Não é só a Dolly que é contra a Coca-Cola
Por Paulo Lima, Rits
Paulo Duarte/Rits
Espaço de livre expressão e denúncias, o Fórum Social Mundial reúne e apresenta novos movimentos e campanhas a cada ano. Uma das campanhas de destaque dessa edição é o Fórum dos Povos contra a Coca-Cola. Dias atrás, começou a ganhar espaço na mídia brasileira uma briga de já algum tempo entre a multinacional Coca-Cola e sua engarrafadora em São Paulo para destruir a concorrente nacional Dolly.

A Dolly, uma pequena indústria de refrigerantes, reuniu provas e vem divulgando informações sobre a participação do Sistema Coca-Cola, nacional e internacional, na formulação e aplicação de um plano para destruir a empresa brasileira. Além do processo no Cade (Conselho de Administração e Direito Econômico), há vários inquéritos policiais. A empresa também teria ajuizado uma ação, no Brasil e na Justiça norte-americana, solicitando indenização por danos morais e patrimoniais à Coca-Cola. O caso deverá estender-se para várias outras esferas, inclusive criminais.

O Caso Dolly deixa no ar a forte suspeita de que a multinacional tenha utilizado métodos como sabotagem, espionagem, corrupção de órgãos e agentes públicos, ameaças pessoais, divulgação de notícias falsas e coação de fornecedores, visando acabar não somente com a Dolly, mas com o todo o mercado concorrente nacional de bebidas "emergentes" - conhecidas também como "tubaínas".

O problema, porém, em que está envolvida a Coca-Cola na Índia é de outra característica. Aqui, a acusação é da sobre-exploração da água (que deixa a comunidade com escassos recursos hídricos) e da poluição de fontes em conseqüência de suas operações. A Coca-Cola de Hindustan e a Coca-Cola de Bharat são as subsidiárias indianas da Coca-Cola.

Várias organizações não-governamentais indianas e movimentos sociais vem denunciando a situação. Os protestos, conduzidos primeiramente por dalits (a casta mais baixa da Índia) e por povos indígenas, continuam por mais de um ano em passeatas até as fábricas. Novas pesquisas confirmam que as operações da Coca-Cola produziram grandes impactos ambientais. Esgotaram e contaminaram a água e a terra nas localidades de Plachimada, estado de Kerala; Mehdiganj, próximo à cidade de Varanasi, e a cidade de Kudus, no distrito Thane.

Os slogans da campanha dizem: "Coca-Cola: unthinkable, undrinkable! Killer Cola!" ("Coca-Cola: impensável, intragável! Matadora!")

Como em outras iniciativas anteriores, o Fórum dos Povos contra a Coca-Cola organizou uma passeata e mantém um sítio com atualizações sobre a campanha, que é coordenada pela Global Resistance. Lá é possível até mesmo que a diretoria da Dolly se junte aos protestos indianos e faça doações.
 

Texto publicado na Rits em janeiro de 2004

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