Abaixo-assinado sobre TV Digital

(Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura - Indecs)

Gustavo Gindre, diretor executivo do Instituto de Estudos e Projetos em Comunicação e Cultura (Indecs) e editor do Boletim Prometheus encaminhou ao Boletim do NPC, texto do Abaixo-assinado ao Ministério das Comunicações sobre Projeto de TV Digital. Segue o texto:

“O decreto que propõe a criação do Grupo Executivo do Projeto TV Digital deve ser saudado como iniciativa capaz de iniciar um debate mais amplo sobre este que será um dos mais significativos eventos nos âmbitos cultural, social, tecnológico e político das primeiras décadas do século XXI em nosso país. Basta constatar a amplitude do fenômeno da televisão e multiplicar pelo alcance das ferramentas digitais, notadamente a interatividade e o potencial de inclusão social.

O Projeto TV Digital terá enormes impactos na produção de conteúdo audiovisual e de softwares, na construção de uma política industrial que envolva, inclusive, a sensível área dos semicondutores (chips), na balança comercial brasileira (através do pagamento, ou não, de royalties), nas relações de nosso país com os blocos econômicos internacionais, entre outras diversas áreas tão ou mais sensíveis.

Ao contrário do que nossa grande imprensa vem noticiando, não está em jogo, apenas, a escolha de um padrão de transmissão. Mas, como a própria adoção da TV digital somente se inicia nos países ditos desenvolvidos, estamos, de fato, no estágio de definir o que realmente esperamos desta tecnologia.

Ainda que conservadora, nossa televisão analógica conseguiu ser satisfatoriamente inclusiva. Segundo dados do IBGE, cerca de 90% dos lares brasileiros possuem uma televisão. Boa parte do seu conteúdo é nacional (ainda que de qualidade discutível) e a confecção dos aparelhos (graças ao sistema PAL-M) é toda feita em território brasileiro, por técnicos brasileiros.

Temos a chance de resolver as mazelas de nossa TV, mas não podemos perder nossas conquistas, seja na área de ciência e tecnologia, seja, especialmente, na garantia de que cada brasileiro poderá possuir um aparelho (agora interativo).

Uma escolha errada e poderemos produzir uma nova geração de excluídos. Uma escolha errada e poderemos fazer da TV digital apenas um instrumento de mercado, que forme consumidores e não cidadãos.

O momento é importante e devemos saudar a iniciativa ousada do Ministério das Comunicações em propor a criação do GET. É significativa a diferença diante da política limitada proposta pelo governo anterior.

Isso, contudo, não basta. Queremos, principalmente, a possibilidade de sermos ouvidos. Não aceitamos que tal debate seja feito sem a participação do conjunto da sociedade civil. Sabemos que, em última instância, seremos nós os usuários desta tecnologia, nós que teremos que arcar com boa parte dos custos (direta ou indiretamente) e nós que sofreremos os impactos advindos, especialmente sócio-culturais.

Por isso, pedimos ao governo que: 1) aumente o prazo de consulta do decreto que cria o GET (limitado a uma semana a partir do dia 25 de junho de 2003); 2) realize reuniões em diversas cidades brasileiras, chamando a sociedade civil para participar e contribuir com suas sugestões; 3) inclua outros representantes da sociedade civil no GET (exceto por entidades empresariais, a sociedade civil aparece no GET, somente, na vaga facultativa do Conselho de Comunicação Social).

Em síntese, queremos participar da construção de nosso futuro"

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