Doha (Qatar) - Desde o começo da guerra, Omar Al-Issawi vem sendo quase tão procurado quanto os oficiais da coalizão. Este jornalista libanês de 36 anos não pode circular no centro de imprensa da base de Al-Sayliya (Qatar) sem ser abordado por colegas estrangeiros. Não se passa um dia sem que lhe solicitem uma entrevista. Não se passa um dia sem que lhe sejam feitas perguntas sobre a maneira com a qual a sua empresa, o canal de televisão de informação contínua Al Jazeera, está tratando o conflito. Entre duas apresentações de reportagens ao vivo, Omar Al-Issawi vê-se portanto transformado num advogado. Ele defende a sua emissora, reafirma o seu "orgulho" por estar trabalhando nela desde 1996. "A Al Jazeera é livre", explica. "Ninguém pode fazer pressão sobre nós. Aqui, nós não temos problemas com os britânicos nem com os americanos, ninguém nos impede de trabalhar".
Contudo, em duas oportunidades, a Al Jazeera provocou a indignação dos países da coalizão, e muito particularmente de Washington, ao difundir imagens de soldados americanos mortos ou prisioneiros dos iraquianos. Dirigindo-se a Omar Al-Issawi em 23 de março, por ocasião de uma coletiva de imprensa, o general americano John Abizaid lhe disse: "Estou muito decepcionado com o fato de que vocês tenham divulgado essas imagens". Enquanto procurava conter a sua cólera, o general Abizaid, mais adiante, acrescentou: "Estas imagens são nojentas, e o fato de tê-las mostrado é absolutamente inaceitável".
Em 27 de março, foi a vez do marechal da força aérea britânica (RAF) Brian Burridge de se indignar diante de um outro jornalista da emissora: "Todos os meios de comunicação precisam estar conscientes dos limites do mal-gosto e da decência; eles também precisam tomar cuidado para não se tornarem involuntariamente os instrumentos da propaganda iraquiana".
Estes incidentes tornaram Omar Al-Issawi um dos personagens chaves desta micro-sociedade em que foi transformado, no decorrer dos dias, o centro de imprensa. Dez vezes, cem vezes, até mesmo no quadro do programa de Larry King, o apresentador vedete da CNN, ele tomou a defesa da Al Jazeera. "Compreendo a reação dos generais", reconheceu o jornalista em entrevista ao "Le Monde". "É normal que eles se mostrem sensíveis com o que tem acontecido com alguns de seus soldados. Mas, é uma guerra, e a guerra não é um videogame de computador. Há sangue, mortos, é sempre assim. É preciso lembrar-se das imagens do Vietnã, do Líbano, do Kosovo... Nós não inventamos nada! Apenas estamos tentando mostrar o que acontece dos dois lados; é uma questão de honestidade em relação aos nossos telespectadores".
Mesmo que, procedendo desta forma, a emissora corra o risco de chocá-los? "É claro!", rebate Omar Al-Issawi. "Nesse sentido, alguns entre eles já nos comunicaram o seu desacordo. Vocês não devem pensar que nós, no Oriente Médio, não passamos de uns monstros insensíveis! A televisão é uma questão de liberdade, de escolha pessoal. Se vocês não estiverem gostando da Al Jazeera, basta apertar no botão do seu controle remoto. Nós, por nossa vez, continuaremos a fazer o nosso trabalho".
No centro de imprensa, a emissora dispõe de um escritório situado num corredor batizado de "Alameda da coalizão". Nele, dez pessoas se revezavam 24 horas por dia. Os seus vizinhos mais próximos são a BBC e a CNN. Na opinião de todos, as relações são "cordiais".
Tradução:
Jean-Yves de Neufville