Não é possível conceber uma sociedade realmente democrática sem meios de comunicação independentes. Esta idéia foi compartilhada por ativistas de diversos países, que relataram durante o III FSM experiências que buscam dar à sociedade controle sobre a informação disseminada pela mídia.
O editor-chefe do jornal francês Le Monde Diplomatique, Ignacio Ramonet, enfatizou durante a conferência “Mídia e globalização”, que é necessária a criação de um poder popular que se oponha aos poderes da mídia e do capital financeiro. Ele lembrou que a globalização fez com que mudasse radicalmente o perfil das empresas de comunicação, que hoje controlam diversas atividades, do entretenimento ao jornalismo e publicidade. Como as empresas pertencem a um mesmo grupo, diminuem as diferenças entre tais atividades, disse Ramonet. Ou, nas palavras do presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, as fronteiras entra a informação de interesse público e os anúncios publicitários sumiram no final do século XX. Essa concentração midiática levou os grandes conglomerados a se aliar ao poder privado ou estatal, para reforçá-lo, e não mais contrapô-lo. E isso ficou bastante claro durante o golpe na Venezuela, liderado por empresas de comunicação.
O jornalista francês considera importante o papel dos observatórios de imprensa que têm surgido em diversas partes do mundo. Porque se a informação já foi escassa, hoje ela é tão abundante quanto contaminada pela manipulação.
Ana Pizza, jornalista da revista italiana Carta, assim como o americano David Barzanian, relataram que em seus países o surgimento de meios de comunicação independentes têm obrigado a mídia tradicional a assumir posições mais equilibradas. Para Barzanian, todos os movimentos sociais deveriam desenvolver seus próprios meios de comunicação.
A criatividade dos profissionais da comunicação, principalmente os jornalistas, é apontada pelo diretor da revista Glasberg-Brasília, Carlos Eduardo Zanatta, como uma importante alternativa para que informações imparciais e de qualidade cheguem aos cidadãos. Diversos outros caminhos foram apontados pelos participantes do painel “Comunicação, regulamentação e controle público”, promovido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação durante o III FSM. Entre elas podem ser citadas o incentivo à produção local, o estímulo à formação profissional na área da comunicação, a criação de fundos de sustentação e a efetiva implementação de rádios e tvs comunitárias.
O acúmulo de discussões e as mudanças ocorridas no Brasil após a criação do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação foram apresentados pelo jornalista Daniel Herz em diversos espaços. Idéias como universalizar o acesso à internet, criar mecanismos que evitem a concentração dos meios de comunicação ou estimular a radiodifusão comunitária vêm sendo disseminadas desde a criação do FNDC, em 1991.
A concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucas empresas faz com que não sejam abordadas a diversidade de idéias e pontos de vista que convivem lado a lado na sociedade, lembrou Bucci.
Cidadãos x Consumidores
O desenvolvimento de uma nova imprensa requer também que a população mude sua postura perante a os meios de comunicação. Hoje, a mídia vende informação para consumidores. Em um misto de marketing e jornalismo, busca-se na verdade vender produtos e serviços, sempre com um verniz de isenção.
Uma
mídia democrática coloca o cidadão em primeiro plano, selecionando as informações
a serem veiculadas de acordo com as necessidades da população.
Como enfatizou o presidente da Radiobrás, é justamente a mudança de postura da sociedade frente à informação que pode fazer surgir - ou ampliar - uma imprensa que rompa com a lógica comercial e passe a ser compatível com a democracia, “uma imprensa que se coloque acima do mercado e não venda produtos transformados em idéias”.