Jornalismo
que toma partido
Por José Reinaldo Marques, para o jornal da ABI, março de 2006
— Não há nada mais ideologizado e, conseqüentemente, editorializado, do que a Veja. Esta revista é um panfleto da direita conservadora do País, pois defende sua visão de mundo, escondendo fatos e criminalizando os movimentos sociais ao gosto de sua ideologia — diz Giannotti. Já a imprensa sindical, segundo ele, é porta-voz dos assalariados, desempregados e excluídos: — Esse é o lado da esquerda, que não pode repetir o comportamento da direita. O jornalismo sindical deve dizer claramente qual é a sua posição, mas fazer isso com fatos, dados, entrevistas. Do contrário, cairá no discurso vazio, no panfleto.
— Hoje, o grande problema neste mercado é que geralmente os profissionais são escolhidos por apadrinhamento político. Sou um caso raro na imprensa sindical: trabalho para uma entidade dirigida pela articulação do PT e não sou petista. Aliás, sou incompreendido por minhas convicções ideológicas. Alguns petistas do sindicato torcem o nariz para mim e já disseram publicamente que não aceitam o fato de o editor-chefe não ser um membro do partido. O próprio Vasconcellos destaca o que considera uma contradição em sua situação profissional: — Fui contratado por meio de uma seleção feita por uma empresa renomada de Recursos Humanos, mas ainda assim as pessoas sentem-se incomodadas devido às minhas convicções políticas antagônicas e à crítica que faço ao governo Lula. Acho que é o velho ranço stalinista. Às vezes a esquerda brasileira parece sofrer da “síndrome da teoria conspiratória” e ainda se sente desconfortável diante das diferenças, especialmente de quem não abre mão de sua singularidade e suas convicções.
— Afinal, ele toma partido de um lado, no caso, o dos trabalhadores. É um jornalismo especializado, tem um forte viés econômico, e é preciso entender como funciona a atividade à qual a categoria profissional está ligada. Como as reivindicações e demandas são, em sua maioria, econômicas, o jornalista tem que entender de economia e legislação trabalhista e se manter atualizado nos temas. E como a mídia sindical também tem forte carga política, é preciso entender o funcionamento do Estado e a atividade político-partidária. Nesse contexto, segundo Rosa, o Jornal do Sinttel, lançado há 18 anos, é uma ferramenta importante nas relações entre patrões e funcionários das empresas de telecomunicação: — Ele funciona como um poderoso instrumento de pressão e é o principal porta-voz das reivindicações dos trabalhadores. Há um certo temor nas empresas sobre a cobertura das negociações nas campanhas salariais, por exemplo.
— Não estabelecemos qualquer tipo de censura. Trabalhadores, sindicalizados ou não, também podem escrever para criticar a ação da direção do sindicato. Só não publicamos ofensas a ninguém. Já aconteceu algumas vezes e o resultado sempre foi desastroso. O Jornal do Sinttel tem um formato que Rosa Leal chama de “tablóide encorpado”, duas páginas e uma tiragem fixa semanal de 12 mil exemplares: — Em dezembro do ano passado, promovemos uma exposição para comemorar a edição nº 1.000, uma marca histórica em se tratando de jornalismo sindical. Poucos sindicatos conseguiram manter um veículo por 18 anos consecutivos, ainda mais que hoje seja o site a maior fonte de informação para o trabalhador.
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