O
Povo não é bobo... nem a Rede Globo!
(Sérgio
Domingues)
Muitos
de nós gritamos a palavra-de-ordem “O povo não é bobo. Fora Rede Globo!”
durante o movimento das Diretas-Já. Mas, infelizmente, a Globo aprendeu com
seus erros e continuou influenciando os destinos do país, sempre a favor dos
poderosos.
Para
quem não sabe ou não lembra, na época das Diretas-Já a Globo ignorou o
movimento e suas manifestações com até 1 milhão de pessoas. A população
nas ruas não podia ver uma viatura da empresa. Começava a gritar “O povo não
é bobo. Fora Rede Globo”. E às vezes até obrigava os jornalistas e funcionários
globais a fugir com medo de agressões físicas.
Colégio
Eleitoral contra a CUT e o PT
Depois
disso, a Globo começou a mudar. Viu que a ditadura estava se esgotando e
mostrou com simpatia a candidatura Tancredo Neves na disputa no maldito Colégio
Eleitoral. Sabia que Tancredo seria uma saída segura frente ao crescimento do
movimento popular, cujas maiores expressões eram o PT e a CUT.
A Globo
estava certa. A morte de Tancredo só deixou mais claro que tudo ia ficar na
mesma. Assume Sarney, cuja carreira política nasceu e cresceu à sombra da
ditadura. Surgia a Nova República, que de nova não tinha nada. Veio o Plano
Cruzado e a Globo foi fundamental para espalhar a febre dos fiscais do Sarney. A
farsa do congelamento de preços foi mantida somente até as eleições de 1986,
quando o PMDB fez barba, cabelo e bigode.
Collor:
a candidatura cujo partido chamava Globo
Collor
surgiu como alternativa porque a Globo fez sua fama como um pretenso caçador-de-marajás.
Nada mais falso, mas as brilhantes e coloridas tintas das telas globais não
deixam espaço para muito raciocínio e informação. Mesmo assim, Lula fez
bonito. Foi para o 2o turno contra tudo e contra todos. Na hora H, valeu a
campanha de terrorismo da grande imprensa e o toque final na edição do debate
da antevéspera entre Lula e Collor. O resultado todo mundo sabe. Collor eleito,
inicia o projeto neoliberal no país.
Fora
Collor: Caras-pintadas e Anos Rebeldes
No Fora
Collor, a Globo ainda chegou a ouvir o velho coro do Fora Rede Globo... mas bem
mais fraco. É que ela soube transformar as grandes manifestações no modismo
dos caras-pintadas e aproveitou para faturar audiência com a mini-série Anos
Rebeldes. A mini-série mostrava jovens romanticamente revolucionários e depois
da queda do Muro e do fim da URSS, a resistência armada à ditadura podia ser
mostrada a um público mais amplo sem perigo. Ficava um sabor de nostalgia de
tempos em que as classes dominantes eram truculentas e dava oportunidade a
demonstrações mais radicais. Agora não, hoje a resistência popular é coisa
do passado, esta era mensagem da mini-série. Agora, bastava desfilar em praças
e ruas com as caras pintadas e um sorriso no rosto para que tudo volte à
normalidade democrática. A normalidade do neoliberalismo, que já vinha fazendo
desempregados aos milhões desde que Collor assumiu.
Depois
do intervalo com Itamar, que continuou a implantar o projeto neoliberal em câmera
lenta, Fernando Henrique se apresentou para bancar o pai do Plano Real. Na
verdade, FHC não passou de uma barriga-de-aluguel. O plano era igualzinho a
todos os que já vinham sendo aplicados no México, Argentina, etc. Todos com a
mesma paternidade. O Departamento de Estado norte-americano, em Washington. A
Globo também não podia perder essa. Desde os primeiros choros da criança, o
Real era festejado em todo o país pela telinha azul.
Aliás,
a indústria de aparelhos de TV aproveitou o embalo dos preços congelados e a
Copa do Mundo de 1994 para vender muito mais. Até hoje tem padaria e bar com
aparelhos de TV daquela época. Foi um pacote só. Plano Real, vendas em alta e
tetra-campeonato. O resultado foi a eleição do barriga-de-aluguel, que virou a
mãe dos banqueiros, grandes capitalistas e especuladores internacionais.
Em
1996, Rei do Gado queria a rendição dos Sem-Terra
Mesmo
quando mostra os conflitos e desgraças do capitalismo, a Globo acaba dando um
jeito de mostrar que o caminho é o conformismo. É só lembrar do final da
novela Rei do Gado, em que a Sem-Terra Patrícia Pillar (loira, olhos azuis,
claro!) casa com um fazendeiro progressista, Antonio Fagundes. As bandeiras
vermelhas do MST são, então, substituídas pelas brancas. Bandeiras brancas da
paz, diziam os personagens. Na verdade, bandeiras brancas que queriam uma rendição.
A rendição dos Sem-Terra à lei e à ordem. A mesma lei e ordem que autoriza a
PM ou milícias de latifundiários a matar trabalhadores rurais indefesos.
1998:
Os institutos manipularam as pesquisas. A Globo ajudou a divulgar
Exemplo
de como atua a Globo e outros gigantes da mídia foram as eleições para
governador em 1998. Na briga contra o malufismo, Marta Suplicy já estava se
credenciando como a melhor adversária para ir ao 2o turno contra Maluf. Mas as
pesquisas foram manipuladas para estimular o voto útil em Covas. A Globo com
seu poderio ajudou a divulgar os números manipulados. O resultado foi a
passagem de Covas para o turno final da eleição. O resultado foi um eleitorado
passado para trás pela Globo e seus parceiros da mídia, especializados na
manipulação da informação.
Denuncismo
que leva à descrença e passividades políticas
Desde a
queda de Collor, a Globo vem aperfeiçoando sua forma de defender a classe
dominante. As denúncias contra Maluf/Pitta são um exemplo disso. Não havia
mais como defender tanta bandidagem em São Paulo. O melhor seria ajudar a
denunciar, mesmo que isso levasse à eleição do PT. Agora, a Globo faz de
conta que defende a ética na política usando programas como o SP-TV. Mas, com
denúncias que mais alimentam a descrença política do que forma cidadãos que
lutam por seus direitos. O resultado são pessoas que olham passivamente a política.
Votam no dia da eleição e passam a cobrar o fim de todas as mazelas no dia
seguinte. E a Globo que denunciou o malufismo volta suas garras contra a atual
administração. Como se de 8 anos de roubos e corrupção pudessem ser
enterrados em 12 ou 18 meses
Mas
nossos problemas não se resumem à Globo
A Globo
é só o lado mais cínico da TV. Todas as outras grandes emissoras fazem o
mesmo jogo, geralmente com menos qualidade, e por isso até mais
escancaradamente. Uma TV pública como a Cultura de São Paulo às vezes
apresenta programas mais críticos. Mas faz pouca diferença. São dirigidos a
quem, em geral, já tem opinião formada, seja pela direita ou pela esquerda.
Mas este é um assunto para um próximo artigo.