Ameaça
à imprensa
Enquanto o Brasil discutia caso Larry Rohter, EUA expulsavam jornalista britânica, com base em lei da era macarthista. Por Wilson Sobrinho, Outras Palavras, 18 de maio de 2004
O crime de Lappin foi "ser jornalista" e não portar um documento especial que o governo dos EUA exige para que correspondentes estrangeiros atuem no país em tempos de “guerra infinita”. Sendo cidadã britânica, ela poderia entrar e sair do país sem preocupar-se com burocracias: a Inglaterra faz parte de uma lista de 27 países cujos laços de amizade com os EUA permitem que seus cidadãos não sejam considerados terroristas de antemão. Por isso, não precisam de autorizações especiais para cruzar a fronteira. Ou seja, se Lappin tivesse qualquer outra profissão, seria apenas mais uma cidadã britânica com passe livre para visitar a Disney ou o Grand Canyon. Treze casos em um ano As medidas de controle de jornalistas foram adotadas em março de 2003. Uma lei em desuso -- criada nos anos 1950, durante a fase de perseguição ideológica conhecida como “macarthismo” -- foi desengavetada pelo novíssimo Departamento de Segurança Interna (DSI). Mesmo vindo de "países amigos", jornalistas estrangeiros precisam de um visto especial, no qual devem informar inclusive qual órgão de imprensa representam. Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), somente no ano passado treze inadvertidos correspondentes estrangeiros foram impedidos de trabalhar nos EUA, devido a essa nova-velha regra. "Que espécie de país tem medo da imprensa estrangeira?", perguntou a jornalista em um artigo publicado no Los Angeles Times depois do incidente. Lappin, que diz ter sido detida por 26 horas, classificou a experiência como "kafkiana" e "humilhante". "Desde o momento em que a decisão de me deportar foi tomada, fui tratada como uma perigosa criminosa sem nenhum direito básico", denunciou ela. Segundo reportagem do Los Angeles Times, ainda no aeroporto, funcionários pediram nomes e endereços das pessoas que ela planejava entrevistar. Foi fotografada e teve suas impressões digitais coletadas. Videogames e Olívia Newton-John Tala Dowlatshahi, do RSF dos EUA, disse à agência Associated Press que a organização está "profundamente preocupada com as novas normas de segurança interna -- não apenas em relação aos jornalistas, mas sobre todos os indivíduos e comunidades que são alvo". A RSF enviou uma carta ao secretário Tom Ridge, do DSI, onde questiona o tratamento dado a Lappin. "Não há justificativas para tratar jornalistas como criminosos", diz o documento. Entre os jornalistas que já foram impedidos de trabalhar em solo norte-americano desde que as regras mudaram, há casos que beiram o ridículo: um grupo de franceses que iria cobrir uma feira de videogames e uma australiana que pretendia entrevistar Olivia Newton-John. Fontes:
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