Carta
distribuída amanhã no dia 17 de maio em evento no Congresso
Nacional sobre TV e Rádio digital
Brasília, 16 de maio
de 2006
Diante
da possibilidade do anúncio pelo governo federal da tecnologia a
ser adotada no processo de digitalização da televisão
no Brasil, a Frente Nacional por um Sistema Democrático de Rádio
e TV Digital, vem a público manifestar seu repúdio
à forma como tem sido conduzido o processo de escolha do padrão
pelo governo federal.
1.
É inaceitável que, em um país democrático,
as discussões acerca da TV Digital não sejam feitas de maneira
transparente, sem o devido envolvimento da sociedade civil. O privilégio
de interlocução dado a apenas alguns segmentos - notadamente
as grandes redes privadas de radiodifusão - é inadmissível,
visto que o maior interessado na digitalização do rádio
e da TV é justamente o cidadão brasileiro. O anúncio
da decisão sem a construção de um processo amplo,
transparente e participativo é uma afronta não somente ao
Estado Democrático e, caso seja confirmado, será por nós
questionado no Judiciário. Todos sabemos que o momento eleitoral
torna o ambiente pouco propício para uma tomada de decisão
que faça prevalecer o interesse público. A pressão
exercida pelos radiodifusores, multiplicada em períodos de eleição,
não pode fazer o país perder a chance histórica de
desenvolver e aprimorar a sua democracia.
2.
Objetivamente, não há qualquer razão, sob o prisma
do interesse público, que justifique “pressa” nas decisões
acerca do Sistema Brasileiro de Televisão Digital - SBTVD. A possibilidade
de sucumbir a estas pressões em troca de apoio – ou neutralidade
– durante o processo eleitoral é inaceitável para um governo
que diz partilhar dos valores que fundam as democracias modernas.
Alguns meses a mais – para que o debate seja feito com a devida propriedade
– não farão com que o país fique para trás
em relação às nações que já estão
em processo de migração de seus sistemas de radiodifusão.
Ao contrário, uma definição mais criteriosa, que conte
com a participação dos diversos setores envolvidos no processo,
fará com que o Brasil tenha reais condições de se
inserir de maneira independente em âmbito global e dará ao
país a oportunidade real de desenvolver um sistema de comunicações
que seja plural e verdadeiramente democrático. Ao contrário
do que ameaçam as emissoras, não haverá perdas econômicas
– ou de receita – de qualquer ordem para o país, se o início
da transição ocorrer em 2007. A China, por exemplo, iniciará
as transmissões digitais somente em 2008.
3.
Ainda do ponto de vista do interesse público, não existem
justificativas aceitáveis para que a escolha do padrão tecnológico
não seja precedida pelas discussões acerca do modelo de serviços
da televisão brasileira. Foi esse o caminho lógico que seguiram
Europa, Japão, EUA e China: antes, definiram como explorariam a
nova mídia e, depois, desenvolveram a tecnologia que melhor atendesse
às demandas de cada um deles. Por que, no Brasil, estamos invertendo
a ordem lógica do processo? Temos consciência de que o padrão
tecnológico não induz por completo ao modelo de serviços.
Entretanto, da forma como se anuncia a decisão do governo federal,
há o risco iminente de que a escolha do padrão tecnológico
de TV digital crie “fatos consumados”, impossibilitando que opções
fundamentais acerca do modelo de serviços sejam feitas posteriormente.
Como é
evidente, uma decisão apressada, pouco transparente, só beneficiará
quem sempre se aproveitou do Estado frágil, dependente e incapaz
de implementar um projeto de desenvolvimento que inclua os milhões
de cidadãos e cidadãs hoje excluídos do processo de
distribuição das riquezas nacionais. Se isso acontecer, desperdiçaremos
uma oportunidade histórica de implementar um projeto que democratize
a televisão brasileira, tornando-a um reflexo da pluralidade presente
em nossa sociedade.
Expostas
estas questões, resta saber se o governo federal cumprirá
com os compromissos assumidos com a nação brasileira ou sucumbirá
de forma subserviente aos interesses privados.
Frente
Nacional por um Sistema Democrático de Rádio e TV Digital
Núcleo
Piratininga
de Comunicação
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