Violência: superficialidade no jornalismo é o maior problema

Texto produzido pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro, maio de 2005
 

Uma pesquisa pioneira realizada pelo Centro de Estudos da Segurança e Cidadania revela que, na cobertura da violência, o jornalismo brasileiro avançou muito nos últimos anos, abandonando a longa tradição de sensacionalismo, e agora tem outro grande obstáculo a superar: a superficialidade. O trabalho, coordenado pela pesquisadora Sílvia Ramos e pela jornalista Anabela Paiva, analisou minuciosamente 2.514 textos sobre violência e criminalidade durante 5 meses em 2004 em três jornais cariocas (O Globo, O Dia e JB), três paulistanos (Folha, Estadão e Agora SP) e três mineiros (Estado de Minas, Diário da Tarde e Hoje em Dia) para decifrar as tendências da cobertura através da análise quantitativa. Os resultados não deixam dúvidas: os jornais paulistanos dedicam um espaço enorme à violência no Rio. A recíproca não é verdadeira. A diferença é de quase dez vezes.

A pesquisa foi apresentada ontem, em um seminário com a presença dos jornalistas Aloísio Maranhão e Paulo Motta (O Globo), José Luiz Alcântara (Estadão), Aziz Filho (IstoÉ e Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro) e Marcus Barros Pinto (ainda no JB), além de representantes do Cesec e da Andi. A falta de investimentos e as más condições de trabalho nas redações, a pequena quantidade de estudos e estatísticas nas universidades, a politização da segurança pública no Rio de Janeiro desde 1983 e as diferenças nos enfoques dos jornais cariocas e paulistas foram os assuntos mais recorrentes.

Noventa e cinco por cento dos textos analisados não mencionaram qualquer dado estatístico. Só 1,4% teve como fonte principal as entidades da sociedade civil e de direitos humanos. Nas peças jornalísticas focadas no ato violento, só 0,29% das notícias foram de julgamento dos crimes. Só 6,1% das pautas foram de iniciativa da própria imprensa, enquanto 90,8% foram histórias individuais, factuais e anúncios oficiais. As forças de segurança foram o foco central na maior quantidade de textos (40,5%), seguidas pelos atos violentos e seus desdobramentos (37,2%) e pelo sistema penitenciário (6,6%). O quadro mostra, portanto, a necessidade de diversificação das fontes e de textos mais analíticos. Com base no resultado da pesquisa, o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro já procura parceiros para organizar um grande seminário sobre o tema.

A velha polêmica sobre a superexposição da violência carioca na mídia não ficou de fora do debate. Isso porque a pesquisa comprova em números o senso comum: quase metade dos textos analisados (48,2%) versavam sobre a violência no Rio, enquanto os demais 26 estados da federação dividem os outros 51,8%. O Globo dedicou 78% de seus textos à cidade, menos até do que o JB (82,2%) e O Dia (94,5%). Enquanto isso, a Folha dedicou só 46,8% de seus textos a São Paulo e o Estadão menos ainda: 44,7%. Na soma, a violência paulista foi tema de apenas 2,8% dos textos publicados nos jornais cariocas. E o Rio foi tema de 22,8% dos textos sobre violência e criminalidade publicados nos jornais paulistas, chegando a 28,8% na Folha e a 28,5% no Estadão.

O relatório da pesquisa, com todas as análises e os principais quadros comparativos, está no nosso site. Aproveite, faça para você, de graça, um download deste estudo pioneiro e não deixe de visitar o site do Centro de Estudos da Segurança e Cidadania: www.ucamcesec.com.br
 

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