Rádio Palestino-Israelense quer unir os dois povos

Por Deepti Hajela, da Associated Press, 19/12/2004

O estúdio fica em Jerusalém Oriental, e os transmissores em Ramalah, na Cisjordânia. Metade dos funcionários é israelense, e os outros são palestinos. Alguns programas ao vivo são em hebraico e outros em árabe. Desde seus fundadores, aos seus empregados e a programação musical, a missão na rádio "All for Peace" (Todos Pela Paz), a primeira e única rádio do Oriente Médio dirigida em conjunto por israelenses e palestinos, é a igualdade e a coexistência pacífica.

A estação começou a transmitir música e programas ao vivo via internet (www.allforpeace.org) em abril, e afirma receber cerca de 10.000 visitas por dia. Há poucas semanas, um transmissor de rádio foi instalado para transmitir também por FM. Em muitas das 18 a 20 horas diárias, a estação toca música, sempre com músicas em árabe alternadas com canções em hebraico e internacionais. Nas 30 horas semanais de programas ao vivos, manchetes de jornais israelenses são lidas em árabe, e vice-versa. Rolam em entrevistas desde deputados israelenses até representantes do Hamas, dizem os co-diretores Shimon Malka e Maysa Baransi-Siniora.

A intenção é ajudar israelenses e palestinos a se conhecerem. "Não estamos fazendo este trabalho para as pessoas que já estão conosco", diz Baransi-Siniora, 28. "Queremos chegar a pessoas que não tem posição definida". Malka e Baransi-Siniora visitaram os EUA neste mês para levantar fundos. Eles lançaram a estação com uma doação da União Européia, que cobre cerca de 80% do orçamento inicial, mas o dinheiro logo vai acabar. Eles precisam de U$750 mil por ano para manter a operação. "Nós começamos sem muita noção de onde chegaríamos", diz Malka, 37, israelense com experiência profissional em TV. "A cada dia vamos um pouco mais alto, um pouco mais fundo".

A estação é um projeto conjunto do Centro Judeu-Árabe para Paz de Givat Haviva (www.dialogate.org.il) e a organização palestina Biladi, que publica o Jerusalem Times. As duas instituições já eram parceiras no projeto "Crossing Borders" (Atravessando Fronteiras), uma revista juvenil.

Numa região onde a perspectiva do outro lado freqüentemente é posta de lado por palavras inflamadas, a All for Peace quer ensinar os ouvintes a discordar com respeito. Mesmo nesta entrevista, Malka e Baransi-Siniora tinham opiniões diversas sobre por que o transmissor de rádio que lhes custou milhares de dólares ficou retido por meses na aduana israelense.

A palestina achava que o governo israelense estava tentando desencorajar seus esforços de aproximar os dois lados. O israelense pensava que era pela situação geral tão tensa, que a burocracia não queria complicações adicionais de uma estação de rádio conjunta israelense-palestina. Malka critica tanto a mídia israelense como a palestina como parciais: "As pessoas estão consumindo a mídia quase como uma bíblia, 'se está na TV, deve ser verdade", dizem".

Ele e Baransi-Siniora estão comprometidos a cobrir os fatos diários, mas também a trazer as perspectivas de ambos os lados. Eles apontam com orgulho a forma como trataram da recente morte do líder palestino Yasser Arafat. "As pessoas ficaram impressionadas com a forma de nossa cobertura", diz Baransi-Siniora.

A estação funciona com uma pequena equipe de 14 pessoas, israelenses e palestinas, mais voluntários. Seus fundadores encontraram ceticismo quanto a própria possibilidade de a estação sair do chão, e respostas azedas de alguns parentes e amigos.

Malka falou que sua mãe "não podia acreditava que era isto que seu único filho iria fazer". Mas ele e Baransi-Siniora estão determinados a seguir adiante, e a atingir tantos corações e mentes quanto possível. "Eu quero que minha filha cresça num lugar seguro e democrático, que se identifique como palestina e compreenda e que aceite os israelenses como vizinhos", disse Maysa.

Malka repetiu o pensamento, descrevendo como ele e sua família nunca viajaram juntos, para evitar que todos fossem pegos juntos num atentado; Ele disse que trabalhar na estação era uma forma de assumir a responsabilidade por tornar as coisas melhores. "Eu poderia continuar trabalhando na TV israelense. Mas escolhi mudar. Através da estação de rádio posso plantar algo que chame mais gente para ver os do outro lado como iguais".
 

Traduzido por Moisés Storch, coordenador dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA: www.pazagora.org
 

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