Le Monde- Dentro do conglomerado de comunicações AOL Time Warner, a senhora dirige um grupo que edita 140 publicações, as quais são lidas por 298 milhões de leitores. O congresso mundial da revista impressa, que foi organizado de 26 a 28 de maio em Paris pela Federação Internacional da Imprensa Periódica, está mostrando que o setor tem condições de resistir à crise. A senhora acha que é ainda possível ver novas áreas de crescimento e de inovação no campo das revistas se desenvolverem nos próximos anos?
Ann Moore - Sim, o mercado das revistas impressas ainda oferece um grande potencial de crescimento, embora alguns o considerem bastante saturado. Ainda é possível promover novos lançamentos em segmentos do mercado que permaneciam até agora inexplorados. Além disso, acho que ainda existem, por exemplo, enormes oportunidades de criação de novas publicações voltadas para famílias de leitores tais como as mulheres ou as crianças. Da mesma forma, no leque de publicações que o nosso grupo edita hoje nos Estados Unidos, os homens jovens ainda não estão servidos a contento, principalmente pelas revistas para homens que já existem no mercado. Até mesmo o humor pode constituir a idéia central de uma nova revista, numa época em que a vida está se tornando menos fácil, mais estressante.
Da mesma forma, em função do desenvolvimento de certos nichos, novos projetos ambiciosos podem ser apoiados. Por exemplo, nós lançamos recentemente uma revista sobre skate, que tem obtido um grande sucesso publicitário. É por isso que, assim que o mercado e a economia estiverem mais favoráveis, nós procederemos a novos lançamentos.
Le Monde - Quais são as condições que deve reunir todo novo título que pretende implantar uma marca forte, tais como a "Time" ou a "Elle", para ter sucesso?
Ann Moore - Toda nova revista da qual se pretende estabelecer a marca de maneira sólida e rentável deve apoiar-se sobre dois pilares: a diferenciação e a pertinência em relação ao mercado. Sempre fiquei espantada de ver a quantidade de publicações que são lançadas apenas para copiar um sucesso.
Le Monde - Qual é a política de internacionalização da Time Inc., que é um ator da maior importância no mercado americano?
Ann Moore - Nós queremos nos afirmar como um grupo internacional. Temos duas marcas que são comercializadas no mundo inteiro, as revistas "Time" e "Fortune", e nós acabamos de dar início à implementação desse projeto em nível internacional com a "In Style". Toda a questão é conseguirmos encontrar os parceiros certos em cada país onde pretendemos nos implantar, ou ainda adquirirmos atores já estabelecidos como fizemos na Grã-Bretanha com a compra do grupo editorial IPC. Mas, apesar de tudo, a concentração do setor é inevitável, levando-se em conta o fato de que a concorrência se exerce em grande parte por meio do domínio dos custos, e isso, mesmo se a inovação dá bons resultados.
Le Monde - Onde estão as fontes de inovação nos campos da criação e do desenvolvimento das revistas?
Ann Moore - Nós ainda temos muito trabalho por fazer em matéria de concepção das publicações. Hoje, os nossos clientes estão acostumados com um mundo cada vez mais sofisticado em matéria de design. Além disso, a globalização facilita os intercâmbios de idéias e torna o consumidor mais exigente, uma vez que ele tem muito mais condições de comparar. Além de tudo, basta considerar o setor da fotografia, que constitui um elemento central para as revistas. A grande inovação tem sido o advento da foto digital. Hoje, cerca de 70% das fotos do grupo Sports Illustrated que pertence a Time Inc. são produzidas por meio da tecnologia digital. Esse avanço técnico nos permitiu nos libertar de pesados imperativos logísticos que dificultavam a realização das revistas.
Le Monde - A Internet, os videogames e a televisão poderiam provocar um enfraquecimento da leitura, principalmente nas jovens gerações?
Ann Moore - Não creio que isso venha a acontecer. Nos últimos anos, eu lancei duas publicações para os jovens, a "Time for Kids" e a "Sports Illustrated for Kids". A sua audiência é enorme. Quando nós criamos a "Teen People", que é uma revista derivada da "People", nós conseguimos alcançar o equilíbrio financeiro após dois anos. Portanto, acredito que as jovens gerações estejam dispostas a ler, contanto que bons produtos lhes sejam oferecidos.
Voltando à sua pergunta, não creio que a Internet seja um veículo adequado para a leitura, e sim muito mais para efetuar pesquisas e transações. As publicações, muito interativas, que iremos lançar na Internet nos próximos meses não farão concorrência às nossas revistas, e sim lhes servirão de complemento. Já, em relação ao predomínio da televisão, creio que nós estamos assistindo a uma reviravolta interessante.
A fragmentação da atual oferta televisiva, com o desenvolvimento da televisão a cabo, deverá conduzir a uma pulverização dos públicos. Isso fará com que, no médio prazo, as revistas impressas tenham mais audiência que muitos programas de televisão que são destinados ao grande público.
Basta ver o que está acontecendo com a revista "People": ela atrai 35 milhões de leitores toda semana.
Com isso, acredito que a revista poderia um dia acabar se impondo como o último grande veículo de comunicação de massa.
Tradução: Jean-Yves de Neufville