"Veja"
denuncia corrupção de olho na privatização
A revista
"Veja" está se deliciando com as denúncias contra o governo.
Numa cacetada só, a publicação tenta desmoralizar
o governo Lula e defender as privatizações. Ao tentar abafar
a CPI dos Correios, o governo ajuda a direita a puxar o tapete sob seus
próprios pés. Por Sérgio Domingues, junho de 2005
Duas edições seguidas da revista "Veja" trazem um bombardeio de denúncias sobre o governo Lula. Principalmente, em relação aos correios e ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Nos primeiros, um alto funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos foi acusado de exigir dinheiro para colocar empresas na lista de fornecedores dos correios. No Ibama, funcionários estariam facilitando a saída de madeira da floresta amazônica em troca de propina. O caso dos correios envolve um aliado do governo. É Roberto Jefferson, deputado do PTB (RJ). No Ibama, petistas mesmo é que estariam envolvidos. A oposição grita: "CPI já". O governo tenta abafar a CPI. Diz que a investigação vai virar "palanque eleitoral". Não convence. Como diz o ditado popular "quem não deve, não teme". Portanto, quem teme, está com alguma dívida. Como há oposição dos dois lados, os da direita querem a CPI para provar que o governo está cheio de ladrões. Os da esquerda dizem que um governo eleito por centenas de milhares de lutadores sociais não pode deixar de prestar contas. Tem que ter CPI para apurar os fatos, punir os responsáveis e moralizar a máquina pública. Na grande imprensa, a revista "Veja" simboliza perfeitamente a crítica pela direita. A começar por seu estilo, que mais lembra um panfleto de direita do que jornalismo. As edições de 1° e de 8 de junho de 2005 trazem informações que mais parecem fofocas. Seriam idas e vindas dos ministros Aldo Rebelo e José Dirceu ao apartamento de Roberto Jefferson. Informações de fontes que não podem ser reveladas sobre as preocupações de José Dirceu com seus homens de confiança, Delúbio Castro e Silvio Pereira. Enfim, informações mais apropriadas para revistas sobre novelas do que outra coisa. Querem privatizar os correios? Mais uma razão para haver CPI Mas, é pior que isso. O governo diz que o que está por trás das denúncias seria uma campanha de descrença nos serviços públicos. No caso dos Correios, para viabilizar sua privatização. Como a denúncia veio de "Veja", tudo indica que deve ser isso mesmo. Mas, novamente, isso não é um argumento contra a CPI, mas a seu favor. Ela mostraria que o serviço público funciona. Só precisa combater a corrupção. Deter a CPI é fazer o jogo dos que querem entregar os serviços públicos para os tubarões do mercado. Em relação às denúncias sobre o Ibama, "Veja" torce e distorce o caso em favor de outros objetivos. Ou seja, da proteção ao agronegócio e da justificação do projeto de abrir as florestas nacionais à exploração por empresas privadas. Vejamos. Na edição de 8 de junho, a matéria "Ratos e, agora, cupins" fala sobre a Operação Curupira, que prendeu 102 pessoas em Mato Grosso. Madeireiros, fiscais do Ibama e outros funcionários públicos estariam envolvidos na extração ilegal de madeira da floresta. Pois bem, as denúncias devem ser apuradas, e os responsáveis punidos. Mas, "Veja" quer algo mais. Quer mostrar que este governo é corrupto. Mas não só. Tenta insinuar que qualquer governo é incompetente para cuidar das florestas brasileiras. Então traz a matéria "Da floresta ao deserto", em que cita os exemplos da Malásia e da Indonésia. Segundo a revista, "foi seguindo um roteiro semelhante a esse que nações como a Malásia e a Indonésia devastaram quase totalmente suas florestas. A corrupção também foi uma das forças motrizes que impulsionaram a motosserra". Ora, o desmatamento das florestas desses dois países foi resultado exatamente da entrega de sua exploração a empresas privadas. Deve ter havido corrupção, mas não o suficiente para acabar com florestas inteiras. O pior é que algo muito parecido com isso é que está em discussão no Congresso Nacional por iniciativa do governo petista. Privatização das florestas: "Veja" quer e o governo Lula, também É
o que diz a revista Reportagem nº 68, de Maio de 2005. Este raro exemplo
de jornalismo digno estampou em sua capa: "O plano da nova Amazônia:
O governo Lula parece acreditar que só o grande capital pode salvar
a grande floresta". A revista revela que o Plano Nacional de Florestas
proposto pelo atual governo pode ser uma reedição piorada
do Projeto de Lei 7492, apresentado por FHC, em dezembro de 2002. Segundo
Reportagem, a proposta de FHC:
"Previa a concessão de 50 milhões de hectares para exploração de madeira em terras públicas através de concessões por 60 anos, prorrogáveis por mais 60. É esse projeto que foi reformulado pelo governo Lula e está no Congresso. O projeto não estabelece, mas instruções que o Ibama está fazendo circular entre seus técnicos estabelecem a meta de 65 milhões de hectares de concessões (haveria um período de teste, de 10 anos, com concessão de 13 milhões de hectares)."
"Foi acrescentada ao projeto de FHC a parte que chamamos de compensatória, a garantia de que o governo protegerá ribeirinhos, quilombolas e sem terra - 90.000 famílias no Plano da BR-163."
Agora
vejam esse outro trecho exemplar do tipo de jornalismo desqualificado de
"Veja", ainda na edição do dia 8:
"O estado de Mato Grosso, sozinho, é responsável por metade de toda a devastação na Floresta Amazônica entre 2003 e 2004. Até a semana passada, ambientalistas imputavam essa triste liderança ao cultivo da soja no estado - primeiro produtor nacional do grão. Neste momento, sabe-se que há uma praga muito mais devastadora dizimando as florestas: a corrupção."
Disso
tudo sobram algumas lições. Talvez, a maior delas é
a de que não adianta o governo Lula fazer tudo que pode para agradar
a direita. A direita não vai vacilar se puder puxar-lhe o tapete.
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