teve dúvidas. Passou a mostrar as grandes manifestações contra Collor como se ela não tivesse nada com o assunto. Afinal, o que interessava era jogar tudo para o campo da ética. Enquanto isso, esquecia-se o neoliberalismo que Collor começou a implantar e que já vinha fazendo desempregados aos milhões. Collor caiu, mas o neoliberalismo ficou. Nas eleições seguintes, Fernando Henrique Cardoso se apresentou como o pai do Plano Real. Na verdade, o plano era igualzinho a todos os que já vinham sendo aplicados no México, Argentina, etc. Em nome do combate à inflação, muito desemprego e venda das estatais a preço de banana. A Globo também não podia perder essa. Desde os primeiros anúncios, o Real era festejado em todo o país pelas telas de tevê. Finalmente,
em 2002, Lula foi eleito presidente da República. Novamente, a Globo
soube se adaptar. Passou a tratar o novo presidente com a maior simpatia.
Em primeiro lugar, porque o Grupo se endividou investindo em televisão
por assinatura. Deve mais de 5 bilhões de reais. Quer ajuda governamental
para pagar a dívida. Em segundo lugar, Lula assumiu prometendo honrar
todos os compromissos com os banqueiros internacionais. Até agora,
não recuou um milímetro dessa proposta. A Globo se adaptou
mas continua fiel à grande burguesia e ao capital internacional.
Lula, por sua vez, se adaptou à Globo e ao que ela representa.
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