"Não se faz jornalismo
sem se fazer vítimas"
Entrevista com Heródoto Barbeiro. Por Rosângela Gil, de Santos
Heródoto Barbeiro adotou um tom provocativo ao apresentar várias frases sobre jornalismo, levando muitos dos presentes a esboçarem expressões de espanto ou de concordância. Uma das mais polêmicas, sem dúvida, foi a frase do editor da revista Carta Capital, Mino Carta: "A grande imprensa é uma porcaria inominável". O escritor norte-americana Mark Twain, morto em 1910 e autor de livros como "Tom Sawyer" e "O Princípe e o Mendigo", também foi lembrado pela frase: "Jornalismo é separar o joio do trigo. E publicar o joio". Caminho de Tébas
Para ele, não se faz jornalismo sem se fazer vítimas, porque só é notícia aquilo que provoca uma certa reflexão, um certo eco social. "Quando você fala de alguém, para o bem ou para o mal, aquilo mexe com a vida da pessoa. Então é vítima no sentido de que tem um certo reflexo". A situação de vítima, no entanto, para o jornalista, não se confunde com a promoção de injustiças. Elas (as injustiças) acontecem quando o jornalismo não é isento. A isenção não significa imparcialidade, que não existe no jornalismo. "Não existe imparcialidade na nossa profissão. O jornalista é sempre parcial, porque ele não consegue descrever os fatos sem colocar uma dose do que ele pensa, do que ele sente". Heródoto diz que
o jornalista não pode aceitar falar mentiras ou manipular a informação.
"Se a empresa me manda fazer uma mentira e eu concordo, sou tão
responsável quanto ela. O jornalista tem de estar preparado para
colocar o seu emprego à disposição toda vez que tiver
um conflito de consciência".
Os sindicalistas sabem muito bem como é lidar com a imprensa nessa relação de poder, sabem muito bem como a imprensa pode "demonizar" um movimento grevista, uma manifestação por melhores salários, etc. Para terminar com chave
de ouro e trazer um pouco de esperança ao público, Heródoto
Barbeiro terminou sua exposição citando o jornalista Cláudio
Abramo: "O jornalismo deve ser o exercício diário da inteligência,
e a prática diária do caráter".
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