LSI desenvolve protótipo de receptor e prepara-se para a tecnologia de TV Digital

(Antonio Carlos Quinto

O Set-Top-Box terá um preço acessível e se adpatará em qualquer sistema de TV Digital que venha a ser implantado no Brasil. A inovação, que está sendo desenvolvida, na Poli poderá custar apenas 30 reais

Ainda este ano, pesquisadores do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da USP deverão concluir um protótipo de Receptor de TV Digital Universal, que poderá operar de maneira independente da modulação do sinal. De acordo com o professor Marcelo Krönich Zuffo, do LSI, o Set-Top-Box Digital, como é denominado o aparelho, terá condições de ser adaptado em qualquer sistema de TV Digital que venha a ser implantado no Brasil. "Desenvolvemos este receptor a um custo muito baixo, que deverá custar algo em torno de R$ 30,00", estima o professor, lembrando que um aparelho deste tipo produzido em série nos EUA pode chegar a US$ 800.

Zuffo explica que o Set-Top-Box nada mais é do que é um microcomputador de 32 bits e que, neste primeiro protótipo, já será possível acessar a internet. "Este equipamento possibilitará a convergência de sistemas, ou seja, poderá ser conectado a um telefone fixo ou celular", garante o professor. Isso será possível porque o Set-Top-Box terá uma CPU com interfaces que permitirão diversas conexões. "Uma das preocupações do baixo custo do produto é que devemos levar em conta que a TV Digital poderá ser acessível às classes C e D", estima Zuffo. Para tanto, os pesquisadores do LSI já buscam parceiros na indústria para a fabricação em série do equipamento.

Tecnologia nacional

Provavelmente ainda neste ano, o governo brasileiro deverá escolher o padrão de TV digital a ser adotado no País. A opção estará entre o americano (ATSC), o japonês (ISDB-T) e o europeu (DVB). Para Zuffo no entanto, o protótipo do Set-Top-Box vem comprovar sua tese de que o Brasil possui totais condições tecnológicas para, no prazo médio de um ano, propor um padrão de TV digital exclusivamente nacional. "Tecnicamente falando, somos capazes de ingressar neste mercado utilizando tecnologia brasileira", afirma. "Porém, uma decisão dessa não depende apenas de fatores tecnológicos. A demanda vai além disso e dependeria de uma ação conjunta de todos os setores envolvidos", aponta o professor.

Na opinião dele, a escolha de um padrão de TV Digital poderia ser adiada e melhor discutida. "A opção por qualquer um dos sistemas estará atrelada a fatores que vão além da qualidade tecnológica", diz. "Trata-se de uma escolha que terá impacto nos próximos 30 anos, além disso, será uma decisão geopolítica que envolve, inclusive, aspectos culturais", aponta. O professor explica que, futuramente, com a TV Digital será estabelecido um modelo de convergência entre o telefone celular, computador e portais (homegatway). "A opção por um padrão digital levará em conta tudo isso", explica Zuffo.

Com relação às diferenças entre os padrões (americano, japonês ou europeu), o professor considera o japonês "mais ousado", principalmente quanto aos modelos de convergência que permitem a interação de aparelhos de TV, celular, Sistemas de Posicionamento Global (GPS) e serviços E-comerce e M-comerce de automação doméstica. "No caso americano, há que se considerar um legado de 250 milhões de TVs que funcionam muito bem", analisa. Quanto ao padrão europeu, Zuffo considera conservador por conciliar o interesse de 32 países que compõem a comunidade européia. "É perfeitamente viável um país que possui 54 milhões de aparelhos de TV como o Brasil propor um padrão com tecnologia própria. Nosso sistema poderia ser uma boa mistura dos três em questão", afirma, lembrando que, em breve, a China deverá lançar seu próprio padrão de TV Digital.

Publicado em 21/8/2002, em www.acessocom.com

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