Rede Globo censura beijo Gay
Leo Mendes, jornalista, Bacharel em Direito, Presidente da Associação Goiana de Gays, Lésbicas e Transgeneros – AGLT (nov/2005)


Em pleno século XXI a novela América, de Glória Perez, frustra expectativas de milhões de brasileiros que esperavam o primeiro beijo de um casal gay na teledramaturgia brasileira. As coisas não estão mudando mesmo. A rede Globo cortou, censurou o beijo do casal gay que ia ao ar às 22h30, classificado pelo Ministério da Justiça como impróprio para menores de 14 anos.

Os leitores do Globo Online mostraram , em pesquisa realizada pelo site, que não queriam ver o beijo entre os personagens Júnior, de Bruno Gagliasso, e Zeca, de Eron Cordeiro. Para 35% dos leitores, "a sociedade não está preparada" para ver este tipo de cena. Outros 24% disseram que "é melhor esconder estas coisas". Já 31% acham que o beijo deve ser mostrado, porque "é uma relação afetiva como qualquer outra". Os 11% restantes responderam que "está na hora de mostrar a realidade dos homossexuais mesmo que não aceitem este tipo de relação". A pesquisa foi respondida por 5.831 leitores. Mas será que estas mesmas pessoas foram consultadas para saber se queriam ver uma assassina, traficante e ladra como a personagem Dijanira ( Beth Farias) solta?

Será que foram  consultados para saber se gostariam de ver dois empresários ladrões e sonegadores de impostos como Glaudo e Laerte se dando bem no fim da história?
 
Será que consultaram os leitores para saber se aceitavam ver a adúltera Creuza continuando qprontando das suas?

Será que fizeram pesquisa para saber se concordavam com a indução à prostituição de menores, como foi o caso de uma das breteiras( sobrinha da viúva Neuta ) adolescente e que se oferece para qualquer homem que tenha poder e dinheiro, como o cantor Daniel?
 
Será que a Globo consultou a opinião pública para ver se concordava com a tese de que o pedófilo da novela era um homossexual e não um padre ou um casal heterossexual, como ocorre na vida real?
 
No ano em que um Gay ganha o Big Brother Brasil e que realizamos a maior parada do Orgulho homossexual do Mundo, as coisas ainda acontecem de forma tímida, devido a censura moral, ao
heterossexismo , gayfobismo e machismo da Rede Globo de Televisão que não aceita ver o beijo entre duas pessoas do sexo masculino em uma novela.

Saímos da censura política  dos  anos de chumbo para a censura  moral do século XXI. Talvez, para um público de jovens ( 15 a 24 anos), um casal de personagens gays em uma novela de horário nobre na Globo seja um avanço, mas no ano de 1981,  Gilberto Braga na novela   Brilhante  mantinha no elenco um casal homossexual: Inácio (Dennis Carvalho) e Cláudio (Buza Ferraz). Os dois  acabaram juntos, como dois ótimos amigos, eles viajaram para fora do Brasil, sem dizer que se tratava de uma lua-de-mel.Essa trajetória de liberalização das personagens  de homossexuais gays  acontece de maneira tímida, devido à censura moral e aos costumes religiosas da rede Globo. Fazer piadas sobre os gays é fato corriqueiro da rede Globo, quer seja nos seus humorísticos Zorra Total e Casseta e Planeta, quer seja na novela senhora do destino, com o alienado e risível Ubiracy.

Há dez anos , de 13 de março a 4 de novebro de 1995, Silvio de Abreu na novela a  próxima vitima com os personagens Sandrinho (André Gonçalves) e Jeferson (Lui Mendes) já havia colocado a questão da homossexualidade masculina de forma muito mais séria, especialmente por que envolvia dois gays de cores e etnias diferentes. O problema maior deles foi com a família, que não aceitava a situação. O público aceitou, pois, quando descobriu qual era a dos dois amigos, os personagens já haviam caído no gosto popular. Sandrinho e Jeferson terminaram a trama dividindo o mesmo teto, isto no século passado.

O autor, acreditando numa evolução da mentalidade dos telespectadores, falou da homossexualidade feminina, abertamente, em seu próximo trabalho: Torre de Babel, de 1998. Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Sílvia Pfeiffer) iniciaram a trama como muitos casais de mulheres na vida real. Só que, na ficção, isso virou um afronta e as duas tiveram de ser implodidas antes mesmo do shopping que dava nome ao folhetim.Em Mulheres Apaixonadas, exibida em 2003, o beijo entre as duas meninas aconteceu quando uma delas interpretava um papel masculino em Romeu e Julieta, como uma montagem da turma do colégio.

O que está por trás da censura moral da Rede Globo? O machismo que ainda vê a mulher, mesmo na condição de lésbica, na condição de prazerosa sexualmente, por isto mesmo aceita o beijo entre elas. A Cena se repete até na MTV, que inclui o beijo na boca de duas mulheres , mas não tem coragem de colocar dois homens com um beijo profundo e romântico.

A Rede Globo usou o marketing do primeiro beijo Gay na TV brasileira, forçou autora e atores a gravar a cena, mas na hora H, cortou e  censurou o beijo gay. 70% dos televisores brasileiros estavam ligados esperando a cena. A Globo continua Gayfóbica. A Globo prefere fazer personagens Gays caricatos, alienados, risíveis que romper as barreiras culturais opressivas da sexualidade do final do século passado e demonstrar que está antenada com as mudanças dos comportamentos.

A Rede Globo também é responsável pelas diversas formas de violação dos direitos humanos de Homossexuais, inclusive a sua forma mais cruel que é o assassinato de homens que nasceram  gostando de de beijar outros homens 

Fica registrado na história que a maior concessionária pública da Televisão Brasileira afronta contra a moral e os costumes da comunidade Homossexual do Brasil, ao privar dois gays do direito de beijar numa novela, exatamente no novo século, quando mais de 5 milhões de brasileiros e brasileiras, participam de 75 paradas do orgulho gay pedindo respeito e direito iguais, nem mais e nem menos.
 

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Leo Mendes, jornalista, Bacharel em Direito, Presidente da Associação Goiana de Gays, Lésbicas e Transgeneros – AGLT (www.aglt.org.br). Contato: aglt@aglt.org.br

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