Gramsci e a comunicação integral
Presente no 10o Curso anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), no Rio de Janeiro, em dezembro de 2004, a professora de História da UFF Virgínia Fontes falou do conceito de “comunicação integral” proposto pelo pensador italiano Gramsci. Sônia alertou que os meios de comunicação integrais, ou “de partido”, devem oferecer ao leitor comum toda a série dos raciocínios e das conexões intermediárias, de modo detalhado e não apenas por indicação. Por Gustavo Barreto, dezembro de 2004, para o NPC.

Qual a relação entre Estado, Hegemonia, Cultura e Comunicação na obra de Gramsci? A pesquisadora e colaboradora do NPC, Sônia Mendonça, explicou que, para o pensador italiano, Cultura era o mesmo que Ideologia, que por sua vez era sinônimo de Política. “Estado, Hegemonia e Cultura são dimensões constitutivas de uma mesma questão: a dos mecanismos do exercício da dominação de classe, logo, da reprodução social, sempre conflituosa”, argumenta. Neste registro, “o Estado não aparece mais como um alvo a conquistar. Ele se complexificou e enraizou na sociedade, não podendo, definitivamente, ser percebido como exterior a ela”.
 
Ela contextualizou a época em que viveu – Gramsci faleceu em 1937 –, relembrando que ele acreditava ser inviável a revolução na Itália naquele momento. Sônia lembrou também que uma parcela dos camponeses tinha uma forte adoração por Benito Mussolini (1883-1945), ex-fascista italiano e cujo pai era um ferreiro socialista.
 
A pesquisadora ressaltou a importância da organização e da concepção de Estado de Gramsci. “O Estado não é concebido enquanto uma relação social, logo em permanente redefinição. Isso dá margem à produção/reprodução do senso comum, que tende a esvaziar suas estruturas materiais de conteúdos sociais específicos”.
 
Na questão da organização, Sônia lembrou que o intelectual – na visão de Gramsci – era o homem de ação, “que organiza”. “Os intelectuais podem ser todos os homens que estão nesse processo, e não apenas os iluminados. Tanto os dominantes quanto os dominados possuem seus intelectuais”, sustenta.
 
Sônia comentou um pouco sobre a trajetória do autor que, segundo ela, está na linha de frente dos pensadores de nosso século que continuaram, de maneira criadora, a obra de Marx e de Lênin, desenvolvendo sobretudo sua dimensão filosófica.
 
O papel da imprensa
 
A professora explicou para os participantes como ocorre a construção da hegemonia formulada pela elite. “O povo comprou valores que não são seus”, disse, citando Gramsci: “O povo sabe o que quer, mas também quer o que não sabe”. “Assim como a Escola”, diz, “a Imprensa assume papel essencial no seio da sociedade civil, já que são as únicas a abranger totalmente o domínio da cultura em todos os seus graus. Desde a produção de livros para a elite até jornais voltados para a vulgarização popular, ampliando seu raio de difusão de um dado projeto”.
 
Gramsci dá grande ênfase ao que chama de “jornalismo integral”, isto é, aquele que não apenas satisfaz todas as necessidades de seu público, mas também cria e desenvolve estas mesmas necessidades. “Não basta dar o conceito e os instrumentos para socializar o conceito. Deve oferecer mecanismos de raciocínio e de leitura ao cidadão comum”, argumenta.
 
Confirmando a tese reforçada pelo escritor Vito Giannotti durante o curso do NPC, Sonia argumenta que a repetição das idéias é fundamental, mas faz uma ressalva. “A repetição paciente e sistemática é um princípio metodológico fundamental. Mas não a repetição mecânica e obsessiva, e sim a adaptação de cada conceito às diversas peculiaridades e tradições culturais, sempre sem deixar de situar cada aspecto parcial na totalidade”.

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