Movimento dos Sem-Terra, idéia e objeto
Por Marcio Lorin, no Diário de Maringá, 13/5/2006


Há um esforço por parte da imprensa em relacionar movimentos sociais ao atraso. Não é raro assistirmos ou lermos reportagens sobre a ação de movimentos ou mobilizações sociais associados à idéia de resistência ao avanço técnico e ao progresso.

Um conceito forjado na cabeça pela repetição de centenas e milhares de notícias carregadas de ideologia que, segundo Marilena Chauí, é um mascaramento da realidade social que permite a legitimação da exploração e da dominação. Por intermédio dela, tomamos o falso por verdadeiro, o injusto por justo.

No caso das ações do MST, não é diferente. Nunca vi na mídia oficial algo sobre os mais de cem prêmios e honrarias recebidas pelo movimento, como também nunca vi, apesar de ter me esforçado, notícias sobre as 1.800 escolas de ensino fundamental, com 160 mil crianças e adolescentes, funcionando em acampamentos e assentamentos. Até mesmo em nossa cidade, grande parte da população desconhece que temos uma escola chamada Milton Santos, com programa reconhecido pelo MEC e professores (membros do MST) com pós-graduação. Ainda assim, a imagem passada pela maioria dos meios de comunicação é a de que tal movimento se trata de um grupo terrorista.

Atos de desobediência civil, praticados e apoiados pelo MST, põem em xeque a verdadeira intenção do movimento e, nesse trajeto, entram em choque com a estrutura legal, legitimadora de um determinado modus de organização da sociedade.

Em suas lutas, o MST nunca atentou contra a vida. Ao contrário das reações conservadoras que fizeram de Chico Mendes, irmã Dorothy e mais de 1.650 mortos somente nos últimos 23 anos.

O MST e outros movimentos revelam o tamanho das contradições que envolvem a questão agrária no Brasil, aliás, fruto não só de um atraso institucional, mas principalmente de uma resistência corporativa às boas novas, conseqüências de um processo de democratização. Esse processo deve ser pleno, no sentido de permitir o acesso aos meios de produção, no caso a terra. É o contrário de uma concepção minimalista de uma democracia que consiste apenas no direito às urnas, como querem as oligarquias. Tal arcaísmo se torna evidente diante do retrocesso que significou o resultado da CPMI da Terra.

Ao contrário da idéia de muitos, fundada no obscurantismo ideológico provocado pela mídia, o MST não é uma força retrógrada e sim uma contraposição ao maior símbolo de atraso do Brasil, cuja estrutura fundiária já dura 500 anos e é a espinha dorsal para o desenvolvimento de qualquer nação. Oxalá tivéssemos mais MSTs para chacoalhar o pó desse modelo cheirando a mofo.

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Marcio Lorin é arquiteto em Maringá (PR).

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