Memória dos Trabalhadores
1º de Maio de 2006: 120 anos de luta
Um 1º de Maio diferente, ou igual ou pior do que os outros 120 Primeiros de Maio desde o longínquo 1886. Depende do ponto de vista. Por Vito Giannotti


Para os trabalhadores franceses, há muito o que comemorar. Ou melhor, algo a comemorar. A vitória dos estudantes e dos trabalhadores contra um artigo da lei de Modernização do Trabalho que o governo neoliberal queria impor é uma vitória, sim. Mas é parcial. Afinal toda a lei da chamada “modernização do trabalho” continua seguindo seu caminho. As enormes manifestações só conseguiram fazer retirar, provisoriamente, um artigo da lei. A greve dos operários, lado a lado dos estudantes, foi a maior desde 1968. Fazia tempo que a França não via mais de três milhões de manifestantes nas ruas. E a lição ficou: só com luta se consegue vitórias.

Neste 1º de Maio, então, os trabalhadores franceses têm o que comemorar: uma vitória contra as forças do neoliberalismo que pareciam invencíveis, eternas, definitivas. Uma vitória que forçou as forças paralisadas das centrais sindicais e dos partidos a correr atrás dos acontecimentos. Uma vitória que mostrou que os mártires de Chicago de 1886 não lutaram e não morreram em vão. Sua lição ficou.

A América Latina comemora

Para muito trabalhadores da América Latina, também este 1º de Maio terá o que comemorar. Na Venezuela, o povo e os trabalhadores em especial poderão comemorar mais um ano de avanços sociais e organizativos. Um ano em que a saúde, a escola, a comunicação alternativa das classes populares avançaram enormemente.

Na Bolívia, pela primeira vez os índios, legítimos donos daquela terra, podem andar de cabeça erguida e sonhar em ser reconhecidos como gente, como donos do seu futuro. E assim, em vários outros países da nossa América Latina, as massas populares estão em situação mais favorável do que há uma década atrás. As manifestações do 1º de Maio terão um sentido diferente, este ano, seja para os mineiros da Bolívia, como para os trabalhadores da Argentina, da Venezuela e do Peru.

Uma década atrás, o continente jazia debaixo das botas incontestes do imperialismo norte-americano. Hoje, é possível pensar num outro futuro.

No Brasil

No nosso Brasil, já tivemos 1º de Maio bem mais animados, nos últimos 25 anos. O de 2006 não é dos mais felizes. Poucas categorias tiveram conquistas de relevo nestes anos. Poucas grandes lutas e mobilizações foram realizadas pela classe trabalhadora de uns tempos pra cá. Estiveram muito longe dos 3 milhões da França. As comemorações deste 1º de Maio vão refletir este clima. Em muitas cidades e capitais haverá dificuldade em perceber que este dia seria e deveria ser um dia de luta, de manifestações e de continuação dos 120 anos daquele 1º de maio de Chicago.

Mas, mesmo no nosso País, há quem tenha o que comemorar. Os trabalhadores rurais sem terra, organizados no MST, estão aí para nos lembrar a mesma lição dos mártires de Chicago, e dos trabalhadores e estudantes franceses do mês passado. A lição é a mesma: quem luta pode vencer. Sem luta, certamente não haverá vitórias.

A batalha pelas 8 horas dos trabalhadores de Chicago não foi vitoriosa. Custou a vida de mais de cem trabalhadores na repressão policial daquele dia e a condenação à morte de cinco líderes. E as 8 horas? Só começaram a ser conquistadas quarenta anos mais tarde. De 1886 a 1919, quando, por medo da Revolução Russa, os vários paises começaram a ceder as 8 horas. Em todo 1º de Maio houve greves, manifestações, barricadas, piquetes e mortes de operários.

Após quarenta anos o começo da vitória. Uma vitória que teve um custo muito alto, como as do MST de hoje.

A lição fica. Há quem teime em aplicá-la. Os estudantes e os trabalhadores da França, os índios da Bolívia e os povos latino-americanos, em luta, nos apontam o caminho. O MST já está na estrada. É só seguir adiante na longa estrada dos mártires de Chicago. É possível vencer... se lutarmos. Este é o sentido deste e de todo 1º de Maio.
 

__________________________
Texto publicado em maio de 2006. Vito Giannotti é escritor e coordenador do NPC.

Núcleo Piratininga de ComunicaçãoVoltar