A violência de todos
os dias
Por Gustavo Barreto,
13 de abril de 2004
Nestes dias em que vemos na
tevê a confirmação dos números, colocando o
Rio de Janeiro como um lugar tão ou mais perigoso que o Iraque,
uma pesquisa da Agência Internacional da Paz no Brasil (Ipaz) nos
dá uma pista sobre como pensa o brasileiro. Foi perguntado: O que
é violência para você?
Para surpresa dos pesquisadores,
a violência propriamente dita aparece apenas em quarto lugar. Em
primeiro, o desemprego, tido pelos entrevistados como o maior tipo de violência
exercida pela nossa sociedade. Agrega-se a este quesito o medo do desemprego,
que tende a submeter os trabalhadores à empresa de forma unilateral,
eliminando críticas e adesões aos sindicatos.
Neste primeiro ponto, foi observado
que o brasileiro não tem inveja do dinheiro alheio: quer apenas
viver com dignidade. Devemos observar, no entanto, a relação
entre a população cuja riqueza ultrapassa o compreensível
e as massas carentes de quase todas as necessidades básicas de um
ser humano.
A segunda forma de violência
mais citada foi o consumo não-consciente, um conceito levantado
principalmente por Gandhi no século XX. Em um planeta em que se
compra de acordo com a viabilidade financeira, em detrimento da viabilidade
ecológico (no sentido mais amplo), é fundamental que pelo
menos parte da sociedade já esteja pensando desta forma, tentando
inclusive se informar sobre a forma como foi concebido o produto – e investigar
em quais condições a mão-de-obra da empresa em questão
se encontra.
A terceira forma de violência
destacada foi a de gênero, raça etc. Apesar de o debate sobre
estes problemas ter começado há muito tempo, ainda estamos
engatinhando e criando simulacros para permitir a perpetuação
deste preconceito. Isto provoca a reação verificada nesta
pesquisa em pleno século XXI.
Não podemos dizer que
a pesquisa teve uma abrangência tão grande quanto a de institutos
governamentais, mas percebe-se uma sensibilidade aguçada no esforço
de entender os problemas de nossa população.
Temos que ficar atentos para
que estas pesquisas não sejam utilizadas de forma superficial por
figuras públicas que querem apenas se promover – sejam eles políticos,
bispos e padres, apresentadores de tevê ou qualquer outra categoria.
Da mesma forma, não
podemos ignorar o quarto item, pois a violência propriamente dita
também é um problema que não está diminuindo,
e isto não é conseqüência do aumento populacional,
e sim de planos catastróficos de segurança pública
e má aplicação de recursos do Estado.
O endereço da Agência
Internacional da Paz é www.ipaz.org
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