Sindicatos “buscam identidade”, diz jornalista
Por Patrícia Fagueiro, em 16/4/2006


“Quem diz que os sindicatos estão mortos, deveria acompanhar um. Por conta do neoliberalismo, os sindicatos buscam hoje uma identidade, mas não morreram”. Quem faz a afirmação é Rosângela Ribeiro Gil, jornalista que há 21 anos se dedica ao jornalismo sindical.

A experiência não só a tornou conhecedora do “mundo do trabalho” (como ela designa os movimentos sindicais), como a fez participar de momentos inesquecíveis e emocionantes.“Eu gosto da luta operária. É mais que uma profissão, é a minha causa, me vejo como parte integrante”.

Entre os momentos marcantes da carreira, a década de 80 aparece como a época das grandes greves. Rosângela participou de manifestações, inclusive em frente à porta de fábricas, fugiu da polícia, viveu momentos de tensão e acreditou, mais do que nunca, na função que desempenhava 

Ela destaca que acompanhou muitas mortes, geralmente trágicas, e precisou reportá-las. Em junho de 2003, ocorreu uma explosão na Cosipa, na Aciaria 2. O sofrimento dos familiares por causa da perda do ente querido e o sentimento dos sobreviventes estão vivos até hoje na memória da jornalista. O assunto repercutiu na Baixada Santista e como era assessora no Sindicato dos Metalúrgicos da Baixada Santista, Rosângela escreveu muito a respeito do acidente. “Alguns funcionários foram afastados por problemas psicológicos. Um deles, que viu o colega sendo atingido pelo calor de 1600º que atingiu o local de trabalho, dizia poder sentir o cheiro da pele queimada do amigo”, conta.

A respeito das greves, ela acredita serem instrumentos legítimos dos trabalhadores para a reivindicação de melhores formas de trabalho. Mas ela lamenta que atualmente os funcionários tenham medo de serem demitidos após as paralisações. “Existe hoje um exército de reserva, criado pelo neoliberalismo, há desempregados para ocupar a vaga”, acredita.

Os sindicatos não são mais os mesmos da década de 80, mas as reivindicações são antigas: redução da jornada de trabalho e, portanto, criação de novos postos, e melhoria nas condições de trabalho. Segundo estatísticas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), ocorrem 3 mil mortes por ano, causadas por más condições de trabalho. A cada duas horas, morrem três pessoas e, a cada minuto, acontecem três acidentes. “Se levarmos em consideração que estes números são do INSS e se tratam de pessoas que trabalham formalmente, a informação assusta mais ainda. Quantas mortes e acidentes não são contabilizados nos registros oficiais?”, questiona a jornalista. No próximo dia 28, será comemorado o Dia Internacional em Homenagem às Vítimas do Trabalho.

Após formar em 1985, na Universidade Católica de Santos, Rosângela foi convidada a trabalhar no Sindicato dos Urbanitários da Baixada Santista. Na época, ela não tinha experiência em assessoria de imprensa e não tinha visão sobre assuntos sindicais. Foi estae primeiro trabalho que a fez se apaixonar por jornalismo sindical, do qual nunca se desvinculou. Trabalhou no Sindicato dos Metalúrgicos, Sindicato dos Petroleiros, Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e Sindicato dos Estivadores. Durante muitos anos, trabalhou em dupla jornada, cinco horas ao dia em sindicatos diferentes.

Hoje, além de trabalhar como free-lance no Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, Rosângela é assessora de um político e escreve a coluna Debate Sindical no site Portogente. Seu próximo projeto é fazer mestrado sobre imprensa sindical e dar aulas em universidades após a especialização. Levar a experiência com os sindicatos aos futuros jornalistas? “É claro!”. Mas esta já é uma outra história.
 
 


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