O jornalismo desmoralizado da Forbes

Por Mário Augusto Jakobskind, do jornal carioca Bafafá (www.bafafa.com.br), abril de 2005   
 

Mais uma vez o Presidente cubano Fidel Castro virou destaque nas páginas da revista norte-americana Forbes. O mais uma vez é porque a matéria em questão já tinha sido divulgada e acabou ficando totalmente desmoralizada. O objetivo, como não poderia deixar de ser, da Forbes foi o de desmoralizar o dirigente cubano, principalmente agora, na antevéspera da votação de uma resolução, sob o patrocínio do governo de George W. Bush, de condenação a Cuba na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas. A revista "revelou" (entre aspas mesmo) que Fidel tem uma fortuna de US$ 550 milhões.

Da primeira vez que divulgou a "informação" (sempre entre aspas), o jornalista brasileiro Clóvis Rossi quis maiores detalhes da Forbes sobre como tinha chegado a esse número. Sem ter como sustentar a afirmação, os editores responderam tentando explicar que tudo tinha sido feito na base de conjecturas. Quando se imaginava que a questão estava superada, a Forbes requentou a matéria e voltou a escrever sobre a suposta fortuna de Fidel, afirmando, inclusive, que o presidente cubano (a publicação prefere denominar ditador) era o dono de uma empresa pública que comercializa vacinas e remédios produzidos em Cuba. Outras riquezas da ilha caribenha também foram catalogadas entre os bens de Fidel, como, por exemplo, o Palácio das Convenções, local onde se realizam periodicamente importantes eventos de repercussão internacional. 

A Forbes destacou ainda o ódio do regime cubano aos EUA, mas em um só momento lembrou que o governo Bush vem radicalizando sua posição contra a ilha caribenha, chegando mesmo a criar um  governo de transição para a democracia , naturalmente, uma democracia do gênero no Iraque e Afeganistão, isto é, na ponta das baionetas. Ou seja, para a Forbes, quem odeia é o Fidel. Bush é o santo da casa, sem defeitos, da mesma forma que Donald Rumsfeld ou Condoleezza Rice com suas constantes ameaças a Venezuela, Cuba ou qualquer país que não se submeta aos desígnios estadunidenses. 

As cascatas da Forbes devem ser analisadas em um contexto mais amplo. Os EUA não se conformam com o fato de o socialismo cubano ter continuado, mesmo depois dos vaticínios dos analistas de plantão sobre o fim do modelo socialista cubano, depois da desintegração da URSS. Bush, para usar uma expressão cunhada por Nélson Rodrigues, baba de ódio ao constatar que países da América Latina têm mantido relações normais com Cuba e ultimamente não aceitam pressões vindas do Norte para acabar com esse posicionamento.  Em outros termos, Bush não quer aceitar a realidade de que a América Latina não é mais um quintal dos EUA, como recentemente afirmou o diretor da CIA, Porter Gross. 

Outro ponto que deve ser analisado é sobre o tipo de jornalismo que se faz nos Estados Unidos, por sinal, seguido nos mais amplos rincões da América Latina. Como uma revista, que se pretende séria, coloca uma matéria, baseada em conjecturas, com o visível objetivo de desmoralizar o dirigente de um país considerado inimigo? Isso é jornalismo ou esquema de engajamento partidário de Miami?

Além disso, a grande imprensa estadunidense está cumprindo o papel de linha auxiliar do Departamento de Estado, não apenas em relação ao regime cubano, como, ultimamente quanto a Venezuela. Para quem tem memória fraca, o mesmo esquema hoje utilizado pelo Washington Post para queimar o Presidente Hugo Chávez, tinha sido feito em relação à revolução sandinista, na Nicarágua. Os argumentos, insustentáveis, se repetem. Para o Post, Chávez, como Ortega, na ocasião, ameaça à liberdade de imprensa, o que não passa de uma mentira que vem sendo repetida inúmeras vezes, exatamente visando que se torne uma verdade, como faria o Ministro da Propaganda nazista, Joseph Göebels.

Neste jogo, a grande mídia tupiniquim não fica atrás. Nas últimas semanas, quase diariamente, a Venezuela vem sendo estigmatizada como o país em que a liberdade de imprensa está ameaçada etc e tal. Fica parecendo que os senhores editores pegam as imagens e traduzem os textos que aparecem em língua inglesa. Ou seja, que são pautados pelo Departamento de Estado ou pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). A exceção este dias ficou por conta de Lula, que saiu em defesa do colega Hugo Chávez nas investidas que vem sofrendo por parte do governo Bush. O fato, provavelmente a contragosto, teve de ser noticiado.

Não será de se estranhar um maior endurecimento por parte do governo Bush na América Latina. Afinal, o troglodita que ocupa a Casa Branca está seguindo os conselhos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, amigo do impune Henry Kissinger, que aconselhou o dirigente estadunidense a se ocupar mais da América Latina. FHC, como sempre, presta relevantes serviços ao império, como fez, de forma subserviente, durante o mandato de oito anos. 

Sugere-se aos leitores porventura em dúvida sobre o que foi escrito nestas linhas que acompanhem o noticiário diário dos canais de TVs abertos ou pagos e dos grandes jornais e revistas semanais destas bandas. Verão confirmados que o império tem pautado muitas editorias. A Veja que o diga.
 

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