Personalidades de 18 países convocam a manter o apoio às causas zapatistas

(Jesus Ramirez Cuevas

José Saramago e Manuel Vázquez Montalbán, o cantor Manú Chão, o teólogo italiano Giulio Girardi e Jean Ziegler, relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, bem como 14 deputados do Parlamento Europeu, entre eles Alain Krivine e Lucio Manisco são alguns dos nomes que denunciam as ações do governo e de paramilitares em Chiapas.. 

Os observadores internacionais afirmam que em sua última visita a Chiapas, “os sobrevôos de aeronaves militares federais continuam semeando inquietação nas comunidades, os patrulhamentos e os postos de fiscalização do Exército mexicano foram aumentando paulatinamente e já se tornou um hábito que os soldados improvisem seus postos de controle nos arredores dos povoados para perseguir e intimidar os indígenas”.

A CCIODH dedica boa parte do informe “aos grupos paramilitares que integram um esquema de contra-insurreição mascarado de agressões por problemas de terras, confrontações partidárias, conflitos religiosos, inimizades pessoais, vinganças familiares ou, simplesmente, acidentais, ocultando desta maneira a estratégia paramilitar de controle, desestabilização e repressão seletiva como parte de uma guerra suja, projetada e dirigida a partir dos mais altos escalões do poder”.

“Longe de conter os grupos paramilitares – diz a CCIODH -, estes continuam dando origem a muitos conflitos, fechando caminhos, aplicando uma política de terror, assassinatos e agressões constantes contra as comunidades zapatistas, apoiados, como sempre, pelas velhas estruturas municipal e comunal priistas, e gozando da cumplicidade, por omissão e comissão, do Exército e dos corpos de segurança das várias esferas governamentais”.

A CCIODH menciona também a situação dos milhares de indígenas “expulsos de suas terras pela guerra e a contra-insurreição que continua sem solução”. E questiona o uso dos programas de desenvolvimento para quebrar a resistência e dividir as comunidades indígenas.

Quanto às reformas constitucionais em matéria indígena, a comissão afirma que ela “não satisfez os povos indígenas que não vêem refletidos nelas a essência dos acordos de San Andrés”. E defende que o projeto de reforma da COCOPA é o único que pode restabelecer as condições mínimas do diálogo de paz”.

As conclusões e recomendações da Comissão Civil Internacional pelos Direitos Humanos (CCIODH) em Chiapas recebem o respaldo de centenas de personalidades, parlamentares, dirigentes políticos, acadêmicos, sindicatos, organizações sociais e cidadãs de 18 países da Europa, América Latina e África.

Entre os que assinam, destacam-se escritores como José Saramago e Manuel Vázquez Montalbán, o cantor Manú Chão, o teólogo italiano Giulio Girardi e Jean Ziegler, relator especial da ONU sobre o direito à alimentação, bem como 14 deputados do Parlamento Europeu, entre eles Alain Krivine e Lucio Manisco. Na longa lista, destacam-se deputados e prefeitos suíços, italianos e brasileiros.

Os observadores internacionais lançaram “um apelo à sociedade civil para que mantenha sua atenção sobre Chiapas diante da diminuição do clima social e político ao redor das comunidades indígenas que simpatizam com o EZLN”.

La Jornada, 29/08/2002.

 

Convite: Se o material que você acabou de ler alimentou um sentimento de indignação que quer se expressar em algo concreto, a seguir, vai encontrar uma sugestão de carta aberta a ser enviada ao presidente do México e à embaixada mexicana em Brasília. Uma vez assinada, com data e local, envie uma cópia a cada um destes endereços:

 

Presidente de la Republica

Sr. Vicente Fox Quesada

Palacio Nacional 06067

México D. F.

Embaixada do México

S.E.S. Av das Nações, Lote 18 Qd.805

70412-900  Brasília - DF

 

 

Carta aberta ao Presidente do México, Vicente Fox Quesada.

 

Ao Presidente da República do México,
Senhor Vicente Fox Quesada,

Como observador atento da realidade do México e do desenrolar do conflito no estado de Chiapas, venho por meio desta manifestar minha indignação diante dos assassinatos e das constantes perseguições contra as comunidades zapatistas em resistência.
Protegidos pelo silêncio das instâncias governamentais, velhos e novos grupos paramilitares vêm agindo impunemente, deixando um rastro de morte e de terror que encharca suas mãos de sangue indígena.

Além disso, a ação paramilitar encontra-se freqüentemente associada a uma mistura de omissão e apoio por parte do Exército federal e dos corpos policias, cujo currículo de desrespeito aos direitos humanos tem sido denunciado por inúmeras organizações da sociedade civil mexicana e internacional.

Somando estas breves constatações à postura mantida diante da reforma constitucional em matéria de direitos e cultura indígenas e à implantação do Plano Puebla-Panamá, vejo-me obrigado a concluir que, longe de escolher o caminho paz, o seu governo vem dando passos rumo à construção das condições que legitimariam uma saída de força para o conflito chiapaneco.

Convencido de que nada disso vai ajudar a resolver a situação de miséria e de exclusão dos povos indígenas, reafirmo neste escrito a necessidade de:

Só estas medidas abrirão caminho à solução pacífica do conflito e poderão revelar, na prática, a vontade de paz do seu governo.

                Atenciosamente.

 

                    Assinatura.

                    Local e Data.

 

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