Ofensiva
neoliberal do governo promove desmonte da Rádio MEC
(Ricardo
Portugal
* )
A
Rádio MEC, atualmente uma emissora integrante da Rede Brasil, está sendo vítima
da política de destruição do patrimônio público, promovida e patrocinada
pelo governo FHC. A agressão contra a emissora não vem de hoje. Ela é
parte do projeto neoliberal de recolonização de nosso país, que vai aos
poucos tendo seus bens e riquezas criminosamente entregues ao capital financeiro
internacional. Tal política é reflexo das imposições do Fundo Monetário
Internacional, que a todo custo implanta um processo de dominação política,
econômica e cultural no Brasil e em toda a América Latina.
No
caso da Rádio MEC, o descalabro é visível aos olhos mais desatentos. Em
janeiro de 2001, depois de ter alcançado - a duras penas - índices invejáveis
de audiência no cenário radiofônico carioca, a emissora teve sua
programação arbitrariamente modificada de uma hora para outra, sem que
fosse dada qualquer explicação ou justificativa a seu fiel público ouvinte.
As mudanças vieram por ordem do Conselho de Administração da ACERP
(Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto). Tal associação foi
criada em 1997, com a assinatura do Contrato de Gestão com a União, dando início
a uma espécie de privatização da emissora, doada ao Estado brasileiro em
1936 pelo educador Edgar Roquette-Pinto.
O
Contrato de Gestão, em si, já é um grande escândalo. Tanto é assim que está
prestes a ser anulado pela Justiça, por conter diversas irregularidades. O
Ministério Público inclusive já deu parecer favorável a tal anulação. Uma
das irregularidades é o fato da ACERP ter sido criada sem obedecer a Lei de
Licitações, ferindo inclusive dispositivos constitucionais, que mandam
consultar o Congresso Nacional sobre concessões de canais de radiodifusão
a empresas privadas, o que não foi feito nesse caso.
Depois
da absurda modificação em sua programação, a Rádio MEC ( primeira emissora
a entrar em operação no país ) desandou de vez. Profissionais do Jornalismo e
do setor de Operação de Áudio foram sumariamente demitidos, outros colocados
em disponibilidade, sem contar o fato da audiência ter despencado para o 23º
lugar no ranking estadual.
O
início da reação
Inconformados
com o rumo dos acontecimentos, os profissionais da Rádio MEC, ao lado dos
ouvintes, foram à luta. Com o apoio do SINTRASEF (Sindicato dos Servidores Públicos
Federais do RJ), foi formado o Comitê de Funcionários e Ouvintes em Defesa da
Rádio MEC, que tem procurado desde o ano passado mobilizar a sociedade,
denunciando o que vem acontecendo de errado na gestão da emissora. Depois de
recolhermos nas ruas dez mil e oitocentas assinaturas a favor da manutenção do
caráter público, educativo e cultural da emissora de Roquette-Pinto, levamos
ao Ministério Público um dossiê sobre os escândalos que acontecem na ACERP,
que vão desde a compra superfaturada de equipamentos, passando pela tolerância
e abusos de toda ordem, chegando ao cúmulo de se permitir o funcionamento de
uma empresa privada nas dependências da rádio, sem pagar aluguel, tampouco a
conta do telefone. Tudo constatado e documentado em recentes auditorias do
Tribunal de Contas da União e da CISET, órgão vinculado à presidência
da República.
A
Rádio MEC sofre a influência nefasta de uma triste figura: o senador Artur da
Távola, sabidamente uma eminência parda, mandando e desmandando a seu bel
prazer e conforme os interesses do governo que representa, como líder no
Senado. Suas dependências encontram-se em estado precário de conservação. Não
há investimentos na compra de novos equipamentos radiofônicos. Tudo o que
apresenta defeito é encostado e suas peças retiradas para serem usadas nos
aparelhos que ainda funcionam. O Estúdio Sinfônico - primeiro no gênero em
uma rádio e motivo de orgulho no passado - encontra-se desativado. Os
funcionários, desmotivados, não encontram ânimo para defender a rádio e seus
empregos, contribuindo para o quadro caótico atual.
Hoje,
a Rádio MEC sofre os efeitos devastadores dessa política de desmonte e
privatização, que destruiu o perfil educativo-cultural da emissora. Num
processo pioneiro e revolucionário de educação à distância, milhões
de brasileiros conseguiram alfabetizar-se pelas ondas da Rádio MEC,
libertando-se do atraso e da indigência intelectual. Era a cidadania sendo
levada aos mais distantes rincões do país.
Podemos
evitar que esse crime contra a emissora e a sociedade se perpetue, causando
imensos prejuízos ao Brasil. O Senado promove nesta semana uma audiência pública
sobre a crise da Rádio MEC, na Comissão de Educação. Vamos denunciar aos
parlamentares o qu está se passando com a emissora de Roquette Pinto. Na condição
de profissionais, ouvintes e cidadãos comprometidos com a soberania e a
independência nacional, vimos a público denunciar o que vem acontecendo. Lutamos
para livrar o patrimônio público da cobiça daqueles que querem transformá-lo
em alvo do lucro fácil e da ganância exploradora.
(
* ) Ricardo
Portugal é jornalista e membro do Comitê
de Funcionários e Ouvintes em Defesa da Rádio MEC