Carta Capital, assim como eu (seu assinante), apoiou explicitamente Lula, no que eu creio que foi um dos gestos mais coerentes e corretos da imprensa brasileira nos últimos tempos.
Contudo, deveria saber que esta situação lhe colocou como alvo preferencial de futuras críticas e isso lhe obrigaria a ser mais cuidadosa.
Não sou o primeiro leitor a apontar que o noticiário ficou mais dócil desde a posse de Lula (vide a seção de cartas). O que, concordo, podemos colocar nas contas de um governo em início de mandato. Ainda que pautas como a da reforma da previdência e sua relação com a Gushiken & Associados repousem em vossas gavetas.
Ocorre que, no mesmo período, também aumentaram os anúncios de empresas estatais. No número 246, por exemplo, encontramos duas páginas do Banco do Brasil e uma contracapa de Furnas. Além de uma página da Faculdade Trevisan (empresa de propriedade de um assessor de Lula, comissionado no próprio Palácio do Planalto).
No mesmo número, com a capa e uma entrevista de cinco páginas em que Olavo Setúbal chama Lula de “gênio político”, o Itaú aparece anunciando em uma contracapa, uma outra página inteira e uma terceira com o seu prêmio para a educação.
Continuo acreditando em Carta Capital e a defendo como a melhor revista semanal do Brasil. Por isso mesmo, não gostaria de vê-la cometendo os velhos equívocos de nossa grande imprensa, mas agora com o PT no poder.
Afinal, como diz Millor Fernandes: “jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados”.