Se
dependesse das redes americanas de TV, os protestos antiguerra de ontem não
teriam passado de fatos isolados. As redes abertas (ABC, CBS, NBC e Fox) os
registraram com muito pouco destaque, em telejornais que preferiram enfatizar a
mobilização de tropas americanas no golfo Pérsico e a ameaça de um novo
ataque terrorista em solo americano.
Em Nova York, manifestantes lotaram 20 quarteirões perto da ONU, sob um frio de
-4C.
Organizadores afirmaram ao jornal "The New York Times" que 400 mil
pessoas compareceram ao protesto. Autoridades nova-iorquinas, segundo a agência
Reuters, estimaram que a marcha atraiu cerca de 250 mil pessoas.
Durante o protesto, o FBI (polícia federal) infiltrou agentes disfarçados de
manifestantes, colocou atiradores de elite no topo de prédios e, pela primeira
vez num ato popular como o de ontem, utilizou equipamentos para detectar a
presença de material radioativo.
Os canais a cabo especializados em notícias (CNN, Fox News, MSNBC e CNBC)
demoraram para exibir imagens das manifestações em Nova York e na Europa.
Sempre que o faziam, traziam, como contrapartida, depoimentos de convidados que
criticavam o movimento pacifista. Segundo eles, o movimento antiguerra é
equivocado e protege, direta ou indiretamente, o regime do ditador iraquiano,
Saddam Hussein.
A versão da CNN transmitida somente nos EUA dedicou às manifestações o mesmo
espaço que deu ao fato de o ministro das relações exteriores do Iraque, Tareq
Aziz, ter se negado a responder a uma pergunta de um jornalista israelense
durante coletiva na Itália.
Diferentemente da CNN Internacional, que exibiu as manifestações ao redor do
mundo com intensidade, a CNN americana preparou uma cobertura especial, de uma
hora de duração, sobre as ramificações mundiais da Al Qaeda.
Durante sua reportagem mais extensa sobre as manifestações, a CNN americana
trouxe depoimento de Cliff May, diretor da Fundação em Defesa da Democracia,
que defende a deposição de Saddam. "Trata-se de um ditador sanguinário",
disse. "Sua deposição libertaria o povo do Iraque e traria novos ares à
região."
A Fox News transmitiu sua maior cobertura sobre as manifestações só à tarde.
Rede mais simpática a Bush, a Fox divulgou pesquisas mostrando que 54% dos
americanos vêem as ações antiguerra dos franceses e dos alemães como "ações
negativas e perturbadoras" de uma solução eficaz do problema no Iraque.