Informação e rádio no semi-árido

Luísa Gockel, da RETS, novembro de 2004
 

O Programa de Capacitação em Convivência com o Semi-Árido, desenvolvido pela ONG Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh) em parceria como a Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia (Agendha), está capacitando jovens agricultores para que abordem em suas comunidades temas importantes do dia-a-dia no meio rural. Três cidades – duas na Bahia e uma em Alagoas – estão recebendo orientação de técnicos acerca de cuidados com o meio ambiente, técnicas de convívio com o semi-árido, ações afirmativas de gênero e ainda capacitação em produção radiofônica.

O projeto é resultado de um edital do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para o fomento de iniciativas de capacitação de agricultores do semi-árido brasileiro. De acordo com a vice-presidente da Agendha, Bruna Graziela, o programa é formado por 12 módulos que serão ministrados no período de um ano. "Cada módulo trata de um tema importante para eles. Começamos ensinando a metodologia de repasse. Os representantes de cada área aprendem como devem repassar o conteúdo adquirido à sua comunidade", explica Bruna. Para o coordenador técnico da Agendha, Maurício Lins Aroucha, o grande mérito do projeto é exatamente o método de repasse. "É muito mais fácil despejar as informações e ir embora, sem se preocupar com o depois", observa o coordenador. 

Nas três cidades escolhidas para o programa – Paulo Afonso e Curaçá, na Bahia, e Delmiro Gouveia, em Alagoas –, cerca de 300 pessoas, todas agricultores ou agricultoras de até 35 anos, participam da capacitação. "Escolhemos trabalhar com jovens porque queríamos pessoas dispostas a realizar coisas. Além disso, estamos formando novas lideranças", diz Bruna. Segundo ela o resultado não poderia ter sido melhor: "Eles abraçaram o projeto e o repasse para a comunidade passou a ser uma necessidade", diz. 

Outro motivo do sucesso da iniciativa, segundo Maurício Lins, foi a escolha dos temas que formariam cada módulo. Ele conta que, além de os técnicos conhecerem bem essas comunidades, o edital apontava as questões a serem priorizadas. "O que fizemos foi uma construção de conteúdo. Foi uma mistura de faro e análise de dados estatísticos", explica. Para a elaboração das questões a serem abordadas, os temas foram divididos em três grandes blocos: ações afirmativas de gênero, técnicas apropriadas de convívio com o semi-árido e agroecologia. Esse conteúdo é trabalhado em todas as comunidades, mas, em cada cidade, existem pequenas variações. "Temos que nos adaptar à realidade deles. Em cada cidade, existem algumas particularidades, como a relação com o rio, por exemplo". O coordenador explica que algumas cidades estão localizadas à margem do Rio São Francisco e, em outras, a escassez de água norteia a vida da população. 

Se a água é inevitavelmente o tema obrigatório nas oficinas, outra questão gerou surpresa entre os participantes. "Trabalhamos a problemática da mulher e foi tudo muito novo para eles. Discutimos o grau de participação da mulher nas decisões que afetam a comunidade", conta Bruna. 

Para a vice-presidente da Agendha, um dos pontos altos do projeto é a capacitação em produção radiofônica. "No meio rural existem cidades que têm no rádio o seu principal meio de comunicação". Nas oficinas, os técnicos trabalham os elementos radiofônicos e os jovens aprendem a fazer programas de rádio. "Eles discutem a pauta, fazem as entrevistas, aprendem a colocar a voz. O programa é sobre os conhecimentos que eles adquiriram no programa até então", explica Bruna. 

O Comunicação, Educação e Informação em Gênero (Cemina), braço da Redeh, é o responsável pela capacitação em radiofonia. A coordenadora de Projetos da Redeh-Cemina, Silvana Lemos, trabalha com esse tipo de projeto há muitos anos, mas admite que foi uma surpresa o resultado das oficinas. "Nós que moramos nas capitais temos uma visão preconceituosa dos jovens do meio rural. Eles são muito ligados no que acontece no mundo", diz. 

Segundo Silvana, na última capacitação, a evolução dos participantes foi enorme. Em três dias, eles se desinibiram, organizaram melhor as idéias e discutiram como podem usar o rádio para melhorar sua relação com o meio ambiente e principalmente com a água. "Muitas vezes o rádio é o único meio de comunicação de referência para eles. Em um dos municípios, existe até um projeto de montar uma rádio comunitária", conta. Os principais temas abordados nesses programas, e escolhidos por eles, são gravidez na adolescência, prevenção, violência contra a mulher, corrupção e meio ambiente. 

Para Maurício, esse tipo de iniciativa é extremamente gratificante para os dois lados. "É muito bom trabalhar com eles porque ser jovem e trabalhador rural no semi-árido é muito difícil, pois não são muito percebidos. E eles querem cada vez mais visibilidade, com toda a razão", defende. 
 

Links relacionados

• Cemina (Comunicação, Educação e Informação em Gênero) 
http://www.cemina.org.br/

• Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) 
http://www.pronaf.gov.br/florestal/ambiente.htm

• Redeh (Rede de Desenvolvimento Humano)
http://www.redeh.org.br/

Revista do Terceiro Setor
http://rets.rits.org.br/

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