A
comunicação, um desafio para 2004
(Antônio Carlos Spis)
Durante muitos anos, alimentou-se o “mito” entre dirigentes e assessores de
que a grande responsável pela má condução das informações no “sistema
CUT”, de um lado, e o desconhecimento do trabalhador sobre a Central, de outro
(como comprovaram as pesquisas quantitativa e qualitativa feitas pela Agência
DM9, em 2002), seria a falta de uma “política nacional de comunicação”. O
problema parece óbvio, mas se for analisado com um pouco mais de atenção, será
possível perceber o quanto o tema é complexo e cujas respostas avançam muito
mais pelo terreno da política do que a financeira.
Na verdade, o centro do debate não está em saber “como” e “por quais meios” se comunicar, mas descobrir “o quê sempre impediu que as informações fluíssem” em todo o sistema CUT. Descobrir os “porquês e os objetivos” da comunicação parecem prescindir o debate. Uma vez respondidas estas questões, os “meios” pelos quais iremos nos comunicar serão conseqüências do debate.
A Secretaria Nacional de Comunicação instiga esse debate e provoca os dirigentes sindicais e assessores a responderem estas questões. Aos poucos o “quebra-cabeças” vai se montando e algumas indicações começam a aparecer. Existe toda uma literatura e um comprometimento da direção sindical cutista em despir-se do corporativismo, mas, infelizmente, esta tentativa não se aplica à comunicação. Os sindicatos continuam a praticá-lo, mesmo com um contingente reduzido de profissionais, quando o certo (e o recomendável) seria descobrir formas solidárias para responder aos problemas, unificando forças e otimizando recursos. Mas, na maioria das vezes, os sindicatos continuam ensimesmados e não priorizando investimentos em comunicação.
Ouso dizer que jamais os sindicatos ou as instâncias da CUT preocuparam-se em juntar forças, de fato, para pensar os porquês de se ter uma política de comunicação, para quê queremos e para quais objetivos. Não porque não querem, mas pela própria dinâmica da organização dos sindicatos, que os fazem distantes uns dos outros e com dirigentes cheios de expectativas, ritmos e interesses diferenciados. O debate, como se vê, é muito mais embaixo.
Essas e outras perguntas deverão ser respondidas para enfrentarmos os desafios que temos pela frente, sob pena de acharmos que soluções dispendiosas pura e simples solucionarão todos os nossos problemas. Os jovens não conhecem a CUT nos grandes centros. Os mais velhos já ouviram falar da Central e sabem que, algum dia, foi importante para os trabalhadores, mas, hoje, desconhecem o que faz e o que pensa. O abismo que separa a CUT de suas instâncias e dos sindicatos de base precisa encurtar-se (daí a importância da reforma sindical), mas a discussão sobre o conceito da nossa comunicação não deve esvair-se.
Lição de casa
A Secom tem propostas a discutir com o conjunto dos companheiros. Estamos convencidos que o primeiro passo nesse sentido é fazermos a lição de casa, e bem feita, para iniciarmos o grande salto de qualidade que queremos.
A primeira tarefa que desenvolvemos logo que assumimos, em julho deste ano, foi iniciar um contato direto com os meus pares secretários estaduais de comunicação para ter uma idéia sobre a realidade de cada CUT Estadual. Triste. Para não dizer coisa pior. A grande maioria esvaziada, sem dirigentes liberados, sem profissionais contratados, sem equipamentos adequados. Paralelamente, assumi o compromisso (e em grande parte já cumprido) de regularizar a vida funcional da Secom e recompor o quadro de funcionários. Em seguida, elaboramos um Plano de Trabalho apresentado à Executiva Nacional, no início de agosto, em que grande parte das nossas intenções – várias já em andamento – que abordarei a seguir, estavam ali expostas.
Página na Internet
Em conversações com a Secretaria Geral, assumimos a execução do nosso sítio na internet integrando as secretarias, impulsionando e destacando a produção intelectual e as atividades da CUT e do movimento sindical, em nossa Agência de Notícias. Foram, em média, 13 matérias por dia, desde 28 de agosto deste ano. Antes de assumirmos a página, tínhamos, em média, 4,7 mil visitas semanais. De lá pra cá, com as modificações que fizemos, chegamos à média semanal de 11 mil vistas, com picos de 19 mil (num único dia, chegamos a ter 4.717 visitas). Já adquirimos novos programas para facilitar ainda mais a integração, transformando a página num verdadeiro “portal do mundo do trabalho”, abrindo a perspectiva de integração, por exemplo, com o Centro de Documentação da CUT (Cedoc) na criação de uma “biblioteca virtual”. Este “portal” poderia, inclusive, servir às CUT Estaduais que não ainda não têm condições de manter uma página na internet.
Informacut
Nosso Informacut também cresceu. Das 3 mil assinaturas que tínhamos em janeiro, passamos a quase 12 mil assinantes, ao final de dezembro, sem o menor esforço ou propaganda. Mantemos dois artigos semanais num jornal de grande circulação nacional assinado pelo Secretário Geral, João Felício, e um artigo assinado semanalmente por mim e convidados, em uma revista de circulação nacional dedicada às mulheres. Entre outros artigos e iniciativas aqui e acolá.
Teleconferências
Outro objetivo que iremos concretizar em 2004, será a efetivação das teleconferências. Um método barato e eficiente para intensificarmos os debates no interior da CUT. Hoje, por exemplo, as “quartas sindicais” (entrevistas coletivas com jornalistas do movimento sindical, feitas todas as primeiras quartas-feiras do mês) são realizadas somente com sindicatos da capital paulista. Com a teleconferência, vamos expandi-la para todo o Brasil.
Editora
Um sonho antigo, desde o extinto “Cadernos da CUT”, ainda povoam os objetivos da Secom, que é a criação de uma editora própria da Central. Estudos já estão sendo feitos. Se viabilizado, as diversas publicações produzidas pelas secretarias poderiam otimizar custos, padronizar linguagens, com tratamento artístico e gráfico de bom nível.
Impresso
A Secom estuda também a viabilização comercial de um jornal de circulação nacional que expresse as lutas, as análises e os conceitos da CUT aos trabalhadores.
Programa de TV
A CUT lança, dia 31 de janeiro, um programa de televisão, todos os sábados, das 13h às 13h30, na Rede TV!. Será um programa noticioso, estilo revista, mesclado com entrevistas de interesses dos trabalhadores. Um grande salto de qualidade sem dúvida.
Programa de rádio
Já estão também bastante adiantadas as conversações entre a CUT Nacional, a Estadual São Paulo e alguns sindicatos paulistanos, sobre a aquisição de horários na grade de programação de uma emissora de rádio da capital. A idéia é estender essa programação até a CUT conseguir 100% dos horários na emissora, de acordo com a inclusão de mais sindicatos nesta parceria.
Coletivos
Por fim, quero ressaltar a grande importância dos Coletivos Estaduais e ou Regionais de comunicação que surgiram de agosto para cá, em todo o País. São iniciativas como essa que nos dão certeza de que nossos objetivos poderão ser alcançados ano que vem. A Secom pretende realizar, ainda no primeiro semestre de 2004, um grande encontro nacional de comunicação para discutirmos todas essas experiências e como, finalmente, integrá-las debatendo conceitos, causas e efeitos da política de comunicação da CUT.
Antonio
Carlos Spis
Secretário Nacional de Comunicação da CUT
Publicada em 22/12/2003 - Matéria da seção Ponto de Vista