Noite na Baixada: Grandes editoras ignoram feira de livros na periferia do Rio

(Emir Sader)

Rio de Janeiro - Dois acontecimentos de grande importância ocorreram sexta-feira (3) na Baixa Fluminense: a inauguração da I Feira de Livros de Nova Iguaçu e a abertura do III Fórum Social Carioca, este em Nilópolis.

A Feira do Livro se realiza nas excelentes instalações do Sesc de Nova Iguaçu e, ao contrário das Bienais do Livro, não cobra ingresso e ainda entrega às crianças vales de 4 reais para que comprem livros. É organizada pela prefeitura da cidade, patrocinada pela Petrobrás, com apoio da Câmara Brasileira do Livro.

Esta feira é também muito diferente das outras, especialmente daquela de Parati – tão badalada pela imprensa. Ela acontece numa das maiores periferias metropolitanas do Brasil, tão execrada e discriminada, abrigo de grande quantidade de jovens pobres que só costuma ser citada nos jornais e na mídia em geral nas páginas policiais.

Com estas características, nem a realização da feira lhe permitiu superar a discriminação: nenhuma das grandes editoras está presente e apenas duas das médias vieram. Não há sinal tampouco da editora do presidente atual da Câmara do Livro, que compareceu à inauguração, discursou, mas parece não se sentir obrigado a prestar contas sobre algo dessa natureza.

Além disso, o tratamento da mídia é altamente discriminatório. O caderno “Idéias” do JB deu uma nota sobre a feira algumas semanas atrás e O Globo deu uma pequena reportagem no dia da inauguração. Foi só. Nenhuma das edições dos cadernos literários – “Idéas”, do JB, e “Prosa e Verso”, de O Globo – que saíram no dia seguinte à inauguração da feira publicaram uma nota que fosse sobre a programação do evento.

Que diferença com a Feira de Parati, que contou com a participação das maiores editoras, que contou recursos suficientes para levar a bom número de escritores estrangeiros, que convidou e pagou a estadia de grande parte dos editores de cultura da mídia brasileira e teve, como resultado, cobertura diária semanas antes do evento, durante sua realização e semanas depois! Mesmo com Parati sendo uma cidade pequena, cara, de difícil acesso, sem estrutura hoteleira para abrigar muita gente, obrigando o evento a se realizar em auditórios pequenos.

Tudo isso revela a falta de generosidade e de compreensão da mídia e das grandes editoras sobre a importância de um evento como este da Baixada, porque sabem que ali está um público com menor poder aquisitivo, com menor peso na mídia – em suma, pobre e marginalizado.

Em seu primeiro dia, a I Feira de Livros de Nova Iguaçu contou com duas conferências: a deste articulista sobre “Cultura, informação e cidadania” e de Gênesis Torres sobre “Música e cultura”. Até o dia 12, quando termina, a feira contará com a participação de personalidades como Ferreira Gullar, Marina Colasanti, Jorge Mautner, Antonio Torres, Pasquale Citro Neto, Silviano Santiago, Moacyr Scliar, Eduardo Bueno e Carlos Heitor Cony.

Fórum Carioca

Não longe dali, em Nilópolis, foi inaugurado sexta na Cefet – uma escola técnica federal – o III Fórum Social Carioca. O homenageado foi Dom Mauro Morelli, com leitura de sua biografia e músicas dedicadas a ele por um repentista. Em seguida falou este articulista sobre o tema geral do fórum: “Do Brasil que temos ao Brasil que queremos”.

A programação deste fim de semana prevê realização de apresentações de dança por uma academia de música local e uma mesa redonda sobre o mesmo tema central do evento, com participação da juíza Salete Macaloz, do Frei Davi e de um representante do MST, a ser coordenada pelo radialista e economista Paulo Passarinho.

Durante o dia haverá outras atividades culturais, entre elas uma apresentação do Teatro do Oprimido de Augusto Boal, com a peça “Empregada Doméstica”, e do Grupo de Teatro de Acari, com “Futuro Colorido”.

A programação também reserva espaço para oficinas livres e para apresentações de Dança do Ventre da Academia da Prof. Terezinha e da Bateria da Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis.

A participação na primeira conferência já foi grande, lotando o auditório reservado para o evento, com presença de um público variado, militante, tanto estudantil como de movimentos sociais urbanos, e de professores, em particular. O evento se insere na preparação do I Fórum Social Brasileiro,a realizar-se no mês de novembro em Belo Horizonte.

Voltar