“Veja” é sempre a “Veja”: a revista mais conservadora do país
Por Vito Giannotti, abril de 2004


O Brasil todo, nos dias de feriado da Páscoa ficou ligado na invasão policial, com mortes, violências de todo o tipo na favela da Rocinha, no Rio. Horas e horas de televisão e rios de tintas nos jornais. O semanário “Veja”, conhecido como “a única revista americana do mundo escrita em português” (Arbex), na sua edição de 21 de abril faz a sua síntese dos fatos. É um veneno derramado no cérebro de um milhão e duzentos mil assinantes. Durante cinco páginas ela resume os fatos e apresenta sua visão de mundo. O título já diz tudo. “a cidade que o medo construiu.” Lógico, está falando da maior favela do Rio, a Rocinha e de todas as outras favelas do Rio. Para a “Veja” o veredicto está aí.

As perguntas que ela não responde

Agora, quem construiu a Rocinha? Quem construiu as favelas do Rio? Porque o pessoal vai morar lá? A nenhuma destas questões ela responde. Ou melhor, responde a todas em bloco: foi o medo. Ou seja, não diz nada para esconder tudo. A culpa da existência das favelas é o medo. O resto para ela não interessa. As causas verdadeiras não interessam.

A revista se satisfaz em colocar a culpa numa conseqüência e não no caso. Mas isto é só a manchete geral. Vai além: “A guerra de traficantes da rocinha parou o Rio de Janeiro e expôs a tragédia urbana produzida pela proliferação de favelas nas grandes cidades brasileiras...” Eis o supremo veredicto: a tragédia  urbana é produzida pelo crescimento das favelas.

Não foram os moradores que provocaram a tragédia social

Os criminosos, os assassinos os perigosos terroristas são... os moradores destas favelas. São eles que provocam a tragédia. Nada de “Veja” se perguntar do porquê de existirem favelas no Brasil. Nada de “Veja” se perguntar de onde  vêm as armas, as granadas, a droga. Quem coordena isso? Quem libera tudo isso? Quais suas ramificações com a polícia, a justiça o poder legislativo?

E qual será a solução que o semanário propõe para acabar com esta tragédia? No seu número de 28 de janeiro a revista escreveu que o bombardeio que matou centenas de milhões no Afeganistão, foi uma dedetização.

Será que a “Veja” não sonharia com uma boa dedetização dos nossos morros e favelas? Assim acabaria a tragédia. Nada melhor que acabar com as favelas... dedetizando-as, como os Estados Unidos fizeram com o povo do Afeganistão.

Vito Giannotti é coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação



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