Qualidade
na comunicação: moda ou necessidade?
Nos últimos dias, ouve-se falar na mídia e nos eventos científicos sobre a importância da qualidade na comunicação. Programas exibidos na mídia são focos de análise do cidadão comum e do cientista. Mas, será que essa mudança em prol de se exigir o melhor para a sociedade brasileira é moda ou necessidade? Será que houve um despertar em prol de se proporcionar o melhor a todos? Por Profª Eula D. Taveira Cabral, editora do Informativo Eletrônico SETE PONTOS, maio de 2006
Eventos científicos pautam qualidade na comunicação A comunidade científica brasileira vem se reunindo nos últimos anos em prol de uma análise mais cuidadosa sobre a mídia no Brasil. Políticas de comunicação, conteúdo, recepção, tecnologia, dentre outros temas midiáticos, vêm ganhando evidência no cenário nacional. O que é, como é feita, o que divulga, a reação do governo, dos empresários, da sociedade, as transformações da mídia, os conglomerados de comunicação, os investimentos estrangeiros, os processos de internacionalização e de regionalização da mídia brasileira causam polêmica. Pois a partir disso, passa-se a verificar a cultura, o comportamento do brasileiro e sua reação diante da realidade que é apresentada. No Estado do Rio de Janeiro, dois eventos fecharam a última semana de abril, analisando como a mídia e a comunicação vêm sendo retratadas à sociedade brasileira. O primeiro evento foi realizado na capital, criando um diálogo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) com os jornalistas e pesquisadores, analisando a qualidade da informação exibida na mídia. No evento promovido pela ANDI, verificou-se, ainda, o social na mídia, as tecnologias sociais e uma pesquisa sobre a cobertura dos direitos das crianças e adolescentes em 58 jornais e 10 revistas mais importantes do país. Além disso, dividiu-se o grupo presente em cinco equipes que, após um dia de análise, questionamentos e debates, chegaram às seguintes conclusões: a equipe um, “Tecnologias Sociais: Conceitos”, verificou que o uso das informações deve ser feito de forma integrada, ou seja, entre o pesquisador e a comunidade e que todo trabalho deve ser em prol da comunidade. A segunda equipe de jornalistas, de “Tecnologias Sociais: Processos e Resultados”, deixou claro que a tecnologia social é um processo; as fontes e movimentos sociais precisam se aproximar, pois não há um sistema de processos e resultados por quem desenvolve tecnologias sociais. A terceira, “Pobreza, Desigualdade e Desenvolvimento”, verificou que só com a efetiva participação da comunidade é possível se fazer tecnologias sociais; que as universidades devem dar retorno à sociedade, transformando as pesquisas em práticas sociais. A quarta equipe, “Políticas Públicas”, concluiu que as ONGs devem sinalizar os projetos que podem se tornar políticas públicas; os leitores gostam que a mídia informe; e que a imprensa deve se preocupar com a cobertura. Já a equipe cinco, “Enfoque na Qualidade da Notícia” verificou que é importante que haja qualidade na informação, principalmente sob o ângulo do conteúdo e das fontes, e que o jornalista tenha formação. Diante das conclusões de cada equipe, percebe-se que, apesar de muitos acharem que os jornalistas não têm compromisso com a verdade, há uma preocupação em informar de modo adequado e a favor da sociedade, uma vez que ela deve saber o que e como está acontecendo. Além disso, como pôde ser observado no Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, realizado na cidade de Campo de Goytacazes, os docentes vêm questionando o conteúdo dado em sala, a qualidade de ensino, defendida pelo Ministério da Educação, e o cenário atual da Comunicação, pois hoje é de grande relevância saber que o aluno sairá da universidade com o conhecimento que vai contribuir com a sociedade e o mercado profissional. Também vem se observando que os grandes eventos científicos, tanto nacionais quanto internacionais, começam a questionar o papel dos governos e dos empresários diante de uma mídia concentrada na mão de poucos, um negócio onde se ignora o papel dos reais donos – o povo – e se busca a qualquer preço o lucro, sendo negada às comunidades. Além disso, programas sem conteúdo e, até mesmo, “banais” que não contribuem em nada com a formação das crianças, dos jovens e dos adultos brasileiros e estrangeiros. Mídia pauta mídia Programas de baixa qualidade, desde a criação da ONG Ética na TV, vêm sendo duramente questionados por cidadãos, resultando na realização de um ranking da baixaria na TV, na análise minuciosa de cada programa por profissionais e pesquisadores, pautados em legislações da área comunicacional, e contato direto com os responsáveis e patrocinadores. O telespectador entra no site da ONG e no link “denúncias” tem a possibilidade de denunciar os programas por email ou por telefone 0800. O trabalho que vem sendo feito pela ONG Ética na TV vem ganhando respaldo e credibilidade dos brasileiros. Desde 2002 já foram mais de 28 mil denúncias. Número esse que surpreende, inclusive, diretores de programas e patrocinadores que não querem seus nomes manchados em programas criticados como “baixos” pelo público do Brasil. Diante de constatações e que existe alguém de olho na mídia, os próprios meios de comunicação passaram a pautar o concorrente, difamando e questionando o posicionamento do “outro”. E isso leva em conta desde coberturas sobre determinados fatos quanto de eventos. Em plena Copa do Mundo, os concorrentes passam a criticar a exclusividade da Globo, colocando no circo, inclusive, o ex-governador do Rio de Janeiro, Antony Garotinho, que resolveu fazer uma greve de fome por que se sentiu ofendido pela mídia, em especial, pela Rede Globo. Apesar do radicalismo do ex-governador (que já está se recuperando), percebe-se que ninguém anda disposto a “engolir” o que é pregado na mídia. Essa reviravolta
no cenário brasileiro é de fundamental importância
na melhoria da mídia brasileira.
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