A revolução
bolivariana, transmitida de Brasília
Iraê Sassi, para o Brasil de Fato, outubro de 2004
Vejamos o exemplo da Venezuela: todo o arsenal e a potência de fogo da mídia privada, que tinha o domínio absoluto da comunicação naquele país, foi utilizado para barbarizar a imagem da revolução atual em curso, e finalmente, derrotá-la. O povo humilde da Venezuela, tendo encontrado um instrumento para organizar-se, não se deixou vencer nem enganar. Muito pouco, ou quase nada disso foi transmitido pela mídia a nível mundial. A revolução aprendeu a lição, resolveu potencializar o sistema estatal e comunitário, criou a ViVeTV para transmitir cultura e informação verdadeiras, e agora propõe-se a estimular a criação de uma rede de TVs em toda a América Latina e que transmita para todo o mundo, totalmente fora de controle das centrais informativas e culturais do imperialismo. INEDITISMO O que está ocorrendo nesse terreno não é simplesmente a criação de uma nova mídia independente, pública ou estatal como aquela já existente na América Latina, desde as TVs educativas, os sistemas comunitários, até os canais estatais ou regionais que prestam um digno serviço às populações, apesar da falta de meios e de condições financeiras e até mesmo institucionais para competir com a mídia comercial. Trata-se de algo novo, inédito. O presidente da República bolivariana, utilizando a TV e comunicando- se com todo o povo venezuelano, dirige o país ao vivo. Abre um canal de mão dupla, dialoga, escuta por meio de um serviço telefônico 0800 as reclamações populares, encaminha soluções, dá ordens aos ministros, pede correções, presta informações, mostra a execução dos programas de governo. Utilizandose de links locais, visita obras, discute com as comunidades reunidas em assembléias, mostra as realizações populares da revolução. Critica abertamente os ministros ou funcionários do Estado que não cumprem o próprio dever. Reafirma os objetivos da revolução, o seu compromisso com os pobres, os sem-posse, sem-emprego, sem-terra. A audiência do programa tem sido altíssima, apesar da sua duração de 6, 7 horas: mais de 50%. Não se trata de um programa de variedades, não tem atrativos particulares, entretenimento. É simplesmente o presidente da República, e líder da revolução, a comunicar-se com todo o país. Longe de representar uma solução "técnica" para um problema que é político e social, a mídia, utilizada dessa maneira, representa uma arma potente para desencadear um gigantesco processo participativo. O que nos impede de discutir os problemas mais relevantes da humanidade, do ponto de vista dos movimentos sociais, diretamente com os protagonistas, os interessados, como os quilombolas, os indígenas, os trabalhadores de todos os níveis, os intelectuais, os estudantes, a classe média? Nada, absolutamente nada. O que sabem os povos da América Latina da revolução bolivariana? Muito pouco, quase nada. O que sabemos, nós brasileiros, das marchas do mineiros e indígenas bolivianos, das lutas do povo peruano, equatoriano, argentino? Praticamente nada. UNIFICAÇÃO Hugo Chávez tem feito chamados à unificação do continente, mas do ponto de vista dos seus povos: tem insistido que não há uma solução para Cuba, nem para a Venezula, nem para o Brasil, sem a unificação econômica, política, social, para promover as transformações sociais. Ao vivo, todos os dias. Tem insistido que se faça uma empresa petrolífera e energética latino-americana e estatal, que se integrem todos os países, contra o imperialismo estadunidense. Mas o nosso povo não está devidamente informado. Eis que surge uma pequena, mas aguerrida, TV Comunitária que transmite de Brasília, e empreende uma das mais audazes e inovadoras iniciativas de sinal oposto à mídia das dez famílias da elite: mesmo cerceada pela legislação vigente, que a confina às freqüências disponibilizadas para a TV a cabo - podendo ser vista somente para a minoria que pode assinar e pagar - e pela absoluta falta de políticas públicas de apoio, subsídio e promoção do sistema de rádios e TVs comunitárias, a TV Comunitária de Brasília acaba de abrir uma janela para uma revolução social em pleno desenvolvimento no nosso continente, a da Venezuela. Uma receita simples: uma parabólica
potente que capta o sinal da TV estatal venezuelana, e retransmite o programa
Alô Presidente e outros eventos. Vale a pena conferir. E retransmitir.
O que impede o governo Lula de colocar toda a estrutura da Radiobrás
a serviço desse ambicioso projeto de integração cultural,
social e política da América Latina?
Iraê Sassi é
jornalista. Publicado no jornal Brasil
de Fato, Edição Nº 87, de 28/10 a 03/11 de
2004.
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