MEMÓRIA
Em homenagem a Salvador Allende e Victor Jara, entre tantos outros
Do Boletim NPC nº 74


O Núcleo de Projetos Especiais em Educação e Cultura (NUPEC) da UNIRIO, em parceria com o Centro Cultural Antônio Carlos Carvalho (CeCAC), promoveu no dia 6 de setembro, a exibição do filme 'Chove Sobre Santiago', de Helvio Soto. A obra faz alusão aos fatos ocorridos no Chile em 11 de setembro de 1973 e deve ser vista por todos os que querem o bem da humanidade. O filme é um dos mais chocantes produzidos sobre o Golpe do Chile.

  • Chile,11 de setembro de 1973: atentado contra o povo mata 30 mil.
  • EUA, 11 de setembro de  2001: atentado contra as Torres Gêmeas mata quase 3 mil.
Dois atentados. Dois fatos históricos diferentes. O do Chile foi cometido há 32 anos e anda meio esquecido. Vale relembrá-lo. 
Em 11 de setembro de 73, a mais sólida democracia da América do sul sofreu um atentado que deixou uns 30 mil mortos no seu rasto. O Chile foi vítima de um golpe militar, perpetrado pelas três Forças Armadas, com o objetivo de quebrar a esperança de se construir um país socialista pela via eleitoral. 

Salvador Allende, após três derrotas, venceu as eleições presidenciais em 1970. O imperialismo americano não podia permitir que a “via chilena para o socialismo” vingasse e fosse um exemplo para a América Latina. Por isso, junto com a burguesia chilena conspirou e chamou os militares para acabar com aquela experiência. Allende foi derrubado. O Palácio de la Moneda, assim como várias fábricas onde estavam trabalhadores dispostos a resistir, foram bombardeados.

Com o golpe, dezenas de milhares de pessoas foram presas, torturadas e exiladas. Se calcula que de 10 a 30 mil foram assassinados ou se tornaram os famosos desaparecidos, vitimas da ditadura do general Pinochet. A esquerda foi quebrada. 

Com isso os Estados Unidos puderam dirigir tranqüilamente a economia chilena, sem freios. O Chile foi o primeiro país do mundo onde se implantou o projeto neoliberal. Os famosos Chicago Boys, os defensores da doutrina neoliberal, liderados pelo economista Milton Friedman ali testaram os resultados dos planos neoliberais. 

Tudo isso exigiu um atentado terrorista contra a esquerda e o povo chileno que custou 30 mil mortos. Dez vezes mais do que o número de mortos no atentado em Nova Iorque em 2001, quando caíram as duas Torres Gêmeas e que, com razão, comoveu o mundo.

Victor Jará, o cantor de Venceremos

Há vários filmes dobre o Golpe do Chile de 1973. O mais recente é Machuca, mas há outros quase clássicos: 'Chove sobre Santiago', 'Missing - O desaparecido' e 'A Casa dos Espírito'. Em 'Chove sobre Santiago', uma das cenas mais chocantes é a de milhares de presos, no dia 11 de setembro, amontoados no Estádio Nacional de Santiago. Muitos foram mortos sob tortura ou com um tiro na nuca ali mesmo. Outros seguiram para várias prisões ou acabaram sendo jogados vivos ao mar de aviões militares. 

No estádio um dos presos era o cantor e poeta Victor Jará. Os torturadores lhe deram um violão e o forçaram a cantar o Hino da Unidade Popular que tantas vezes ele tinha cantado junto com o povo. Victor Jará teve suas mãos cortadas para nunca mais, com seu violão, cantar Venceremos.

Santa Maria de Iquique: um massacre em 1907

A matança da Escola Santa Maria, na cidade de Iquique, no norte do Chile é um dos fatos mais trágicos vividos pelos trabalhadores chilenos. Foi no dia 21 de dezembro de 1907. Foram assassinados mais de 3.000 trabalhadores do salitre, que estavam em greve por melhores salários e para que se mudasse o sistema de pagamento de vales para dinheiro.

Trecho da Cantata Santa María de Iquique, de Luis Advis 

“Vamos mujer / Partamos a la ciudad. 
Todo será distinto, no hay que dudar. 
No hay que dudar, confía, ya vas a ver, 
porque en Iquique todos van a entender.  

Toma mujer mi manta, te abrigará. 
Ponte al niñito en brazos, no llorará. 
va a sonreir, disle cantarás un canto,  
se va a dormir. 
Qué es lo que pasa?, dime, no calles más.  

Largo camino tienes que recorrer, 
atravesando cerros, vamos mujer. 
Vamos mujer, confía, que hay que llegar, 
en la ciudad, podremos 
ver todo el mar. 

Dicen que Iquique es grande como un salar, 
que hay muchas casas lindas te gustarán. 
Te gustarán, confia como que hay Dios, 
allá en el puerto todo va a ser mejor. 
Qué es lo que pasa?, dime, no calles más.        

Vamos mujer, partamos a la ciudad. 
Todo será distinto, no hay que dudar. 
No hay que dudar, confía, ya vas a ver, 
porque en Iquique todos van a entender.” 

(http://www.angelfire.com/sd/par/cantata.html)

 

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