Marchas são "escondidas" pela mídia americana

(Marcio Aith - Folha de S.Paulo, em Washington)

Se dependesse das redes americanas de TV, os protestos antiguerra de ontem não teriam passado de fatos isolados. As redes abertas (ABC, CBS, NBC e Fox) os registraram com muito pouco destaque, em telejornais que preferiram enfatizar a mobilização de tropas americanas no golfo Pérsico e a ameaça de um novo ataque terrorista em solo americano.

Em Nova York, manifestantes lotaram 20 quarteirões perto da ONU, sob um frio de -4C.

Organizadores afirmaram ao jornal "The New York Times" que 400 mil pessoas compareceram ao protesto. Autoridades nova-iorquinas, segundo a agência Reuters, estimaram que a marcha atraiu cerca de 250 mil pessoas.

Durante o protesto, o FBI (polícia federal) infiltrou agentes disfarçados de manifestantes, colocou atiradores de elite no topo de prédios e, pela primeira vez num ato popular como o de ontem, utilizou equipamentos para detectar a presença de material radioativo.

Os canais a cabo especializados em notícias (CNN, Fox News, MSNBC e CNBC) demoraram para exibir imagens das manifestações em Nova York e na Europa. Sempre que o faziam, traziam, como contrapartida, depoimentos de convidados que criticavam o movimento pacifista. Segundo eles, o movimento antiguerra é equivocado e protege, direta ou indiretamente, o regime do ditador iraquiano, Saddam Hussein.

A versão da CNN transmitida somente nos EUA dedicou às manifestações o mesmo espaço que deu ao fato de o ministro das relações exteriores do Iraque, Tareq Aziz, ter se negado a responder a uma pergunta de um jornalista israelense durante coletiva na Itália.

Diferentemente da CNN Internacional, que exibiu as manifestações ao redor do mundo com intensidade, a CNN americana preparou uma cobertura especial, de uma hora de duração, sobre as ramificações mundiais da Al Qaeda.

Durante sua reportagem mais extensa sobre as manifestações, a CNN americana trouxe depoimento de Cliff May, diretor da Fundação em Defesa da Democracia, que defende a deposição de Saddam. "Trata-se de um ditador sanguinário", disse. "Sua deposição libertaria o povo do Iraque e traria novos ares à região."

A Fox News transmitiu sua maior cobertura sobre as manifestações só à tarde. Rede mais simpática a Bush, a Fox divulgou pesquisas mostrando que 54% dos americanos vêem as ações antiguerra dos franceses e dos alemães como "ações negativas e perturbadoras" de uma solução eficaz do problema no Iraque.

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