José Saramago e Manuel Vázquez Montalbán, o cantor Manú Chão, o teólogo italiano Giulio Girardi e Jean Ziegler, relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, bem como 14 deputados do Parlamento Europeu, entre eles Alain Krivine e Lucio Manisco são alguns dos nomes que denunciam as ações do governo e de paramilitares em Chiapas..
Os
observadores internacionais afirmam que em sua última visita a Chiapas, “os
sobrevôos de aeronaves militares federais continuam semeando inquietação nas
comunidades, os patrulhamentos e os postos de fiscalização do Exército
mexicano foram aumentando paulatinamente e já se tornou um hábito que os
soldados improvisem seus postos de controle nos arredores dos povoados para
perseguir e intimidar os indígenas”.
A
CCIODH dedica boa parte do informe “aos grupos paramilitares que integram um
esquema de contra-insurreição mascarado de agressões por problemas de terras,
confrontações partidárias, conflitos religiosos, inimizades pessoais, vinganças
familiares ou, simplesmente, acidentais, ocultando desta maneira a estratégia
paramilitar de controle, desestabilização e repressão seletiva como parte de
uma guerra
suja, projetada e dirigida a partir dos mais altos escalões do poder”.
“Longe
de conter os grupos paramilitares – diz a CCIODH -, estes continuam dando
origem a muitos conflitos, fechando caminhos, aplicando uma política de terror,
assassinatos e agressões constantes contra as comunidades zapatistas, apoiados,
como sempre, pelas velhas estruturas municipal e comunal priistas, e gozando da
cumplicidade, por omissão e comissão, do Exército e dos corpos de segurança
das várias esferas governamentais”.
A
CCIODH menciona também a situação dos milhares de indígenas “expulsos de
suas terras pela guerra e a contra-insurreição que continua sem solução”.
E questiona o uso dos programas de desenvolvimento para quebrar a resistência e
dividir as comunidades indígenas.
Quanto às reformas constitucionais em matéria indígena, a comissão afirma que ela “não satisfez os povos indígenas que não vêem refletidos nelas a essência dos acordos de San Andrés”. E defende que o projeto de reforma da COCOPA é o único que pode restabelecer as condições mínimas do diálogo de paz”.
As conclusões e recomendações da Comissão Civil Internacional pelos Direitos Humanos (CCIODH) em Chiapas recebem o respaldo de centenas de personalidades, parlamentares, dirigentes políticos, acadêmicos, sindicatos, organizações sociais e cidadãs de 18 países da Europa, América Latina e África.
Entre
os que assinam, destacam-se escritores como José Saramago e Manuel Vázquez
Montalbán, o cantor Manú Chão, o teólogo italiano Giulio Girardi e Jean
Ziegler, relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, bem como 14
deputados do Parlamento Europeu, entre eles Alain Krivine e Lucio Manisco. Na
longa lista, destacam-se deputados e prefeitos suíços, italianos e
brasileiros.
Os
observadores internacionais lançaram “um apelo à sociedade civil para que
mantenha sua atenção sobre Chiapas diante da diminuição do clima social e
político ao redor das comunidades indígenas que simpatizam com o EZLN”.
La
Jornada, 29/08/2002.
Convite:
Se o material que você acabou de ler alimentou um sentimento de indignação
que quer se expressar em algo concreto, a seguir, vai encontrar uma sugestão de
carta aberta a ser enviada ao presidente do México e à embaixada mexicana em
Brasília. Uma vez assinada, com data e local, envie uma cópia a cada um destes
endereços:
Presidente
de la Republica
Sr.
Vicente Fox Quesada
Palacio
Nacional 06067
México
D. F.
Embaixada
do México
S.E.S.
Av das Nações, Lote 18 Qd.805
70412-900
Brasília - DF
Carta
aberta ao Presidente do México, Vicente Fox Quesada.
Ao
Presidente da República do México,
Como observador atento da realidade do México e do desenrolar do conflito no
estado de Chiapas, venho por meio desta manifestar minha indignação diante dos
assassinatos e das constantes perseguições contra as comunidades zapatistas em
resistência.
Protegidos pelo silêncio das instâncias governamentais, velhos e novos grupos
paramilitares vêm agindo impunemente, deixando um rastro de morte e de terror
que encharca suas mãos de sangue indígena.
Além
disso, a ação paramilitar encontra-se freqüentemente associada a uma mistura
de omissão e apoio por parte do Exército federal e dos corpos policias, cujo
currículo de desrespeito aos direitos humanos tem sido denunciado por inúmeras
organizações da sociedade civil mexicana e internacional.
Somando
estas breves constatações à postura mantida diante da reforma constitucional
em matéria de direitos e cultura indígenas e à implantação do Plano
Puebla-Panamá, vejo-me obrigado a concluir que, longe de escolher o caminho
paz, o seu governo vem dando passos rumo à construção das condições que
legitimariam uma saída de força para o conflito chiapaneco.
Convencido
de que nada disso vai ajudar a resolver a situação de miséria e de exclusão
dos povos indígenas, reafirmo neste escrito a necessidade de:
Só
estas medidas abrirão caminho à solução pacífica do conflito e poderão
revelar, na prática, a vontade de paz do seu governo.
Atenciosamente.
Assinatura.