Plebiscito da Alca: exercício da cidadania

(Rosângela Gil

Durante a semana da Pátria, de 1º a 7 de setembro, será realizado um plebiscito no Brasil. Por iniciativa de movimentos populares, militantes de partidos políticos, igrejas, sindicatos e entidades civis, haverá uma verdadeira consulta popular sobre a Alca - Área de Livre Comércio das Américas. O plebiscito, inclusive, é um dispositivo legal previsto na Constituição Cidadã de 1988.

Mais do que um dispositivo legal, o plebiscito de setembro será um exercício do que é viver em sociedade. Por que temer a reflexão e o debate de idéias? Por que temer a consciência do nosso povo? Por que temer defender a soberania do nosso país?

No Brasil todo foram formados comitês organizadores do plebiscito. Aqui na Baixada Santista o comitê é integrado por sindicatos, ativistas de partidos políticos, estudantes, movimentos sociais e populares os mais diferentes e também por igrejas. Desde a sua criação, no dia 24 de abril, o comitê vem realizando várias atividades, como debates em faculdades, em sindicatos, em escolas, distribuição de boletins explicativos nas ruas.

Fora do manto da oficialidade e da institucionalidade, o povo está se preparando para o plebiscito, num verdadeira demonstração de aula de cidadania. Cada um ajuda como pode. Um boletim aqui. Uma palavra de ordem ali. Estamos procurando conhecer e entender o que está embutido na proposta americana da Alca.

A Área de Livre Comércio das Américas é um acordo proposto, principalmente, pelo governo dos Estados Unidos, que pretende instituir a livre circulação de mercadorias e de capital em todo o continente Americano (os 34 países da América Latina e do Caribe, tirando-se Cuba).

Sob a falsa idéia de liberdade comercial, esconde-se o verdadeiro objetivo dos Estados Unidos de dominar o comércio latino-americano e ter acesso privilegiado à frente do Japão e da União Européia.

Será uma relação igual entre desiguais. O PIB (Produto Interno Bruto) americano, que é aquilo que um país produz em termos de bens e serviços ao longo de um ano, é de mais de nove trilhões de dólares; já o PIB brasileiro é de apenas meio trilhão de dólares. Os Estados Unidos sozinhos produzem um ano inteiro o equivalente a muitos ´Brasis´. O PIB de toda a América Latina é de três trilhões de dólares.

Não estamos falando de países iguais nem de relações equilibradas. Estamos falando de uma desproporção monumental. Abrir as nossas fronteiras dessa forma é pedirmos para sermos engolidos, para desestruturarmos ainda mais o nosso parque industrial. É aumentar o desemprego e criar ainda mais problemas e injustiças sociais.

Outro ponto desfavorável é a forma como o assunto está sendo conduzido. As discussões, se é que elas existem mesmo, estão sendo realizadas por equipes econômicas totalmente descoladas da realidade de cada país. São alguns “iluminados” que estão falando em nosso nome, mas que nunca  abriram o debate com a sociedade. Nem o Congresso Nacional foi consultado sobre o assunto.

Base de Alcântara

A discussão sobre a Alca envolve, também, o acordo da Base de Lançamentos de Alcântara, que fica no Maranhão. Segundo o deputado federal do PT, Waldir Pires, “o acordo com o governo dos Estados Unidos é profundamente nocivo ao interesse nacional, ao nosso desenvolvimento, violenta a Constituição, fere a soberania e limita a participação nacional nos benefícios da transformação tecnológica e científica do nosso tempo”.

Pelo acordo envolvendo os dois governos, e que está sendo apreciado pelo Congresso Nacional, o domínio da Base de Lançamento de Alcântara, localizada dois graus abaixo da linha de Equador, o que significa fazer lançamento de foguetes com economia de 30% de combustível,  passaria totalmente para as mãos do governo dos Estados Unidos. O Brasil perderia qualquer tipo de controle sobre esse território. Nem a alfândega brasileira teria permissão de fiscalizar as cargas que chegarem dos Estados Unidos para a Base.

A consulta popular da semana da Pátria também será realizada na Baixada Santista. O Comitê do Plebiscito sobre a Alca está definindo os locais de votação, como igrejas, escolas, faculdades, sindicatos, bancos, empresas, praças públicas, porto, etc.

Todos os brasileiros maiores de 16 anos de idade podem votar no plebiscito. A cédula tem três perguntas com respostas sim ou não: O governo brasileiro deve assinar o tratado da Alca? O governo brasileiro deve continuar participando das negociações da Alca? O governo brasileiro deve entregar uma parte de nosso território - a Base de Alcântara - para controle militar dos Estados Unidos?

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